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Padre Bruno Sechi: após 2 anos da sua partida, legado de amor e caridade se mantêm vivos

O sacerdote é reconhecido pelas suas obras de caridade e pela fundação do Movimento República de Emaús

Gabriel Pires
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Com uma longa caminhada de doação às causas humanitárias, o padre Bruno Sechi (1939-2020) dedicou mais de 50 anos da vida dele em prol de famílias e crianças que viviam em situação de vulnerabilidade social. A memória dele ainda se mantém viva no coração daqueles que puderam conviver e ser atendidos pelas inúmeras obras de amparo social por ele mobilizadas. Em memória a trajetória única, o último domingo (29) foi marcado pelos dois anos de falecimento do sacerdote. A data foi lembrada com uma missa como forma de rememorar o legado deixado pelo ativista social e religioso.

O começo da caminhada de solidariedade

Apesar de ter dedicado sua vida em prol das causas sociais no Pará, Sechi nasceu em Sardenha, na Itália. A vida religiosa foi presença marcante na vida dele. Aos 11 anos de idade, ingressou no Instituto Salesiano de Santu Lussurgiu, pertencente à Inspetoria Romana. 

Anos mais tarde, a caminhada missionária se fez presente na sua vida, fazendo com que chegasse até o Brasil, em meio a ditadura militar, no ano de 1964. Foi somente em Belém que, ao ter contato com as mazelas sociais na cidade, Bruno mobilizou esforços para transformar essa realidade. 

Partindo disso, o ano de 1970 ficou marcado como o início do Movimento República de Emaús, que, ao longo dos anos, foi local de oportunidade para crianças e adolescentes da periferia. Inicialmente, o projeto surgiu como Movimento da República do Pequeno Vendedor, com o intuito de retirar das ruas crianças que buscavam por meio da venda ambulante uma forma de sobreviver. Em 1980 criou-se a Cidade de Emaús, no bairro de Bengui, em Belém.

O empenho nas causas sociais foi além. Bruno Sechi foi um dos idealizadores do Estatuto das Crianças e Adolescentes (ECA), reforçando a sua luta com a causa. Na Terra Firme, o padre ajudou a fundar a Caravana da Paz, iniciativa que surgiu para combater a violência urbana no bairro e ganhou repercussão nacional. Unindo diversas crenças religiosas, a caravana foi desenvolvida em parceria com igrejas protestantes junto à igreja católica. A atuação do ativista cristão, também, foi essencial para a criação da Comissão Justiça e Paz, um instrumento que atuou no combate a violência e promoveu formação cidadã.  

Conviver com Bruno Sechi foi uma dádiva

A simpatia, o bom humor e o carisma sem igual eram marcas registradas de Padre Bruno. Bastava apenas um único contato para ser agraciado com a simpatia dele. Sempre acolhedor, ele não deixava ninguém de lado. Era uma pessoa misericordiosa, da paz e do diálogo, conforme relata algumas das pessoas que tiveram contato com ele. Dentre os agraciados com a dádiva de conviver com o padre, estão os próprios colaboradores do Movimento de Emaús e amigos próximos do religioso.

Com grandes recordações de Padre Bruno, Cleice Maciel, coordenadora executiva do Movimento de Emaús e amiga de Sechi, relata que o conheceu na adolescência, quando fazia parte da Pastoral da Juventude, no bairro da Terra Firme, em 1999, Na época, foi realizada a Grande Coleta de Emaús. com o intuito de recolher a doação de diversos objetos para os jovens beneficiados pelo movimento. 

Cleice relata que, junto aos demais jovens participantes, todos foram tomados pelo carisma que o padre esbanjava. Foi então que começaram a segui-lo até participar das atividades no movimento, que, na época, ficava localizado na Travessa Padre Eutíquio. 

“Quando ele foi pra Terra Firme, nós começamos a ouvir suas ideias de justiça social, protagonismo juvenil, solidariedade e direitos humanos. Ficávamos encantados com aquela figura franzina que nos envolvia e nos fazia sonhar com um mundo melhor pra juventude da periferia. Desde aí, ele começou a fazer parte da minha vida e de outros amigos”, comentou ela.

Francisco Batista, também foi amigo e colaborador pessoal do religioso, e pode conviver desde a sua juventude até os últimos momentos de vida do padre. Além do vínculo pessoal, Francisco ajudou em diversos projetos, como trabalhos paroquiais nos anos 2000, além da criação da Comissão Arquidiocesana Justiça e Paz, em 2005 até a apresentação do programa Pensando Bem, na TV Nazaré. Dentre as suas vivências com o padre, ele relembra o período em que morou no Emaús.

“Uma convivência que enriqueceu minha vida pessoal e militante, pois pude trocar muitas ideias e testemunhar o ser humano incrível que tive a oportunidade de conviver de perto”, contou.

Ainda segundo Francisco, Bruno era ”admirado por toda uma diversidade de pessoas que reconheciam nele uma figura de um verdadeiro discípulo desse Cristo libertador aqui na terra, aquele que foi um proclamador da esperança”. Para ele, que ainda segue como voluntário do Movimento de Emaús, seus passos possuem grande influência do que aprendeu com amigo e parceiro.

“Todas as ações que estou envolvido tem grandes influências do padre Bruno e espero seguir como alguém que pode contribuir, junto com outras companheiras e companheiros, na construção de um mundo mais justo, fraterno e solidário”, explicou Francisco. 

O Movimento de Emaús é parte do legado deixado por padre Bruno

Hoje, o Movimento República de Emaús continua sua missão no atendimento de crianças e adolescentes, garantindo a promoção e defesa de direitos. Suas frentes de atuação estão consolidadas com a República do Pequeno Vendedor, a Campanha de Emaús, o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente e o Centro de Promoção do Trabalhador. Esse trabalho é concretizado com atividades de arte e cultura, esporte e formação profissional.

“Nós, do Emaús, continuamos ou pelo menos tentamos cultivar os princípios dos fundadores da instituição. Em 51 anos de existência e resistência, muita gente passou e contribuiu com a história do Emaús, muita coisa já se consolidou. Recebemos ensinamentos e tivemos a convivência com o Padre Bruno, além do acesso a muitos documentos norteadores e cartas e reflexões escritas pelo próprio padre. Ele gostava de escrever e registrar suas reflexões a respeito das suas percepções sobre os rumos do Emaús de acordo com a conjuntura política do momento, reflexões visionárias e muito atuais”, destacou a coordenadora do Movimento.

Nos últimos anos de vida do sacerdote, ainda que ele não estivesse atuando diretamente na gestão do projeto, o qual foi fundador, a sua presença ainda era constante com presente os aconselhamentos e direcionamentos prestados a todos os membros de Emaús.

Em 29 de maio de 2020, padre Bruno Sechi faleceu aos 80 anos de idade. Segundo amigos mais próximos e familiares, o padre foi encontrado desacordado dentro de casa, levado para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas não resistiu.

Apesar da saudade deixada, a dor da perda se transformou na ânsia de se inspirar nele para fazer do mundo um lugar melhor. Basta apenas que não percamos a esperança, como ele fazia questão de lembrar em suas diversas falas. Sechi vive no coração de cada um daqueles que mantêm as suas ideias vivas. 

“Em nenhum momento pensamos em desistir. Pelo contrário, manter o Emaús vivo é  manter parte da memória e do legado do padre Bruno. A vida dele não pode ser em vão. A luta pela garantia dos direitos já conquistados precisa continuar. Temos a certeza de que é isso que ele espera de nós. Ainda me surpreendo com a dimensão do trabalho dele e a transformação que ele causou na vida das pessoas”, finalizou Cleice.

Bruno Sechi, da vida para a história

Os feitos de Bruno Sechi atingiram milhares de pessoas no decorrer de toda a sua vida. Hoje, o nome dele é eternizado em premiações, semanas comemorativas e nome de avenidas.

Em tributo à memória do defensor de causas de solidariedade, um projeto de autoria do deputado Nilton Neves (PSL) instituiu a Semana Padre Bruno Sechi, que foi sancionada em 2021. Já neste ano de 2022, a antiga Rua Yamada, no bairro do Bengui, em Belém, passou a se chamar Avenida Padre Bruno Sechi.

Outro projeto em memória do fundador do Emaús foi a medalha Padre Bruno Sechi, instituída pelo Conselho Estadual de Segurança Pública (Consep). A honraria é destinada a pessoas engajadas em ações de defesa dos direitos à vida.

(Gabriel Pires, estagiário sob a supervisão do coordenador do Núcleo de Atualidades, João Thiago Dias)

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