CONTINUE EM OLIBERAL.COM
X

Os impactos da hiperconexão e os desafios pós-proibição dos celulares nas escolas

No Brasil, o debate se intensifica em meio à recente lei que proíbe o uso de celulares em salas de aula em várias redes de ensino

Bruna Lima

A entrevista com o psicólogo social norte-americano Jonathan Haidt, autor do best-seller “A Geração Ansiosa”, reverberou em todo o país após ser destaque no Fantástico no último domingo. Segundo ele, a infância hiperconectada tem sido responsável por um crescimento alarmante de casos de ansiedade, depressão e outros transtornos emocionais em crianças e adolescentes.

No Brasil, o debate se intensifica em meio à recente lei que proíbe o uso de celulares em salas de aula em várias redes de ensino. A medida, defendida por especialistas, surge como um passo importante, mas está longe de ser suficiente para enfrentar um problema que começa bem antes de os alunos chegarem à escola.

A pedagoga e psicóloga Elayne Nazaré de Souza Oliveira observa no ambiente escolar o reflexo direto dessa hiperconexão. “Era conflito atrás de conflito. Fotos tiradas sem consentimento, bullying virtual, alunos dispersos. Desde a proibição, o ambiente mudou. Eles conversam mais, interagem, participam da aula. Voltaram a ser adolescentes de verdade”, relata.

Ela não está sozinha nessa percepção. A psicóloga Flávia Araújo explica que limitar ou proibir o uso dos celulares na escola, por si só, melhora o foco, a concentração e reduz distrações. “Mas isso só funciona se vier acompanhado de uma proposta pedagógica consistente e, principalmente, com o apoio das famílias”, alerta.

Se na escola a ausência dos celulares já mostra efeitos, em casa o desafio é ainda maior. A farmacêutica Gisele Gonçalves é mãe de uma menina de quatro anos e decidiu, desde o nascimento, restringir ao máximo o uso de telas. “Até os dois anos, ela não teve contato nenhum, só TV com desenhos muito supervisionados. E, até hoje, ela não tem acesso a celular, tablet ou notebook. Prefiro oferecer outro tipo de estímulo. Na nossa casa ela pinta, anda de skate, brinca muito. Ela é uma criança cheia de energia e livre”, conta.

Gisele admite que manter essa escolha exige tempo e disposição. “Não é fácil. Precisa se dedicar. Mas quando decidi ser mãe, também escolhi que ia me organizar para estar presente, brincar, estimular. E converso muito com ela, explico que a tela não faz bem, que pode prejudicar a cabeça e o coração. E ela repete isso para os primos e os colegas”, relata.

image Giselle Gonçalves

Sinal de alerta

Elayne conta que nunca viu tantos casos de crianças, inclusive na educação infantil, apresentando sintomas claros de ansiedade. “Crianças que choram sem motivo aparente, sentem dores, taquicardia, ficam introspectivas ou querem, o tempo todo, voltar para casa”, explica.

Esses sinais nem sempre são facilmente verbalizados. Na maioria das vezes, os indícios aparecem no comportamento. “Muitos não conseguem expressar que estão ansiosos, mas mostram por meio de tristeza, irritação, isolamento ou até crises de choro”, completa.

A psicóloga Flávia Araújo reforça que a ansiedade é alimentada, entre outros fatores, pela exposição excessiva às redes sociais e pelo excesso de estímulos digitais. “A comparação constante, o imediatismo e a falta de experiências no mundo real geram um estado permanente de tensão. As crianças estão perdendo oportunidades fundamentais de desenvolver habilidades emocionais”, afirma.

O caminho não é apenas proibir, mas orientar, criar uma rotina estruturada e, principalmente, fortalecer os vínculos familiares. “Criança precisa brincar, se frustrar, se mover. E isso exige que o adulto esteja presente, oferecendo alternativas e, claro, sendo exemplo”, explica Flávia.

Ela destaca ainda as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria: evitar totalmente telas até os 2 anos; de 2 a 5 anos, no máximo 1 hora por dia, sempre com supervisão; de 6 a 10 anos, até 2 horas diárias, com pausas e também com supervisão; acima de 10 anos, uso moderado, equilibrado com sono, atividades físicas, estudo e vida social offline.

A retirada dos celulares das salas de aula abre uma janela de oportunidade, mas também impõe um dever para escolas e famílias: preencher esse vazio digital com mais interação, mais diálogo, mais experiências concretas.

“A proibição é só o começo. Ela precisa ser acompanhada de uma mudança na cultura escolar e familiar. Não adianta tirar o celular na escola e deixar livre em casa. É preciso que todos estejam engajados”, afirma Elayne.

Gisele, enquanto mãe, tem certeza de que vale o esforço. “Dá trabalho, sim. Mas eu prefiro limpar as paredes que minha filha rabisca do que apagar um problema emocional no futuro”, reflete.

image

Alunos ansiosos costumam apresentar:

-Dificuldade de concentração;

-Medo excessivo de errar ou de serem julgados;

-Procrastinação;

-Irritabilidade ou agitação;

-Queixas físicas (dor de cabeça, dor de barriga);

-Baixa autoestima;

-Crises de choro ou pânico em avaliações;

Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞
Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Belém
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM BELÉM

MAIS LIDAS EM BELÉM