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No Dia da Consciência Negra, marcha da periferia leva pauta antirracista às ruas da Terra Firme

Segundo a organização, o ato busca destacar o racismo ambiental e protagonismo negro em meio à COP 30, que segue até sexta-feira (21), na capital paraense

Dilson Pimentel
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Com o lema “Pelo bem viver da periferia, pelo fim da violência policial e do racismo”, a Marcha da Periferia é realizada, na manhã desta quinta-feira (20), Dia da Consciência Negra, no bairro da Terra Firme. O ato busca destacar o racismo ambiental e protagonismo negro em meio à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que segue até esta sexta-feira (21). O movimento surgiu do hip-hop, a partir do Maranhão, como expressão das vozes silenciadas das quebradas, favelas e periferias. 

A jornalista e educadora social Wellingta Macêdo, militante do Movimento Nacional Quilombo, Raça e Classe, ressaltou a importância da Marcha da Periferia em um momento em que ocorre a COP 30. Segundo ela, a edição deste ano ocorre dentro de uma conjuntura marcada pelo debate internacional sobre mudanças climáticas, que coloca a capital paraense no centro das atenções globais.

“Belém como a capital do mundo, por ser a sede da COP 30, chama a atenção. A Amazônia chama os olhos do mundo para essa região que historicamente é discriminada, oprimida”, afirmou. Para Wellingta, trata-se de uma região estereotipada e estigmatizada, marcada pela presença negra. “Hoje, os nossos ancestrais africanos aqui também fincaram suas raízes e construíram essa região, e isso durante muito tempo foi invisibilizado”.

Problemas das periferias

Realizada em Belém desde 2013, a Marcha da Periferia sempre refletiu questões raciais combinadas aos problemas enfrentados pelas periferias. Este ano, segundo a militante, o movimento quer inserir-se de forma ainda mais incisiva na discussão sobre as mudanças climáticas. “Também queremos mostrar que quem mais sofre com o racismo ambiental, com as mudanças do clima, é a população pobre e negra periférica. Mas também queremos mostrar que a periferia tem arte, tem cultura e resiste a pesares pesados.”, disse.

Wellingta reforça que a violência não define esses territórios. “Periferia não é só violência. Inclusive, a periferia não tem violência porque criou a violência. Historicamente, nós fomos jogados para a periferia. Depois do 13 de maio, não teve nenhuma reparação para o povo que foi escravizado. Não tivemos terra, casa, reparações, e tivemos que sair do centro. Fomos jogados à margem, inclusive por isso vem a palavra marginal, de margem", pontua.

marcha da periferia

Ela explicou que, historicamente, os bairros periféricos se construíram de forma desordenada e sem políticas públicas concretas para transformá-los no que deveriam ser: espaços de educação, cultura, lazer e história. Nesse contexto, Wellingta destaca a Terra Firme como símbolo das periferias de Belém. “Ela é uma das maiores periferias da cidade, uma das mais negras. Tem artistas, trabalhadores e grupos que resistem, apesar da estigmatização de ser zona vermelha ou um dos bairros mais violentos”, ressalta.

Segundo Wellingta, a marcha tem caráter político-cultural, e a dinâmica do ato inclui intervenções políticas e apresentações artísticas ao longo do percurso. A saída foi realizada da ponte do Tucunduba, e seguiu em caminhada até a praça Olavo Bilac, área central da Terra Firme. O encerramento será marcado por uma grande roda de carimbó, “Para mostrar mais uma vez a resistência negra a partir dessa música que é o nosso principal símbolo cultural de Belém e do Pará”, destaca a ativista.

Jovem do Bengui denuncia violência contra juventude negra

O jovem Glauber Vilar, 22 anos, morador do Bengui e integrante do Movimento Juntos, destacou a importância da marcha como forma de contraponto às decisões tomadas durante a COP 30. Para ele, a mobilização é essencial para garantir que as vozes de quem vive na cidade - e sofre diretamente os impactos socioambientais - sejam ouvidas.

“Essa marcha serve para conseguir apresentar um contraponto de tudo que está sendo discutido na COP 30, porque, na prática, o espaço de decisão da COP é um espaço onde nós não estamos participando. Então não faz sentido definirem sobre a nossa vida sem a nossa presença”, enfatizou.

Segundo Glauber, ações como essa são fundamentais para propor alternativas reais, construídas a partir da vivência de quem mora na região. Ele ressalta ainda que a marcha também cumpre um papel de denúncia: “Denunciar a violência policial, denunciar o extermínio da juventude negra, fazer com que a gente consiga construir uma reforma agrária no país, porque tudo isso são maneiras de equiparar o racismo que a gente vive hoje”, pontuou.

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