Moradores denunciam cratera e obra parada após morte de operário na Pedreira, em Belém
“A população acaba pagando um preço muito alto. Está um caos”, disse o morador Nonato Rodrigues de Oliveira, de 36 anos

Moradores da Pedreira denunciam uma cratera aberta na travessa Estrela, entre rua Nova e Canal do Galo, que vem aumentado com o tempo e representa risco para motoristas, motociclistas e pedestres. Neste ponto, também há uma obra da Prefeitura de Belém, que está interditada pelo Ministério Público do Trabalho, após a morte de um trabalhador em junho deste ano. Havia uma outra cratera na travessa Estrela, mas que foi fechada após a queda de uma criança. Os moradores se queixam de poeira e lama, problemas agravados com as fortes chuvas. E pedem ajuda para as obras continuarem.
A equipe de reportagem esteve no local na quinta-feira, dia 10, e entrevistou o garçom Nonato Rodrigues de Oliveira, 36 anos, tempo em que reside na rua. “Nessa situação em que a gente se encontra aqui, infelizmente, a população acaba pagando um preço muito alto. Essa obra tem um tempo já que iniciaram. Começaram e, devido à morte de um trabalhador, infelizmente, vieram e pararam a obra. E está um caos”, disse. “Nossa rua nunca ficou dessa forma. Fizeram a obra e pararam. Vários buracos, lama, uma coisa que não era para alagar a rua, e a rua alagando ainda mais, porque não tem para onde escorrer a água”, afirmou.
Nonato lembrou sobre o começo das obras. “Eles iam botando a tubulação e fechando. Só que a obra parou nesse canto aqui. Botaram os tubos e parou. Tem um monte de terra acumulada, lama, buraco. Deixaram um ferro ali, que não sei de onde veio, as crianças ficam em cima (desse ferro) e pode até causar um acidente sério, pois muitas crianças ficam nessa rua. Situação muito ruim para nós que moramos aqui na (travessa) Estrela”, contou.
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Ainda segundo o garçom, as ruas estão praticamente intrafegáveis. “Os carros não conseguem entrar, é um carro esbarrando no outro. A gente só queria que resolvesse o nosso problema aqui. Não dá para ficar do jeito que está. A gente pede ajuda para a prefeitura e para os órgãos competentes para resolver esse problema. A gente não aguenta mais essa situação”, desabafou.
O servidor público Mequias Neves Teixeira, 72, mora na rua há 62 anos. Quando enche a rua, tu sabes como é que é. Quando chove, tem lama e a água invade as casas. Fica difícil”, contou. “Às vezes, passa dois ou três dias sem recolher o lixo. Junta rato e mosca e isso faz mal pra saúde da gente. A criançada que fica descalça na rua pisa nessa água imunda e em cocô de rato. Se der uma chuvada aqui, o negócio fica complicado”, afirmou. Mequias contou que, por causa da paralisação das obras, a frente da casa dele está praticamente interditada, o que dificulta o seu direito de ir e vir todos os dias. “Eu espero que as obras continuem. Tá parado e atrapalhou tudo”, completou.
Morte do trabalhador
O acidente de trabalho que resultou na morte de João Maria Ramalho, de 44 anos, ocorreu na tarde de 13 de junho, enquanto ele trabalhava em uma obra na travessa Estrela, entre a rua Nova e o Canal do Galo, em Belém. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.
Segundo informações preliminares fornecidas por testemunhas aos órgãos competentes, João caiu em um barranco e ficou soterrado em meio aos tubos de concreto. Em nota oficial, divulgada no mesmo dia do acidente, a Prefeitura de Belém lamentou a morte do trabalhador. De acordo com a administração municipal, ele era funcionário de uma empresa terceirizada responsável pela execução da obra no local.
Ainda segundo a prefeitura, “o funcionário veio a óbito após cair em um buraco e ser atingido por um desmoronamento de terra na travessa Estrela, entre rua Nova e Canal do Galo”.
O que diz o MPT
Após denúncia, o Ministério Público do Trabalho no Pará e Amapá (MPT PA-AP) instaurou inquérito civil para apurar o fato. Empresa e prefeitura de Belém foram notificadas para que se manifestem sobre o acidente ocorrido com o trabalhador, providências adotadas e para que apresentem a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), relatório de investigação e análise do acidente e demais documentos que julgarem pertinentes.
A empresa já apresentou informações e documentos que foram encaminhados para análise do setor pericial em Engenharia de Segurança do Trabalho do MPT. O município ainda não se manifestou.
O que diz a prefeitura
Nesta quinta-feira, dia 10, e também em nota, a Prefeitura de Belém informou que, desde a fatalidade que resultou na morte acidental de um colaborador da empresa terceirizada que presta serviço no local, tem feito apurações internas para entender e aumentar os padrões de qualidade exigidos das terceirizadas. “A fim de prestar todos os esclarecimentos necessários, e por solicitação do Ministério Público do Trabalho, a administração municipal interrompeu temporariamente os serviços até que todas as dúvidas sejam esclarecidas e que todos documentos necessários sejam enviados aos órgãos competentes”, afirmou.
Auditores fiscais do trabalho (MTE) inspecionaram a obra esta semana. O órgão municiará o MPT com mais informações para dar seguimento à investigação e adoção de medidas cabíveis.
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