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Estudantes com mais de 50 anos buscam sonho da graduação em cursinho de Belém

Procura pela primeira turma "50 Mais", do Projeto Universidade Aberta (PUA) da UFPA, superou as expectativas

Vito Gemaque

A necessidade de gerar renda para sustentar a família, a falta de oportunidades ou a dificuldade de cursar uma graduação afastam muitas pessoas dos estudos e do sonho de conquistar um diploma universitário. Após superar diversos desafios da vida, como a criação dos filhos e o sustento da casa, o retorno às salas de aula e a busca pelo ensino superior têm se tornado uma meta para muitas pessoas com mais de 50 anos, como os estudantes do Projeto de Extensão Universidade Aberta (PUA), da turma "50 Mais". Eles encontram no estudo uma nova esperança.

Um desses estudantes é o motorista aposentado José Maria Damasceno, de 58 anos, que sonha em cursar Direito ou Engenharia Mecânica. Todas as manhãs de segunda e sexta-feira, ele estuda português e matemática para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), na Universidade Federal do Pará (UFPA). Nos dias de aula, José enfrenta uma viagem de 1h10 de Marituba até o campus Guamá da UFPA, mas nada o desanima.

“Vim como quem não queria nada, e isso abriu um leque, me deu vontade, me deu fome de cultura. Esse projeto é muito lindo! Estava com um problema encaminhando para uma depressão e já estou bem melhor, graças a Deus e graças a esse projeto. Isso aqui é a verdadeira vitamina para os nossos ânimos. Só isso tem me tirado do comodismo”, enfatiza.

Junto com José, estão outros 44 estudantes da primeira turma do Projeto Universidade Aberta voltada exclusivamente para adultos com mais de 50 anos. O projeto oferece curso pré-vestibular gratuito para aproximadamente 200 alunos no campus básico da UFPA, sendo organizado pelo Programa de Educação Tutorial em Física (PET-FÍSICA). Após cuidar da família ao longo da vida, José quer agora cuidar de si e correr atrás de seus sonhos.

“Eu venho de uma família tradicional em que a gente tinha que trabalhar para poder ajudar os filhos. Inicialmente, a gente pensa mais nos filhos. Eu consegui formar meus filhos. Hoje, eu estou cuidando de mim. Tenho uma companheira muito linda, que me dá apoio, que é uma verdadeira estrutura, uma das grandes incentivadoras desse projeto. Isso aqui você começa e depois não quer parar”, afirma. No dia da inscrição no projeto, a esposa de José chegou a acordar às 4h da manhã para acompanhá-lo até a universidade.

Turma 50 Mais do PUA

A monitora da Turma 50 Mais do PUA, Fabrina Leão, de 34 anos, percebe que os estudantes mais velhos têm características particulares. Quem volta a estudar após os 50 anos, geralmente, está há muito tempo afastado dos livros e, por isso, apresenta um pouco mais de dificuldade para assimilar os conteúdos. No entanto, isso é compensado por uma notável dedicação, disciplina e seriedade.

“Eles têm um ritmo diferente, mas são pessoas muito interessadas. Querem mesmo aprender, dificilmente faltam às aulas e, quando faltam, justificam imediatamente. Sempre tiram dúvidas. É um pessoal bem interessado. Estamos com uma expectativa muito boa em aprovar no vestibular, por isso decidimos abrir essa turma para que tenham maior atenção dos professores”, explica.

A família é outro fator marcante entre esses estudantes. Frequentemente, filhos, esposas, irmãos e netos incentivam — e até acompanham — na busca por uma vaga no cursinho.

“Muitos vieram com a família fazer a inscrição: com filhos, filhas, irmãos e irmãs. Eu sinto que a família incentivou muito eles a virem. Logo que a gente divulgou nas redes sociais, quem vinha procurar eram os filhos. Eles diziam que vinham fazer a inscrição para a mãe ou para a avó”, relembra Fabrina.

A procura pelo projeto superou todas as expectativas. Mesmo com apenas 45 vagas disponíveis, ainda há 60 pessoas na lista de espera. A coordenação do PUA informa já ter estrutura e professores suficientes para atender uma nova turma "50 Mais". O projeto aguarda apenas a liberação de uma nova sala para expandir suas atividades.

A autônoma Idalina Bezerra, de 57 anos, teve um forte incentivo das irmãs para se inscrever no cursinho. Ela pretende cursar Ciências Contábeis ou Educação Física. Caçula de 16 irmãos, Idalina não teve a oportunidade de ingressar no ensino superior anteriormente porque se casou muito jovem. A cultura machista da época acabou afastando-a do sonho do diploma.

“O curso para mim está sendo muito bom. Estou relembrando o que estudei no passado. Estou tendo dificuldade, afinal são 40 anos parada. Fiquei muito tempo parada no tempo, até porque, quando casei, o marido disse que não era para eu continuar a estudar, e eu sou do tempo que mulher obedecia ao homem. Agora está sendo uma experiência maravilhosa. Muito bom mesmo”, assegura.

Idalina acorda às 5h da manhã para estar pontualmente às 8h na UFPA. Depois das aulas, ainda cuida da casa, trabalha com vendas, atende clientes por telefone e pratica atividades físicas como pilates e academia. Mesmo com as dificuldades para ser aprovada no Enem, ela está decidida a não desistir.

“É o primeiro ano que vou fazer o Enem e eu comecei a estudar agora, peguei o barco andando, e eu creio que não vai ser fácil, não. O que eu posso fazer? Estudar! Minha preparação é meter a cara nos livros e estudar bastante, se eu quiser alcançar meu objetivo, que é passar no Enem”, destaca.

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Belém
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