Dança auxilia memória de pacientes paraenses com Parkinson
Projeto de pesquisa e extensão avalia benefícios da dança para melhoria de vida de pacientes
A dança regional amazônica pode ser uma aliada no combate ao avanço da doença de Parkinson em pacientes paraenses. O projeto de pesquisa e extensão “Flui Parkinson”, da Universidade do Estado do Pará (Uepa), quer medir os benefícios que a atividade física da dança pode gerar na memória de pacientes relatados com o mal de Parkinson. Atualmente, 12 pessoas atendidas pelo projeto passam por diversas atividades físicas e lúdicas para melhorar a qualidade de vida.
Moradora do bairro Nazaré, Alice de Souza, de 61 anos, aponta que o projeto ajuda a ter mais alegria e a entender que a vida é maior do que qualquer doença. O projeto contribui para conviver com o Parkinson. "Me incentivo a estar aqui, gosto muito e recomendo para quem tem Parkinson. Isso tira a gente da depressão, tira a gente de casa, a gente consegue superar a doença", enfatiza.
A doença de Parkinson é a segunda condição neurodegenerativa que mais afeta a população mundial, incluindo o Brasil. Crônica e progressiva, possui sintomas motores como lentidão, tremor de segurança e instabilidade postural, podendo levar a quedas. Com o tempo, pode afetar a cognição, gerando perda de memória e demência. De acordo com o professor da Uepa, Carlos Guzzo Júnior, doutor em Ciências do Movimento Humano e coordenador do projeto, a dança será utilizada para trabalhar a parte cognitiva, a atenção e os próprios movimentos motores dos pacientes.
“A dança foi escolhida por ser uma prática artística cultural que envolve bastante a socialização das pessoas. Ela já está nas pesquisas há mais ou menos uns 20 anos, sendo descoberta principalmente com outros tipos de dança, como o tango, a dança irlandesa, o próprio samba, que têm uma característica multimodal. Ela trabalha várias áreas do cérebro ao mesmo tempo em que praticamos a atividade. Trabalha a memória, as funções executivas, a própria cognição. Esse é um dos objetivos de nossa pesquisa: verificar se essa dança é capaz de fazer com que o O comprometimento cognitivo que essas pessoas podem adquirir ao longo do tempo se estagne, preservando a cognição por mais tempo”, destaca.
Antes dos sintomas mais conhecidos, como os tremores, os pacientes podem apresentar outros sinais não motores, como constipação, perda de olfato e paladar, além de ansiedade. Guzzo Júnior aponta que um grande problema do diagnóstico é que a doença geralmente é descoberta em estágio avançado. "Antigamente, era muito comprovado que a doença de Parkinson era uma doença do envelhecimento. Mas hoje as pesquisas já mostram que temos pessoas a partir dos 30 e 40 anos com a doença, e isso se deve a vários outros fatores, porque ela não tem uma causa específica", detalha.
As aulas de 50 minutos são realizadas duas vezes por semana, com o acompanhamento de um aluno de Educação Física para cada paciente. O atendimento ocorre na antiga Escola Superior de Educação Física, no Campus III da Uepa, localizada em João Paulo II. O estudo dos pesquisadores avaliará a cognição, sintomas depressivos, ansiedade e aspectos motores da doença.
A estudante de Educação Física, Layza Menezes, de 22 anos, no último semestre do curso, aproveitará o acompanhamento dos pacientes para desenvolver seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC).
"Fico muito feliz a cada aula. Venho superanimada para passar para eles todo esse acervo que eu tenho e, com certeza, esse é o público que eu escolho para trabalhar. Na verdade é uma pesquisa que me deixa muito feliz em chegar aqui e ver que eles estão felizes com a forma que a gente os trata", afirma. “É isso que eu quero para a minha vida enquanto professora de Educação Física”, complementa.
Para Maria do Socorro da Silva, de 66 anos, moradora de Batista Campos, o projeto traz animação e alegria, melhorando a flexibilidade do corpo e da saúde. “Eu já faço os projetos da Uepa há uns 3 anos”, diz. Ela já esteve em outro projeto da área da fisioterapia. “Esse projeto Flui Parkinson é maravilhoso. Através da dança e dos exercícios a gente tem muita animação, muita alegria, e repercute muito bem na saúde. A gente percebe a musculatura mais flexível e mais alegre. Fico ansioso por chegar o dia, porque é muito bom”, agradece.
A colega Alice de Souza também notou melhorias após iniciar o atendimento. Ela não tem mais medo de andar sozinha na rua ou de tropeçar. "Melhorou muito a minha qualidade de vida. Até a segurança para andar. Não tenho mais medo de andar na rua sozinha", conta. “O meu caminhar melhorou, os gestos, a segurança de fazer algo dentro de casa”, lista.
O projeto Flui Parkinson abrirá inscrições ainda no segundo semestre para uma nova turma. Dependendo da procura, poderá haver a criação de uma turma pela manhã ou em outros dias da semana. Em outubro, os pacientes passarão por uma avaliação para medir as melhorias obtidas.
Projeto Flui Parkinson
- Público: Pessoas com Doença de Parkinson
- Contato: (91) 98269-0300 - Carlos Guzzo Júnior
- Dias de atividades: terças e quintas-feiras
- Horário: a partir das 9h
- Local: Uepa Campus III – Escola de Educação Física
- Endereço: Av. João Paulo II, 817 – Marco, Belém – PA
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