Castanheira: o bairro de uma árvore que realmente existia

Uma enorme castanheira faz parte do folclore do bairro

Victor Furtado / Redação Integrada de O Liberal
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O bairro Castanheira é um dos mais jovens de Belém. É a entrada e a saída da capital pela rodovia BR-316. É uma área marcada por trânsito intenso e comércio funcionando quase que permanentemente. Ainda assim, um território de perfil socioeconômico misto, pendendo para uma população mais pobre. É o bairro marcado por uma obra do arquiteto Oscar Niemeyer, um dos mais conceituados do país.

O nome bairro é uma lembrança de uma grande castanheira que existia na BR-316, numa área conhecida como "curva da castanheira". Era em frente ao Seminário Teológico Batista Equatorial. A árvore podia ser vista por quem passava de trem pela Estrada de Ferro de Bragança. Era um trecho de trânsito muito perigoso. Muitas pessoas morreram por lá, em meados da década de 1970.

A árvore, no entanto, ficou no passado. O turismólogo Adrielson Furtado relata que a castanheira escapou de ser cortada, graças à resistência do STBE. Havia até um imaginário sobre a árvore, conta: uma vez, uma mulher estava esperando um ônibus quando um ouriço do vegetal caiu na cabeça dela. Ela morreu. Nunca mais houve frutos. Se a castanheira lamentou o homicídio culposo, é algo para ficar no folclore do bairro.

Por conta da vibração do solo e poluição, além da falta de manutenção, a castanheira acabou morrendo. Mas a memória ficou e serviu de inspiração para o nome do segundo shopping center de Belém. Por sinal, lembra Adrielson, o shopping fez uma homenagem à memória da icônica árvore do bairro em 2011 na capa de uma agenda comemorativa. E assim a árvore também batizou o bairro como um todo.

image Imagem da castanheira em frente ao Seminário Teológico Batista Equatorial, que foi capa de uma agenda do Castanheira Shopping Center (Castanheira Shopping Center / Acervo de Adrielson Furtado)

 

O processo de formação do bairro

O doutor em Geografia e Planejamento Urbano pela Universidade do Minho, Jader Duarte Ferreira, professor da Unama, explica que o bairro surgiu a partir do desmembramento de áreas dos bairros da Marambaia, Souza e do município de Ananindeua. O bairro formou-se após a inauguração do Castanheira Shopping Center.

A área do shopping, informa o professor, pertencia ao município de Ananindeua. A mudança ocorreu após o acordo territorial entre os municípios de Belém e Ananindeua, em 1991. Mas só em 15 de dezembro de 1993 a Assembléia Legislativa do Estado do Pará (Alepa) instituiu e sancionou a lei 5.778, homologada pelo governador Jader Barbalho, que definia os novos limites políticos-administrativos e territoriais das cidades.

Por ter como principal via a BR-316, o comércio se aproveitou dessa movimentação intensa. Mas não só o comércio formal existe ali. Há muita atividade informal e uma certa vida noturna. Assim, muitos moradores do bairro convivem com a desigualdade social. Há pessoas de todas as classes morando lá.

image Pórtico Metrópole está na entrada de Belém, na BR-316, mas é constantemente foco de denúncias de abandono e insegurança (Igor Mota / Redação Integrada de O Liberal)

 

Destaques do bairro mostram evidências de abandono

Além do shopping de mesmo nome, o bairro da Castanheira tem dois locais que tinham o intuito de se tornarem cartões postais de Belém. Um deles é o Memorial da Cabanagem (a obra de Oscar Niemeyer) e o Pórtico Metrópole (obra do ex-prefeito Duciomar Costa). Pode parecer brincadeira, mas placa luminosa da Cerpa, que tinha um copo que era "enchido" também é considerado, afetivamente, como um "ponto turístico" do bairro.

Ambos estão com evidências de abandono. O Memorial da Cabanagem, com as obras viárias no complexo do Entroncamento, se tornou invisível, diferente do "Copo da Cerpa". Não há mais como parar e apreciar o monumento. Nem há como visitar o museu em memória da revolução cabana. A área se tornou abrigo de pessoas em situação de rua e pessoas dependentes químicas.

image Rampa que compõe o Memorial da Cabanagem e o "Copo da Cerpa" ao fundo, um ponto turístico "afetivo" do bairro (Igor Mota / Redação Integrada de O Liberal)

O Pórtico Metropole, uma construção entregue como "um imponente e moderno portal na entrada de Belém", por Duciomar Costa, agora teve o papel reduzido a uma passarela com constantes reclamações de sujeira e assaltos. As escadas rolantes e elevadores não funcionam.

"A relevância social, econômica, cultural e politica do bairro Castanheira está em sua localização, na entrada da capital do estado, pois apresenta uma grande diversidade de atividades econômicas ligadas principalmente ao comércio e serviços formais e informais.  Como o bairro é teoricamente novo, as atividades culturais ainda estão associadas às salas de cinema no shopping center e as casas de shows localizadas nas proximidades, como o Cidade Folia, que além dos shows, apresenta também em alguns períodos atividades circenses e em outros a Feira Agropecuária", diz o professor Jader Ferreira.

Outro aspecto cultural relevante do bairro é o religioso: Há um grande templo da Igreja Universal do Reino de Deus. E várias outras igrejas menores ou igualmente maiores, de religiões cristãs diversas. Há também concentração de terreiros de religiões de matriz africana.

"Apesar de ser a porta de entrada da capital, o bairro Castanheira precisa ser olhado com mais carinho, principalmente no que diz respeito à acessibilidade e à mobilidade urbana. Sempre dificuldade se adentrar a cidade de Belém por essa área. Se faz necessário também desenvolver um trabalho de saneamento básico, saúde e a educação, no sentido de gerar para a população condições satisfatórias de vida", conclui o professor sobre o que posicionaria o bairro num projeto de Belém do futuro.

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