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Alagamentos em Belém: chegada do inverno amazônico causa angústia a moradores da capital

Em Icoaraci, moradora gastou mais de R$ 30 mil para amenizar os estragos causados pelas águas; no Curió-Utinga, manicure já pensou em mudar de endereço

Dilson Pimentel

Com 65 canais e 14 bacias hidrográficas, Belém tem pelo menos 50 pontos críticos de alagamentos em períodos de chuvas fortes, situada agravada neste mês de dezembro, com a chegada do chamado “inverno amazônico”.

Os dados são históricos da Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan), que deixou para começar a operação inverno - tradicional ação de limpeza de canais e coleta de lixo, em preparação para as chuvas - somente quando os primeiros temporais afetaram a capital.

Mas, enquanto o inverno amazônico de fato não chega com força total, moradores de áreas alagadas já sofrem com a angústia que a falta de saneamento gera quando o tempo começa a fechar; um gatilho para o medo de ficar ilhado dentro de casa e de perder patrimônios conquistados com muito trabalho e sacrifício.

É o caso de quem reside na travessa Souza Franco, no bairro da Agulha, em Icoaraci, distrito de Belém. Quando chove a rua vira um rio, situação agravada com os buracos na via e o lixo e o entulho jogados na esquina com a rua 2 de Dezembro.

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Dona de casa suspendeu os móveis da residência por causa dos alagamentos

Para amenizar os estragos causados pelas águas, a dona de casa Edna Maria Gonçalves da Silva, 61, que reside naquele endereço há 24 anos, “suspendeu” geladeira, fogão e outros objetos na casa dela, situada às margens do canal que corta aquela via. Por causa da elevação dos eletrodomésticos, e para que possa abrir o congelador da geladeira, ela tem que subir em uma cadeira.

A dona de casa cria quatro cães. E, quando alaga, ela coloca os doguinhos em cima da cadeira para que as águas não alcancem os animais. Dona Edna disse que o marido dela, já falecido, investiu mais de R$ 30 mil em serviços na casa, para amenizar os efeitos dos alagamentos.

O marido dela faleceu há oito meses, mas a dívida ainda não foi paga. Ela chora ao falar dessa situação. Disse que tem vontade de mudar de endereço. “Não vou largar a minha casa aqui. Pra onde é que eu vou?”, pergunta.

image Para amenizar os estragos causados pelas águas, a dona de casa Edna Maria Gonçalves da Silva, 61, que reside em Icoaraci, “suspendeu” geladeira, fogão e outros objetos na casa dela, situada às margens de um canal. “Não vou largar a minha casa aqui. Pra onde é que eu vou?”, pergunta (Igor Mota/O Liberal)

"Meus armários. Tá tudo estragado pelos alagamentos", disse dona de casa

Ela disse que, desde que mora no local, tem esse alagamento”, afirmou. “Eles nunca resolvem esse canal. Eles limparam semana passada, mas não resolve”, disse. Ela contou que já perdeu freezer, geladeira, sofá. “Tudo o que eu tenho é novo. Eu comprei”, disse. A geladeira não é nova. Mas foi elevada em relação ao piso que ela tem dificuldades para alcançá-la.

O fogão foi comprado há três meses. E, mesmo elevado, a água ainda chega no forno. “Meus armários...Tá tudo estragado. Eu disse que não vou comprar. Pra que? Para água estragar”.

Há três meses comprou um freezer, pois o anterior a água estragou. “Mas, quando chove, a água chega nele”. Ela mora com o neto, de 19 anos. E, quando chove, não há como sair de casa. Enche tudo.

“É muita água, porque a água desce. Uma vez apareceu até uma cobra. Não posso construir. A prefeitura embargou, porque vão mexer, mas podiam ter me tirado aqui, como tiraram todo mundo. Eles disseram que eu não era preciso, porque não ia me ‘aluir’ (afetar)”.

A preocupação aumenta com a chegada do temido inverno amazônico. “Meu filho tá doido para que eu vá embora, alugue uma casa. A prefeitura tem que resolver a minha situação. Já gastei tanto....”, contou Edna. “Meu marido morreu devendo ao banco. Tenho medo de sair e não resolver nada, largar a minha casa, largar tudo”, contou.

Girlene Gonçalves, 38 anos, tempo em que mora na mesma rua, trabalha no ramo de confeitaria. “Sempre foi assim. Qualquer chuvazinha enche”, disse. Quando alaga, ela não tem como sair. “Eu não saio. Só meu esposo que sai para trabalhar. E nem meus filhos, de 3 e 13 anos, também não vão para o colégio”, disse. O terreno era lama e só aterrado para poder passar. Ela não sabe quanto já gastou. Não sei, mas já gastamos bastante.

image A artesã Lúcia de Oliveira Viegas, 60 anos, mostra a foto que fez durante o alagamento que estragou várias peças de cerâmicas vendidas no estabelecimento dela, na travessa Soledade (Igor Mota/O Liberal)

Travessa Soledade vai ao fundo e prejudica produção dos artesãos

Um trecho da travessa Soledade, em Icoaraci, também alaga. E, quando isso ocorre, os moradores interditam a rua, para evitar que os danos sejam maiores. É que os ônibus passam e jogam ainda mais águas nas casas e nos comércios.

Na rua há várias lojas que vendem cerâmica. E as águas causam prejuízos aos artesãos. Na chuva que ocorreu recentemente, e que alagou um trecho da Soledade, as águas causaram prejuízos aos artesãos.

As cerâmicas ficaram debaixo d ' água, como lembra Lúcia de Oliveira Viegas, 60 anos, que fez fotos das peças boiando. Artesão, ela trabalha no local há mais de 30 anos e disse que, antes, os alagamentos ocorriam quando a maré estava alta. Agora, não.

Agora, basta chover forte que alaga a rua, que vira um rio. Para amenizar os estragos causados pela chuva, ela aumentou o batente na entrada da loja. “E minha mãe paga um IPTU lascado (caro) daqui”, disse.

A manicure Joana Tobias, 56, mora há sete anos na passagem Coronel Moisés, entre as avenidas Almirante Barroso e João Paulo II, no bairro Curió-Utinga, em Belém. Ela afirmou que sempre “alaga” a via.

E haja transtorno. “Fica muito cheio de lama. Entra água no banheiro, na casa toda. Ninguém pode nem sair de casa”, contou. Ela já pensou em se mudar para outro endereço. “Mas, no momento, não tenho condições de comprar outra casa”, afirmou.

 

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