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Trabalhadores que usam bicicleta como meio de transporte enfrentam desafios na locomoção

A prática do ciclismo no dia a dia tem uma série de obstáculos, desde a falta de espaços adequados para o tráfego até o desrespeito de motoristas

Elisa Vaz

O uso da bicicleta para além do esporte tem sido adotado por cada vez mais pessoas. Quando se fala em sustentabilidade e mobilidade urbana, esse meio pode ser o mais eficaz para evitar o excesso de automóveis nas vias e, consequentemente, engarrafamentos; reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera; e ainda desafogar o orçamento, com menos custos de transporte público e particular. No entanto, a rotina dessas pessoas é difícil. Com a falta de vias para trafegar com as bicicletas e o desrespeito de motoristas, os ciclistas ficam vulneráveis e enfrentam muitos obstáculos durante a prática.

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Agente de portaria de 54 anos, Luís Alberto Soares faz o mesmo trajeto há mais de duas décadas. Ele mora no bairro da Marambaia e trabalha no Umarizal, e todos os dias pedala pelas ruas de Belém às 18h e depois às 7h da manhã, quando sai da função. Sua relação com a bicicleta começou bem cedo, quando era criança e acompanhava a mãe à feira, e acabou se tornando parte de sua vida. Hoje Luís considera esse o meio de transporte mais eficaz, rápido e econômico.

image O ciclista Luís Alberto Soares sofreu acidentes ao andar de bicicleta e teve medo de voltar a pedalar, mas ele lembra que a “bicicleta é um meio de sobrevivência, é uma necessidade”. (Thiago Gomes / O Liberal)

“Eu tenho a minha bicicleta como meio de transporte, comecei desde cedo a pedalar, e quando comecei a trabalhar passei a ir de bicicleta. Eu acho o meio transporte mais eficaz. É bom para a saúde e faz bem para a mente. Eu economizo o vale-transporte e ainda ganho tempo, porque chego no meu trabalho mais rápido do que se eu tivesse que pegar um ônibus. Quando tem ciclovia é rápido”, comenta.

Perigo

Porém, nem sempre essa é uma realidade. No trajeto que Beto, como é chamado, faz, falta espaço e respeito no trânsito. Saindo da avenida Tavares Bastos, na Marambaia, ele segue pela avenida Pedro Álvares Cabral, que não tem ciclofaixa até perto do IT Center. “É uma via que não oferece muitas condições para quem trabalha e usa a bicicleta, porque não tem ciclovia, não tem ciclofaixa, é muito complicado. Inclusive, eu já fui atropelado algumas vezes por causa disso”, conta.

O maior desafio, segundo o trabalhador, é a falta desse espaço adequado e, mesmo quando ele existe, não há respeito por parte das outras pessoas. Por exemplo, enquanto a reportagem acompanhava o trajeto de Beto, vários motoristas pararam seus carros na ciclofaixa, sendo que dois desceram dos veículos e ligaram o sinal de alerta. Outra dificuldade para Beto é em relação aos ônibus - ele conta que os motoristas passam “tirando fino”, em alta velocidade.

Desafios para ciclistas em Belém

Ao longo de 24 anos na mesma rota, poucas melhorias foram observadas pelo ciclista, tanto em extensão da malha cicloviária como em educação de trânsito. Ele faz parte do grupo Amigos do Pedal, coletivo que ensina sobre legislação de trânsito e as formas como os ciclistas podem se proteger. Após os acidentes que sofreu, Beto teve medo de voltar a pedalar, mas ele mesmo lembra que a “bicicleta é um meio de sobrevivência, é uma necessidade”.

Investimento

A adaptação da capital paraense aos usuários de bicicletas é urgente, na opinião do coordenador da União dos Coordenadores de Bike do Pará (UCB-PA), Arnaldo Villar, especialmente com a realização da 30ª edição da Conferência das Partes (COP), principal encontro das Nações Unidas sobre mudanças do clima, a COP 30, que ocorrerá em Belém em 2025.

Esse evento vai trazer milhares de ciclistas de vários lugares do Brasil e do exterior, temos que iniciar esse processo neste ano, porque tudo isso vai fortalecer a mobilidade urbana, a bicicleta faz parte disso. Será um novo paradigma para a sociedade, que vai estabelecer melhorias para o meio ambiente, sustentabilidade e desenvolvimento, sendo um legado para toda a sociedade. O ciclismo pode contribuir muito em relação a isso”, afirma.

Apesar de Belém já possuir legislações que garantem a mobilidade dos ciclistas, isso ainda não é uma realidade nos municípios vizinhos, como Ananindeua, Marituba e Benevides, segundo o coordenador. “A Região Metropolitana de Belém possui uma grande quantidade de trabalhadores ciclistas que fazem percursos de município para município, por isso é importante ter um sistema cicloviário com ciclovias e ciclofaixas para que haja maior segurança para esses trabalhadores”.

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Outra necessidade, de acordo com ele, são os chamados “pontos de apoio”, espaços que incluem banheiros, bebedouros e base mecânica para que os ciclistas possam encher e calibrar pneus, e usar ferramentas para melhorar a qualidade de suas bicicletas. Se existissem esses pontos, na opinião do coordenador da UCB-PA, haveria menos acidentes e a qualidade de vida dos trabalhadores teria uma melhora. O ideal, segundo ele, seria ter apoio de empresas locais e grandes indústrias.

Articulação

É preciso mobilizar ciclistas para que as mudanças sejam alcançadas. Por isso, a articuladora do Coletivo ParáCiclo, Daniele Queiroz, ressalta a importância dos trabalhos do grupo, que são pensados para criar soluções para as cidades. Por exemplo, o projeto Belém que Queremos usou o urbanismo tático para intervir na praça Frei Daniel e teve como desdobramento a implantação da ciclovia da passagem Guerra Passos. Há ainda o Plano das Bicicletas Douradas, um sistema de bicicletas compartilhadas na ilha de Cotijuba; e o Perifa na Pista, que tem como objetivo potencializar o uso das bicicletas por mulheres no bairro de Águas Lindas.

image Articuladora do Coletivo ParáCiclo, Daniele Queiroz diz que grupo aponta adaptações, demandas e potencialidades dentro de Belém (Divulgação / Arquivo Pessoal)
image Perifa na Pista é projeto do Coletivo ParáCiclo que tem como objetivo potencializar o uso das bicicletas por mulheres no bairro de Águas Lindas (Divulgação / Arquivo Pessoal)

 

 

 

 

 

O Coletivo ParáCiclo, como a própria Daniele diz, faz incidência política através de projetos, apontando adaptações, demandas e potencialidades dentro de Belém. “Temos a obrigação de fazer essa cobrança, porque entendemos que a mobilidade ativa faz a diferença no futuro muito próximo. E o futuro é agora. As cidades europeias que têm benefícios de mobilidade, que têm grandes estruturas, começaram a implantar essas ações 60 anos atrás. Amsterdam, que é o maior exemplo, não começou ontem. Estamos atrasados, mas há muitas possibilidades para Belém ser a capital da bicicleta”, adianta a ativista.

Em meio aos desafios enfrentados pelos trabalhadores que adotam a bicicleta como meio de transporte diário, torna-se evidente a necessidade de investimentos e adaptações nas estruturas urbanas da cidade. Com a realização da COP 30 em 2025, se torna ainda mais urgente transformar a mobilidade urbana e promover um legado positivo para a sociedade. Afinal, o futuro da mobilidade ativa em Belém depende da ação conjunta e comprometida de agentes públicos e da população.

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