Professora questiona se o sistema eleitoral brasileiro ainda garante a plena democracia, em Belém

Durante o Fórum Nacional Verdemocracia, professora alertou sobre os riscos das novas tecnologias aos pilares da democracia e defendeu o voto livre como cláusula essencial do sistema

Jéssica Nascimento
fonte

No segundo dia do Fórum Nacional Verdemocracia, realizado nesta terça-feira (16/09), em Belém (PA), Marilda Silveira, profssora do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), trouxe uma reflexão incisiva sobre os impactos das novas tecnologias no sistema eleitoral brasileiro. Durante o painel “Processo Eleitoral e Novas Tecnologias”, promovido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em parceria com o Tribunal Regional Eleitoral do Pará (TRE-PA), a professora questionou se o atual modelo democrático ainda é capaz de cumprir a promessa feita pela Constituição de 1988.

image Marilda Silveira ao lado do ministro do STF Cristiano Zanin. (Foto: Igor Mota)

Democracia em xeque: “uma máquina dentro da máquina”

Ao iniciar a fala, Marilda Silveira propôs uma metáfora provocadora sobre o sistema eleitoral. 

“A máquina do processo eleitoral é uma máquina que entrega cadeiras quando a gente coloca voto. É a convenção da nossa comunidade em cadeiras. A minha pergunta é: essa máquina ainda funciona nesse mundo novo?”, questionou.

Segundo ela, o desafio atual é compreender se o sistema político-eleitoral, desenhado há mais de três décadas, ainda dá conta de garantir os fundamentos da democracia diante da avalanche de inovações tecnológicas e seus impactos sociais e informacionais.

image (Foto: Igor Mota)

Liberdade do voto: cláusula não dita, mas essencial

Marilda lembrou que, embora a liberdade do voto não esteja explicitamente descrita como cláusula pétrea na Constituição, ela é o alicerce do sistema democrático

“A gente tinha tanta confiança na liberdade do voto, que, se vocês forem olhar lá nas cláusulas pétreas, só fala que o voto periódico é cláusula pétrea. Mas o voto periódico só faz sentido se ele for livre”, afirmou.

A professora defendeu que essa liberdade deve ser entendida como pressuposto da democracia, sobretudo em tempos em que a manipulação de informações e os usos questionáveis da inteligência artificial ameaçam a autonomia do eleitor.

VEJA MAIS

image ‘Democracia depende de espaço íntegro’, afirma ministra Estela Aranha em Belém
Durante Fórum Verdemocracia, na capital paraense, integrante do TSE destacou impactos das narrativas adversariais online na democracia.

image 'Belém é uma cidade historicamente comprometida com a temática da sustentabilidade', diz Zanin
Ministro do STF falou sobre a escolha da capital paraense para sediar o Fórum Verdemocracia, da Justiça Eleitoral, e a COP 30

Impactos, valores e a crise do discernimento

Durante sua explanação, Marilda destacou a importância de separar fato de valor — uma distinção fundamental, segundo ela, para entender como as novas tecnologias interferem na democracia

“Quando a gente fala que a chuva é boa, eu tenho um fato, que é a chuva. E eu tenho um valor, que é o ‘boa’. Esse ‘boa’ muda com o tempo. É um exemplo que eu aprendi com a professora Marilena Chauí”, disse.

Ela afirmou que o maior desafio talvez não seja apenas combater a desinformação, mas compreender como essas tecnologias moldam os valores das pessoas

“A gente está muito obcecado em tentar encontrar formas de entregar para as pessoas fatos verdadeiros. Isso é importante? É. Mas talvez seja a tarefa mais fácil. A mais difícil é lidar com os valores — porque eles formam quem nós somos e as decisões que nós tomamos”, refletiu.

Entre poder e violência: qual o remédio certo?

Ao final, Marilda fez uma distinção crucial entre os conceitos de poder e violência, alertando que as novas ferramentas digitais, se mal utilizadas, podem confundir os dois

“Poder é conseguir convencer o outro de fazer o que eu quero. Eu também consigo fazer o outro fazer o que eu quero com uma arma, mas isso não chama poder. Isso chama violência. E o remédio para lidar com o poder e o remédio para lidar com a violência são remédios diferentes”, analisou.

Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞
Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Política
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

RELACIONADAS EM POLÍTICA

MAIS LIDAS EM POLÍTICA