PC identifica 4 vítimas de violência psicológica e maus-tratos por susposta seita religiosa em Belém
Uma dessas vítimas é Flávia Cunha Costa, de 43 anos. Ela morreu no dia 19 de junho deste ano, por conta de uma desnutrição grave

Pelo menos quatro pessoas foram vítimas de violência psicológica e maus-tratos pelo casal Marcelle Débora Ferreira Araújo, de 51 anos, e Ronnyson dos Santos Alcântara, de 50, ligados ao Ministério Torre do Poder de Deus, que prometiam “cura espiritual”. Os dois foram presos nesta sexta-feira (4/7), no bairro do Guamá, em Belém, suspeitos de envolvimento na morte de Flávia Cunha Costa, 43. Segundo a Polícia Civil, Marcelle e Ronnyson abandonaram a vítima em estado crítico no Pronto Socorro do Guamá, no dia 18 de junho deste ano, onde ela morreu no dia seguinte. A família aponta que Flávia foi vítima de violência psicológica, maus-tratos e exploração financeira.
A delegada Bruna Paolucci, titular da Divisão Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), conta que as apurações do caso iniciaram em maio deste ano depois do recebimento de uma denúncia repassada ao canal 181. “No decorrer das investigações nós encontramos várias igrejas registradas nos nomes (deles), principalmente da pastora. Descobrimos que Flávia era como uma secretária dessa igreja, onde os cultos se davam dentro de um salão na casa desse casal no bairro do Guamá”, disse.
Paolucci conta que outras três pessoas – um casal e a filha deles - moraram na casa dos suspeitos por três anos, passando pelas “mesmas circunstâncias que a Flávia”, realizando trabalhos domésticos e repassando o dinheiro do trabalho para financiar as obras da igreja. Essas três vítimas conseguiram fugir da igreja.
“Com a suposta desculpa de um tratamento espiritual, eles (Marcelle e Ronnyson) iam afastando as pessoas dos familiares, dos amigos e do trabalho. Esse casal perdeu tudo o que eles tinham, tudo em prol da igreja. Tudo o que era provido às vítimas, só passava pelo casal de pastores”, destacou.
Controle psicológico
De acordo com a delegada, Marcelle controlava as vítimas, já fragilizadas, utilizando narrativas religiosas, controlando o patrimônio de todas elas através da manipulação e mantendo-as por perto. “Quando uma pessoa via que aquilo não estava normal e saia, a pastora manipulava psicologicamente essas pessoas, dizendo que a família era dominada pelo demônio e que não era coisa de Deus”, continuou.
No dia 18 do mês passado, Flávia passou mal e foi levada pelos suspeitos ao PSM do Guamá. “Eles se apresentaram apenas como vizinhos (aos profissionais de saúde) e saíram de lá quando a médica desconfiou da causa da morte da moça, que foi desnutrição grave. Infelizmente a Flávia iria ser enterrada como indigente, mas em pesquisas descobrimos (a morte dela) e ela foi enterrada dignamente”, pontuou.
Para solucionar o caso, a ajuda da família de Flávia foi importante no processo. A delegada Bruna contou que os parentes encorajaram as testemunhas nos depoimentos. Agora, a PC investiga a existência de outras possíveis vítimas e se mais alguma pessoa participou dos crimes. “A gente pede sempre para que as pessoas denunciem. Se não quiserem vir em uma unidade policial física, faça pelo canal 181. A Deam Virtual é uma ferramenta preciosa, que registra a ocorrência e concede medida protetiva à mulher”, finalizou.
O Grupo Liberal tenta contato com a defesa de Marcelle e Ronnyson.
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