Casos de bullying aumentam 175,4% em um ano no Pará
O bullying envolve diferentes formas de agressão e coloca a vítima em situação de vulnerabilidade
O número de casos de bullying no Pará cresceu 175,4% de 2023 para 2024, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (Segup). Enquanto, em 2023, foram registrados 61 casos, o número saltou para 168 em 2024. Apenas entre janeiro e setembro de 2025, o estado já contabiliza 162 ocorrências, o que indica a possibilidade de novo aumento até o fim do ano. A psicóloga clínica Ana Julia Gomes Moreira, que atua com desenvolvimento infantil, de adolescentes e adultos em Belém, explica como o bullying envolve diferentes formas de agressão e coloca a vítima em situação de vulnerabilidade.
Conforme o levantamento da Segup, também houve crescimento nos atos infracionais relacionados ao bullying, envolvendo menores de 18 anos. Os dados mostram que, em 2023, foram registrados 8 boletins e, em 2024, o número subiu para 48. Já este ano, até setembro, já são 26 ocorrências relacionadas a crianças e adolescentes.
Ana Julia Moreira pontua que o bullying é caracterizado por repetidas agressões físicas, psicológicas, intimidação e humilhação. “Geralmente são realizadas por uma pessoa ou por um grupo mobilizado por quem iniciou a violência. Também envolve constrangimentos e perseguições constantes, que colocam a vítima sob estresse e vulnerabilidade intensos”, explica a profissional.
Segundo ela, as agressões têm efeitos profundos sobre a saúde mental das vítimas. “Esse tipo de violência pode afetar a autoconfiança e a autoestima, além de causar a sensação de insegurança em relação ao mundo e às pessoas. É comum que o bullying leve a transtornos de ansiedade, depressão e até outros distúrbios psicológicos”, alerta a psicóloga.
Recentemente, um caso semelhante de constrangimento resultou em indenização judicial. O Tribunal de Justiça do Trabalho de Minas Gerais (TRT-MG) condenou uma empresa a pagar R$ 3 mil a um ex-funcionário que sofreu bullying no ambiente de trabalho por ser ruivo. Segundo o processo, o homem era alvo constante de brincadeiras ofensivas e constrangimentos públicos relacionados à sua aparência física.
Entre as provas apresentadas, constavam fotografias de inscrições ofensivas feitas por colegas em uma pedra de mármore, com apelidos pejorativos como “Vermelho” e “chupa-cabra”. Testemunhas confirmaram o tratamento desrespeitoso e o tribunal reconheceu que houve omissão da empresa. Mesmo sem que o trabalhador tivesse formalizado uma denúncia, a Justiça entendeu que o abalo moral ficou comprovado, fixando a indenização pelo dano sofrido.
Sinais
Ana Julia destaca que mudanças de comportamento podem ser sinais de que uma criança está sendo vítima de bullying. Entre eles estão alterações de humor, ansiedade, dificuldade para dormir ou se alimentar, isolamento social e queda no desempenho escolar.
“Esses sinais não devem ser ignorados. Quando o bullying não é tratado, os impactos psicológicos podem ser duradouros e afetar o desenvolvimento emocional e social até a vida adulta”, observa.
A psicóloga orienta que os pais procurem ajuda profissional assim que perceberem sinais de sofrimento. “O primeiro passo é buscar atendimento psicológico. Com o vínculo de confiança estabelecido, o psicólogo pode avaliar a gravidade dos sintomas e indicar o encaminhamento adequado, seja para apoio médico, psiquiátrico ou apenas para continuidade do acompanhamento terapêutico”, detalha.
Prevenção
Para reforçar a proteção da comunidade escolar e prevenir situações de violência, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) mantém o Programa Escola Segura, que busca fortalecer a cultura de paz em unidades de ensino em todas as regiões do estado. A iniciativa garante a presença de policiais militares durante o funcionamento das escolas, oferecendo mais tranquilidade aos estudantes, professores e famílias.
Criado em 2023, em parceria com a Polícia Militar do Pará, o programa combina ações pedagógicas, atividades de convivência e policiamento preventivo. Está presente em todas as Diretorias Regionais de Ensino (DREs). Também é realizado o acompanhamento psicológico, ferramenta essencial para a segurança e o bem-estar de todos.
Atualmente, cerca de 300 escolas da rede estadual contam com duplas de policiais militares, além do apoio das rondas dos batalhões locais. A Seduc também oferece treinamentos de combate a incêndio e primeiros socorros para servidores das escolas, reforçando o compromisso com a prevenção e o cuidado.
Denúncia
Em casos de bullying escolar, o primeiro passo é procurar a direção da escola, que tem a responsabilidade de agir para proteger a vítima e solucionar o problema. Também é possível denunciar pelo Disque 100 (Disque Direitos Humanos), serviço gratuito e anônimo disponível pelo telefone 100 ou pelo WhatsApp (61) 99611-0100. Se o caso envolver crianças ou adolescentes, o Conselho Tutelar deve ser acionado. Já em situações mais graves, como violência física ou cyberbullying, a vítima pode registrar um Boletim de Ocorrência na delegacia mais próxima ou pela Delegacia Virtual do Ministério da Justiça.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA