Regras de doação de sangue para pessoas tatuadas e com piercing podem mudar

Com o avanço da tecnologia, o intervalo entre os procedimentos e as doações podem reduzir consideravelmente

O Liberal
fonte

A decisão do Senado em proibir a discriminação de doadores de sangue, com base na orientação sexual, foi celebrada pela comunidade LGBTQIA+ e levantou outras discussões acerca de grupos que também sofrem as restrições para doar, como pessoas tatuadas ou com piercings. Isso pode estar bem próximo de ser também alterado.

Atualmente, quem realizou tatuagem, maquiagem definitiva ou micropigmentação, só pode realizar doação de sangue após 12 meses do procedimento. Para piercing, ainda depende do local onde é aplicada a peça. O tempo é o mesmo para os processos citados anteriormente, mas caso seja posto na mucosa oral ou genital, locais muito vulneráveis a infecções, a pessoa fica inapta enquanto estiver com o piercing. Depois da retirada do material, ainda precisa aguardar um ano para ser apto à doações.

Vale ressaltar que ao ser constatado a condição do local e segurança do procedimento, o prazo pode ser reduzido para seis meses. Os questionamentos que surgem são acerca da necessidade de restrições, já que todo material colhido passa por exames. Todo sangue doado é examinado, mas existem doenças, como algumas Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), que podem não ser detectadas nos primeiros meses de contágio.

VEJA MAIS

image Senado proíbe discriminação a doadores de sangue homossexuais
Projeto segue para análise dos deputados

image Ativistas LGBTQIA+ elogiam decisão do Senado sobre doação de sangue
Nesta quinta-feira (4), o Senado aprovou um projeto de Lei (PL) que proíbe a discriminação de doadores de sangue com base na orientação sexual

Por conta dessa imprecisão e por mais rigorosos que sejam os testes, existe a chamada “janela imunológica”. É o período no qual o exame ainda não é capaz de detectar uma infecção recém-corrida. Não se trata de erro do exame, mas do fato de que leva algum tempo para que material do agente infeccioso ou os anticorpos contra esse agente possam ser pesquisados e reconhecidos.

Para o médico Murilo Chermont, responsável técnico do Instituto de Hematologia e Hemoterapia de Belém (IHEBE), o período de janela imunológica já vem caindo consideravelmente conforme a evolução dos testes. "Talvez não precisemos mais aguardar 12 meses para condições como tatuagens ou piercings, por exemplo. Mas, até que a legislação federal mude, todas as inaptidões temporárias, como essas, devem ser seguidas pelos hemocentros de todo o país", explica. 

image A tatuadora Minna Silva pede mais fiscalização da atividade e revisão das restrições que considera injustas (Sidney Oliveira / O Liberal)

Prováveis mudanças são celebradas por profissionais da área

Fazer tatuagens e aplicar piercing são procedimentos seguros, mas podem ser uma porta de entrada para doenças infecciosas, como é o caso da tatuadora Minna Silva. Ela nunca doou sangue por ter se infectado com hepatite justamente enquanto estava começando a exercer a profissão. Para a profissional, falta informação acerca dos procedimentos e uma vigilância sanitária mais rígida para comprovar a qualidade dos espaços.

"Acho injustas as restrições. Há espaços regularizados e com uma preocupação constante com o material usado e o devido descarte. Sem falar da tecnologia que também modificou os materiais usados para realizar as tatuagens. Praticamente quase todos são descartáveis", opina a tatuadora.

A mesma opinião é compartilhada pelo tatuador Paulo Constantine. Para ele, há também o preconceito contra os procedimentos e não precaução por parte dos órgãos que fazem a coleta de sangue. "Muitas pessoas falam que têm vontade de se tatuar, mas por ser doador de sangue, deixa de registrar na pele alguma homenagem a um ente querido", julga.

Para quem admira a arte de tatuar e não deixa de registrar no corpo o que gosta, torce para que esse período seja realmente reduzido para que todos possam ajudar na estabilidade nos bancos de sangue dos hemocentros. O professor Elorens Rodrigues conta que tem a preocupação de se tatuar em ambientes corretos e limpos. "As restrições complicam ainda mais as pessoas que precisam de doação constante, com doenças crônicas. Ao atestar a qualidade dos estúdios, não deveria ter esse intervalo de um ano para doar sangue", considera.

Enquanto as mudanças ainda não são realizadas, o médico Murilo Chermont acredita que estes e outros pontos da legislação já poderiam ter sido revistos, diante dos testes moleculares que se dispõe hoje, em relação a um período tão dilatado de inaptidão transitória para doação.

"Os hemocentros são obrigados a seguir rigorosamente as normas do governo federal, que regula o setor de hemoterapia, sejam esses hemocentros públicos ou privados. Então, é preciso que estas sejam atualizadas, antes de mais nada. É um trabalho árduo do Ministério da Saúde, são muitos detalhes nas normas e é preciso haver muito cuidado, sempre colocando a segurança em primeiro lugar", finaliza.

image Para quem aprecia tatuagens, mas não quer deixar o espírito solidário de lado e doar sangue, a possibilidade de as regras mudarem são bem vistas (Ivan Duarte / O Liberal)

Janela imunológica é variável

A duração da janela imunológica é variável e depende do agente infeccioso, como o vírus SARS-CoV-2, causador da covid-19, hepatites virais e o vírus da imunodeficiência humana (HIV). O médico Murilo Chermont acrescenta que essa variação é de acordo com a técnica e as doenças pesquisadas.

"Exames de última geração tendem a diminuir cada vez mais essa janela imunológica, mas não se espera que seja zero. Uma pessoa pode ter se exposto a algum agente, adquirido a infecção neste minuto e nenhum teste seria capaz de detectar algo assim. Mas já se evoluiu bastante. O período de janela imunológica para HIV, por exemplo, que já foi de cerca de 3 meses quando se tinham apenas as técnicas sorológicas mais antigas, hoje caiu para cerca de 10 a 12 dias através dos testes moleculares utilizados no IHEBE", pontua o especialista. 

A importância da janela imunológica é uma etapa indispensável na segurança do candidato a doador e dos pacientes que necessitam de sangue, por isso se deve ter a máxima sinceridade em relação às respostas, ressalta o médico. É durante a avaliação feita com o profissional de saúde que é avaliado se a pessoa pode ou não prosseguir para a coleta da bolsa de sangue. 

(Karoline Caldeira, estagiária sob a supervisão de Victor Furtado, coordenador do Núcleo de Atualidades)

Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Pará
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

RELACIONADAS EM PARÁ

MAIS LIDAS EM PARÁ