Proclamação da República: historiador comenta as implicações no território paraense

Neste domingo (15), o regime republicano no Brasil completa 131 anos

João Thiago Dias
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O regime republicano do Brasil completa 131 anos neste domingo (15), tendo sido inaugurado a partir de um golpe civil-militar, em 15 de novembro de 1889. O movimento se dá à revelia do povo, a ponto de um dos contemporâneos do movimento, o jurista, político e jornalista Aristides Lobo, afirmar que “o povo assistiu a tudo bestializado, sem compreender o que na verdade se passava”. Essa é a explicação do doutor em História Jairo de Jesus, professor da Universidade do Estado do Pará (Uepa), que concedeu entrevista na Biblioteca Arthur Viana, em Belém, onde há um grande acervo sobre esta data histórica.

Ele conta que a falta de envolvimento popular se constituiu em um primeiro grande desafio para os republicanos, pois a legitimidade do novo regime, que deixava para trás a Monarquia, dependia muito desse envolvimento. Por isso, os republicanos brasileiros precisaram construir um forte ideário, recheado de símbolos – bandeira, hino, mitos – do herói Tiradentes e da origem na Inconfidência Mineira, e alegorias da República.

"Como forma de produzir identificação popular com a República e que este seria o melhor regime político para o nosso país. Essa tentativa de 'formar almas', no dizer do cientista político e historiador José Murilo de Carvalho [autor do livro 'A formação das almas: o imaginário da República no Brasil'], atravessou o tempo e permanece até o presente", comentou o professor Jairo.

image O Pará aderiu à República em 16 de novembro (Akira Onuma / O Liberal)

Regime republicano no Pará

Quando o movimento irrompeu na capital federal, já estavam instalados diversos clubes republicanos em diferentes partes do território brasileiro, inclusive no Pará. O professor da Uepa conta que a região amazônica vivia sob a euforia da riqueza gerada pela economia da borracha e também tinha adeptos da República. "A adesão ao novo regime ocorreu aqui de forma quase automática, mas não sem tensão, haja vista as revoltas do Capim e 11 de junho, analisadas por William Gaia [autor do livro 'O alvorecer da República no Pará (1886-1897)'".

A proclamação da República no Pará colocou aos representantes os mesmos desafios dos republicanos da capital federal, que seria conquistar um forte envolvimento popular com o novo regime. "Assim, todo um conjunto simbólico foi construído em Belém, nos legando uma memória da República ainda bem viva e espalhada pelas ruas principais da capital paraense que, como uma espécie de galeria imaginária, mantém muitos traços do regime instituído em 1889", pontuou Jairo.

Mudança no nome das ruas

O historiador mencionou que o espaço da cidade precisava ser rebatizado, pois, como afirma a pesquisadora Daniella Moura, “seria incômodo a um republicano convicto caminhar por uma travessa chamada de Príncipe ou por uma praça denominada D. Pedro II”. Neste sentido, no dia 18 de novembro de 1889, a Câmara Municipal, sob a presidência de Antônio Lemos, aprovou a proposta de Gentil Bittencourt, mudando os nomes das ruas Imperador e Imperatriz, para República (hoje Presidente Vargas) e 15 de Novembro, respectivamente.

"Em dezembro, Manuel Barata, que foi um dos organizadores do Partido Republicano Paraense, propôs ao Conselho Municipal a substituição do nome da Estrada de São José para 16 de Novembro, que seria a data comemorativa da adesão do Pará à República. A avenida Generalíssimo Deodoro (proclamador do novo regime) substituiu a avenida 2 de Dezembro, pois esta data era alusiva ao aniversário do imperador D. Pedro II, com a mesma finalidade, o antigo Largo da Pólvora que à época chama-se Praça D. Pedro II, passa a ter o nome de Praça da República", explicou.

Ele também cita que, paralelas à avenida Generalíssimo Deodoro, há as travessas Quintino Bocaiúva e Benjamin Constant e a rua Aristides Lobo, todas remetendo a nomes ligados ao regime republicano. "Assim, uma memória foi se sobrepondo a outra, numa disputa do novo contra o velho, o moderno contra o arcaico, sendo que a República vai aparecer sempre como o que de melhor se poderia buscar", concluiu.

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