Pará tem pelo menos mil motociclistas mortos por ano em acidentes

Estudo da Abramet indica que regiões Norte e Nordeste têm o maior índice de mortalidade do país

Eduardo Rocha / O Liberal
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Com ou sem pandemia, é imperioso que motociclistas e condutores de veículos em geral tenham o máximo de cuidado no trânsito e que políticas públicas preventivas a acidentes sejam reforçadas para se preservar vidas. Levantamento do Departamento de Trânsito do Estado (Detran) indica que de 2019 a 2020 a frota total no Pará cresceu em 5,13%. Em 2019, a frota total era de 2.118.592 veículos, com motocicletas, motonetas e ciclomotores representando 53,22%. Em 2020, a frota total foi de 2.227.350 veículos, com motocicletas, motonetas e ciclomotores representando 52,88%. O Detran destaca que "foram contabilizados 16777 acidentes envolvendo motocicletas e ciclomotores em 2019, e 14601 até 11/2020, levando a óbito 1.332 motociclistas em 2019, e 1.014 em 2020 até o mês 11".

Segundo o Departamento, as maiores causas de acidente tanto em 2019 quanto em 2020 foram: falta de atenção, perda de controle, manobras irregulares, desrespeito à preferencial e excesso de velocidade, nessa ordem.

O motociclista José Raimundo Costa, 48 anos, sabe bem os riscos de se trafegar em moto nas vias públicas. "Eu sofri um acidente em 15 de fevereiro de 2014, na Almirante Barroso com a Mauriti. Estava de moto, e o acidente se deu com um carro de passeio. Eu quebrei a bacia, sofri hemorragia interna, passei 29 dias internado e 6 meses de cama em casa. Até hoje tenho dificuldade na locomoção, mas vamos em frente", destaca. José defende maior conscientização de todos no trânsito e socorro imediato a acidentados como ações para combater situações graves no tráfego de veículos.

Esse cenário preocupante não é exclusividade do Pará. A Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) acaba de divulgar o estudo intitulado "A motocicleta no Brasil do século XXI", trazendo um panorama sobre a presença da motocicleta e indicadores de sinistros a ela associados. 

"Passei 29 dias internado e 6 meses de cama em casa", conta motociclista sobre acidente

Sobre o Pará, o estudo revela, entre outros dados, que, em 2019, de 1.386 óbitos por acidentes de trânsito no Estado, 597 deles foram com motociclistas (43,1%). Note-se que na pesquisa: "Foram estudados os óbitos de 2000 a 2018, este, o último ano com dados disponíveis. Para 2019, os dados são, ainda, considerados preliminares".

No Pará, em 2000, havia 62.013 motos licenciadas e, em 2018, 1.074.312. Em 2019, a frota total de veículos no Pará foi de 2.120.020, dos quais 1.128.561 (53,2%) de motos. O total de óbitos de motociclistas lesionados no Pará em 2000 era de 72 (10,9% do total de vítimas de acidentes de trânsito), mas, em 2017, subiu para 594 (44,1%). Em 2019, das 6.835 internações por acidentes de trânsito, 5.775 foram de motociclistas (84,5%).

No entanto, o quadro requer atenção no País como um todo.  A pesquisa da Abramet indica que o número de motociclistas no Brasil cresceu 54,3% entre 2009 e 2019, ou seja, 33.024.249 estão habilitados na categoria A, ou combinando as categorias AB, AC, AD e AE, o equivalente a 44,7% do total de portadores de Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A frota de motocicletas quase dobrou nesse período, saindo de 15 milhões de unidades em 2009 para mais de 28 milhões dez anos depois. Enquanto a frota total cresceu 239%, de 2000 a 2018, os números relativos às motos evidenciaram aumento de 531,9%. Isso aumentou o número de acidentes graves e fatais.

O estudo revela que "quanto ao comportamento dos dados de mortalidade de motociclistas nos estados brasileiros verifica-se que as taxas mais elevadas estão nas Regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste, respectivamente com 8,1, 8,4 e 7,7 óbitos de motociclistas para cada 100.000 habitantes". Uma possível explicação é que exatamente nesses locais há menos fiscalização quanto à velocidade, uso de equipamentos de segurança e maior número de pessoas dirigindo sem habilitação.

Conscientização é o caminho

Como pontua o diretor administrativo da Abramet, José Montal,  a motocicleta não é dotada de carenagem para proteção de seus ocupantes, os quais, em acidentes, tenham seus corpos atingidos diretamente, provocando lesões graves e até óbitos.  “O extraordinário aumento da frota observado nessas regiões (Norte e Nordeste), a relativa ineficácia do Estado fiscalizador, a ausência de carenagem que proteja seus ocupantes, a inexperiência de muitos de seus usuários, geralmente jovens que não se submeteram à formação adequada prevista no Código de Trânsito Brasileiro, explicam o fato de que a maioria dos motociclistas destas regiões não tenham se submetido aos trâmites legais da habilitação como condutor e, portanto, não portam a carteira nacional de habilitação (CNH)". Daí a fiscalização efetiva ser fator moderador de comportamento inadequado e tem função pedagógica para a população.

Para se reverter esse quadro tem de haver, como observa Montal, o reforço de políticas públicas em saúde e educação para o trânsito, com investimento maior na formação e conscientização do condutor e de todos os usuários da via, com ênfase na comunicação da importância da contribuição individual na construção de um trânsito cada vez mais saudável.

"Motociclistas continuam representando, ainda, mais de 30% em relação ao total de vítimas do trânsito nesse ano", aponta Abramet

As taxas de morbimortalidade por acidentes de trânsito no Brasil têm caído, de vez que, desde 2015, o número de vítimas fatais já dá sinais de declínio. "Esse mesmo “sucesso”, entretanto, não se verifica nos casos em que a vítima é motociclista (condutor ou passageiro)", atesta o estudo, indicando que dados de 2018 retratam, em vítimas fatais, há declínio no quantitativo, "mas continuam representando, ainda, mais de 30% em relação ao total de vítimas do trânsito nesse ano". Em 2019, as hospitalizações de motociclistas, por lesões decorrentes de acidentes de trânsito representaram 59,9% do total de internações para todas as vítimas do trânsito.

Como fatores de risco no trânsito são listados o estresse de motoristas, dirigir sob efeito de álcool, falar ao celular na direção do veículo, o não uso adequado de equipamentos de segurança, a sinalização deficiente de vias, falta de acostamento e a idade da frota e manutenção dos veículos.

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