Pandemia aprofunda desigualdade entre homens e mulheres durante isolamento

Confirnadas em ambiente doméstico, mulheres sofrem efeitos do isolamento social há quase um ano

Byanka Arruda

O impacto da atual pandemia do novo coronavírus na vida das mulheres tem sido debatido por estudiosas e estudiosos de diversos campos do conhecimento científico. Debruçadas sobre a nova realidade que se apresenta à população desde o ano passado, pesquisadoras aguçam o olhar para atender e alertar sobre os efeitos do isolamento social na rotina das mulheres que estão confinadas no ambiente doméstico há quase um ano, lidando com trabalho remoto, relacionamentos, criação e cuidados com filhos e tarefas domésticas.

Para a professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), a antropóloga Izabela Jatene, a crise do novo coronavírus potencializou a exploração das mulheres no ambiente familiar e escancarou violências que sempre existiram dentro dos lares, mas que não apareciam tão abertamente nos números oficiais como agora. "Várias pesquisas demonstraram o quanto cresceu o índice de violência contra as mulheres dentro de suas próprias casas na pandemia. As pessoas dizem que a casa é o lugar mais seguro. Nem sempre. Para as mulheres quase nunca é, porque é lá que está acontecendo, de maneira invisível e silenciosa, privada, os maiores tipos de violência que as mulheres sofrem. Então nesse momento existem vários dados mostrando o quanto aumentou o número de registros, sobretudo nos serviços de atendimentos como o Disque-Denúncia (180). Se antes da pandemia o Brasil já liderava os rankings mundiais de índices de feminicídio, por exemplo, imagina os dados que a gente provavelmente vai ter acesso em 2021 do que aconteceu no ano passado. Essa violência de gênero se agrava assustadoramente nesse processo, porque além de você ter as questões relativas à própria violência física, você vai ter mulheres vivenciando o tempo inteiro um ambiente de extrema masculinidade tóxica dentro de sua própria casa. Esse momento da pandemia, do isolamento propriamente dito intensificou e aprofundou muito a questão da desigualdade", explica a educadora.

Conforme destacou a professora, as crises políticas, econômicas e sanitárias, como a do novo coronavírus, em geral acabam agravando as condições de vulnerabilidade já vivenciadas pelas mulheres. "Na realidade, historicamente, em todas as crises globais, normalmente as mulheres são as mais atingidas. Desde as guerras, a idade antiga, a idade média, porque historicamente à mulher é dado o lugar da casa, do habitar, do cuidar. Então, inevitavelmente, isso não seria diferente na pandemia.É importante ressaltar que a se for parar para pensar, as mulheres já têm uma tripla jornada e ao contrário do que se imaginaria, boa parte das mulheres, quando entra no teletrabalho ou no trabalho remoto, ela acaba acumulando muito mais nessa jornada do que quando havia a possibilidade de sair para trabalhar e retornar. Acaba sendo um trabalho ininterrupto", comentou a docente. "O isolamento social afeta muito mais as mulheres em vários campos. O fato de estar em casa, com as nossas atividades, com a sobrecarga, acúmulo de funções que a gente tem, a carga mental que a gente vivencia, que na maioria das vezes é invisível porque ela é naturalizada e normalizada por conta do machismo estrutural que a gente está completamente inserida. É como se cada vez mais a gente tivesse que garantir a sobrevivência do funcionamento da casa, a sobrevivência do nosso espaço profissional que precisa continuar acontecendo e tudo tem que estar dentro do que é 100%", completa.

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