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Norte será a 4ª região do país com maior incidência de leucemia em 2023, estima INCA

A estimativa mostra que a previsão é de 790 novos diagnósticos a cada 100 mil habitantes no ano que vem; especialista explica que fatores históricos estão relacionados ao surgimento da doença

Camila Azevedo

A leucemia é o tipo de câncer considerado pelos especialistas como sendo o mais frequente em crianças e adolescentes. A estimativa do Instituto Nacional do Câncer (INCA) é que, na região Norte, a quarta do país com mais incidência de casos, 790 novos registros a cada 100 mil habitantes sejam diagnosticados em 2023. O Sudeste lidera este ranking. No Pará, a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) contabilizou que 98 pessoas na faixa etária de 0 a 19 anos foram identificadas com a doença entre janeiro e outubro de 2022. Os dados foram repassados na última sexta-feira (16).

Ao contrário do tipo de câncer que acomete adultos, a leucemia no público infantojuvenil é originada em células primitivas, as embrionárias. A doença é identificada pelo acúmulo de partículas doentes na medula óssea - local em que o sangue é fabricado nos seres humanos. A mutação genética sofrida pelos fragmentos é responsável por impedir o seu funcionamento adequado e aumentar o tempo de multiplicação, logo substituindo as células saudáveis pelas anormais cancerosas.

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A incidência na região Norte é histórica e está relacionada com o uso de inseticidas nas décadas de 1960 e 1970. A médica oncologista Alayde Vieira explica que a substância cancerígena contida no produto foi um importante fator para o cenário visto atualmente. “Por conta das arboviroses, doenças vindas de picada de mosquito, foi usado muito derivado de benzeno, querosene, para fazer os fumacês e esse composto é altamente cancerígeno, principalmente para as leucemias”, detalha a doutora. 

Porém, a alta concentração desses materiais não foi sentida de imediato na população. Os derivados do benzeno presente nos inseticidas não manifestaram efeito rápido. As próximas gerações foram atingidas. “Ele não afeta a pessoa naquele momento, mas as células que essas pessoas carregam. Então, não foram as crianças expostas naquele momento, mas foram os filhos dos filhos das crianças expostas. Décadas depois, houve o aumento na taxa de leucemia”, afirma Alayde. 

Além disso, outros motivos também são determinantes para que a leucemia seja um câncer, entre eles, causas genéticas, responsável por 3% dos casos, vírus HIV, HTLV e Epstein–Barr, junto com a exposição à radiação. “Ela é multifatorial. Por isso que mulheres gestantes não podem ser expostas a raio-x, tem o uso de certas drogas, como maconha e cocaína, durante a gestação, isso pode induzir pelas mães. Pelos pais, a ingestão de bebida alcoólica, e a exposição de derivado de benzenos, a fábricas de vela, combustíveis”, destaca.

image Alayde Vieira, médica oncopediatra, explica que a doença é identificada pelo acúmulo de partículas doentes na medula óssea - local em que o sangue é fabricado nos seres humanos (Cristino Martins / O Liberal)

 

Atenção aos sintomas pode ser determinante para o sucesso do tratamento

Quanto mais cedo a leucemia for diagnosticada, melhores chances de cura o paciente tem. Alguns sinais, como febre prolongada, dores no corpo e aumento do volume do abdômen devem ser observados. “A criança menor deixa de andar porque ela percebe que quando ela para de andar a dor alivia. Mudanças do hábito intestinal, o surgimento de ínguas, que são os linfonodos em locais que não eram para ter, as manchas roxas no corpo e essa criança deixa de ser alegre, ativa, e ela fica mais hipoativa, ou mufina”, alerta Alayde. 

Nos meninos, os pais devem ter um cuidado especial com algumas partes do corpo em que não há dores. “A gente pode ter associado ao aumento dos testículos e as mães têm que ficar olhando, porque ele é indolor e nos adolescentes podem ter uma tosse seca porque essa ínguas podem formar grande aglomerados na região torácica”, diz.

Pandemia da covid-19 pode ser novo fator para o câncer

Ainda que não haja um estudo confirmando a relação entre o câncer e a covid-19, Alayde diz que um aumento nos casos suspeitos de leucemia foi notado. “Porque a covid trouxe uma alteração, realmente, na fábrica do sangue. A gente nota que ela deixou a medula com as células alteradas e isso começou a levar ao surgimento de alterações no hemograma, que é o exame inicial para investigar a leucemia. Isso trouxe um aumento na procura de atendimento”.

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Diagnóstico estratificado é chance de melhor tratamento

A médica oncologista ressalta que a leucemia tem cura. Para isso, o diagnóstico precoce e correto, feito em um centro de referência, como o Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo (HOIOL), e sabendo qual tipo estará sendo tratado é de fundamental importância. “Tenho que saber o nome e o sobrenome dessa leucemia para eu direcionar o tratamento. O tratamento é baseado na quimioterapia, só com quimio eu consigo curar 70% das crianças. Infelizmente, restam 30% que eu perco ou porque não responderam ao tratamento, ou porque abandonam”, explica.

As vulnerabilidades socioeconômicas e um gene específico de quem é natural do Norte do Brasil são grandes entraves para que o tratamento disponível tenha o sucesso esperado. “Nossa região, infelizmente, tem um dos mais baixos IDH do país. Eu tenho condições desfavoráveis que interferem no abandono e uma coisa chamada toxicidade, são os efeitos colaterais relacionados. O gene indigena, porque somos uma população miscigenada, influência no tratamento”, finaliza Alayde. 

Quais os tipos de leucemia?

Geralmente, a diferença é entre os tipos de células atingidas

Leucemia linfóide aguda (LLA) → Mais comum em crianças, sendo cerca de 75% dos casos, com 70% de chances de cura; Surge um linfócito imaturo e danificado na medula óssea;

Leucemia mielóide aguda (LMA) → Em cerca de 60% dos adultos. É uma série de mutações genéticas nas células-tronco mieloides, que resultam na formação de blastos;

Leucemia mielóide crônica (LMC) → Mais predominante em adultos. Acontece quando a medula óssea produz células sanguíneas em excesso.

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