Na divisa com o Amazonas, preocupação com o vírus é crescente em Juruti
Moradores do município relatam situação da pandemia na cidade e apoiam o bloqueio decretado pelo governador

Ainda na segunda-feira (11), a prefeitura de Juruti, município na divisa entre o Pará e o Amazonas, no oeste do estado, solicitou ao governador o fechamento das fronteiras, para que o porto da cidade não recebesse mais navios do Amazonas.
Nas redes sociais, vídeos do porto do município viralizaram, com centenas de pessoas em embarcações sem máscaras e sem distanciamento social.
Como a cidade fica a 848km de Belém, os jurutienses possuem uma relação muito mais próxima com Parintins e Manaus.
O decreto do governador Helder Barbalho (MDB) que proibiu, nesta quinta-feira (14), a chegada de embarcações saída do Amazonas na cidade deixou muitos moradores mais aliviados.
Para Urias Braga, nascido e criado no município, é uma moeda de dois lados. "A parte negativa é que a economia da cidade depende de Manaus. Então entendo quem reclama. O positivo é que isso vai preservar a vida de muitas pessoas, que é a prioridade agora", afirma ele.
Urias está com coronavírus e recebeu o diagnóstico semana passada. Ele não está com nenhum sintoma grave.
O pai dele, porém, está intubado há três dias no Hospital Municipal da cidade, aguardando transferência para um leito de UTI em Belém, Santarém ou Itaituba.
"O clima é o mesmo do início de abril do ano passado, com aquele pânico de ser infectado. As notícias que estávamos lendo sobre a situação o Amazonas viraram as notícias daqui. O grande problema é a aglomeração nos barcos, as condições de higiene neles e o fluxo muito intenso de uma cidade para outra", avalia Braga.
Helk Lima, de 33 anos, sempre transitou entre as duas localidades, pois nasceu na cidade paraense e mora na capital amazonense.
A pandemia virou a vida dela de cabeça para baixo, já que ela, assim como o marido João Vitor Lima, de 32 anos, possui asma.
"Da primeira vez que fecharam tudo foi muito difícil, porque moro em Manaus mas sou paraense e toda minha família é de Juruti. Na época do primeiro bloqueio eu estava indo para Juruti e de surpresa tive que descer em Santarém. Não conhecia ninguém lá", conta ela.
Desde então, Helk não saiu mais de Manaus e só coloca os pés fora de casa uma vez por semana: quando vai ao supermercado fazer compras.
Ela conta que o caminho até lá é doloroso, com filas enormes em frente aos hospitais.
"Aqui a gente vê cada coisa absurda. Muita gente que não consegue vaga, gente que chega desmaiando no hospital, ou morre literalmente de falta de ar. Ver esse fluxo todo daqui pra lá me preocupava, pois sei que Juruti é muito pequena e com uma estrutura de saúde bem menor", avalia Helk.
Brelaz concorda com a medida preventiva do governo do Pará, apesar de achar que ela deveria ser tomada antes.
A mãe dela, que mora há dois anos em um barco em Juruti, sempre relata para Helk a situação do porto da cidade.
"Foi necessário, mas chegou muito tarde, considerando que não tem fiscalização suficiente. E mesmo tendo ninguém segura o povo nem de um lado nem do outro da fronteira. Minha mãe me conta que os navios vão e voltam lotados, ninguém usa máscara. É triste", diz.
Juruti tem aproximadamente 59 mil habitantes e fica a 848km da capital Belém. Em junho de 2020, a cidade entrou em lockdown por conta da taxa de letalidade do vírus que atingiu 12%, muito acima do resto do Brasil.
De acordo com a prefeitura, até às 15h15 desta quinta-feira, o município já tinha 93 óbitos por conta da covid-19 e 2.754 casos confirmados. 11 pessoas estão internadas em virtude do coronavírus.
Já o Governo do Pará enviou uma equipe para avaliar a situação do Hospital Municipal e Hospital 9 de Abril, com o objetivo de conferir as instalações para os cincos leitos de UTI que o município receberá da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa).
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