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Índios Tembé dão aos filhos a mesma educação de seus ancestrais

Formado em Química, Wendel Tembé garante: "Filhos são a coisa mais sagrada que nosso Deus nos deu"

Redação Integrada
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Nos povos indígenas, o Dia dos Pais não é uma tradição original. É fruto da universalização de conhecimentos com povos brancos. Numa aldeia do povo Tembé, a comemoração foi nesta sexta-feira (9), com um jantar. E apesar de não haver uma data específica para homenagear figuras paternas, os povos indígenas costumam ter pais muito presentes. A eles cabe o ensino de tradições e formação de caráter. Tudo com amor, paciência e diálogo. Os homens educam as gerações mais novas com a simplicidade das gerações ancestrais.

Wendel Tembé afirma que a principal função de um pai indígena é acompanhar e guiar os passos dos filhos. As crianças são a alegria de cada casa. Por isso, precisam ser educados com amor e carinho. É desse jeito que ele aprendeu com a avó e o avô. A vida não o permitiu ter tido contato mais próximo com o pai, que morreu quando ele tinha 11 anos. A mãe se foi ainda mais cedo, quando ele só tinha nove meses. “Nunca oprimi ou reprimi meus filhos. Nunca bati neles. O que eu fizer de bom ou ruim, eles vão aprender”, diz.

Com os avós, aprendeu a estudar. Só com educação, poderia transformar a realidade das aldeias. E foi o que ele fez. Se tornou professor. É graduado em Química, pós-graduado em Biologia e está fazendo mestrado em Agroecologia. Foi assim que se tornou uma liderança indígena do povo Tembé. E também diretor da escola da aldeia Zawara, que fica no limite entre os municípios de Santa Luzia do Pará e Capitão Poço, Terra Indígena Alto Rio Guamá.

Tem orgulho de ser o professor dos próprios filhos, quatro no total. O mais velho tem 20 anos e mora numa aldeia do povo Gavião-Parakatêjê, a 600 quilômetros de distância. Essa distância é encurtada pela tecnologia. Mesmo longe, Wendel se faz presente. O jovem é filho da primeira união. Com a segunda esposa, também professora, Wendel teve mais três. A mais velha é a Rormaporé, de 13 anos. Os outros dois têm 10 e 2 anos.

“Minha guerreira e meus guerreiros. Se pudéssemos, teríamos mais filhos. Filhos são a coisa mais sagrada que nosso Deus nos deu. Sou muito feliz com eles”, diz.

Simplicidade, igualdade, senso de comunidade, humildade, respeito e harmonia com a natureza são os principais valores que um pai tembé passa aos filhos. O avô de Wendel, que é Gavião-Parakatêjê, era ainda mais amoroso e presente. O professor acredita que a diferença se deve ao tempo de contato com os povos brancos. Os Tembés tiveram o primeiro contato há 400 anos. Já os Gaviões-Parakatêjê tiveram contato há cerca de 180 anos.

As alterações em rotinas e costumes foram diferentes. De maneira geral, os pais dos dois povos indígenas são quase iguais na forma de criar os filhos. Há pequenas e poucas variações entre cada casa e núcleo de aldeia. Uns podem ser um pouco mais rígidos. Outros um pouco mais tradicionalistas. Mas todos são amorosos, cuidadosos e gentis. Mesmo em momentos de necessária firmeza e rigor, tudo é feito sem agressões.

Mais recentemente, o povo Tembé, assim como outras etnias, tem retomado tradições e festividades. Os costumes se mantêm: se alguém traz uma caça, peixe ou mata algum animal de cativeiro, as refeições são repartidas para todo mundo. Não há limites particulares e privados de territórios. Assim, as famílias acabam sendo todas unidas.

“Queria que meus filhos seguissem meu caminho, o da educação e da preservação das tradições. Não preciso de nenhum objeto como presente”, diz Wendel. Rormaporé já mostra que está nessa trilha. “Na minha opinião, é um ótimo pai. Muito amoroso e carinhoso. Acho que uma das principais lições que ensinou foi ser responsável. E acho que ele tem um papel importante na preservação das nossas tradições”, conclui, deixando o pai orgulhoso e feliz.

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