Frito do Vaqueiro: conheça a receita ancestral do Marajó que atravessa gerações

Prato típico marajoara preserva técnica centenária de conservação e conquista espaço nos cardápios contemporâneos. Veja a receita completa abaixo

Riulen Ropan
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Entre os sabores marcantes da culinária amazônica, o frito do vaqueiro se destaca como um verdadeiro patrimônio alimentar do arquipélago do Marajó, no Pará. Com mais de 150 anos de história, o prato nasceu da necessidade dos vaqueiros marajoaras de terem uma comida que pudesse ser conservada por mais tempo durante suas atividades nas fazendas. Eles precisavam de algo que não estragasse facilmente e que fosse prático de transportar na sela do cavalo.

O frito do vaqueiro era feito com carne de búfalo, cozida lentamente em fogo baixo e frita na própria gordura. Depois, era armazenado em um recipiente, geralmente uma lata, com a gordura solidificada por cima, protegendo a carne da oxidação. Hoje, o prato atravessa o tempo como símbolo da resistência cultural e da criatividade alimentar da região.

“O frito do vaqueiro é uma carne que foi produzida pelos vaqueiros desde a época da colonização do Marajó. Eles cozinhavam a carne na própria gordura, em latas grandes, no fogo de lenha, durante dois a três dias”, explica o Chef Bola, cozinheiro especialista em culinária amazônica e responsável pelo restaurante Solar do Bola, em Soure, na ilha do Marajó.

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Uma técnica de sobrevivência que virou tradição

Na época, o búfalo, animal símbolo do Marajó, era abatido e aproveitado integralmente. A parte traseira da carne era salgada e transformada em charque. Já a dianteira, mais gorda, era cozida lentamente, somente com sal.

“Eles cortavam tudo em pequenos cubos e usavam a própria gordura para cozinhar essa carne na lata, uma lata grande, e o processo de cozimento era feito na lenha. Ela soltava a gordura e ia cozinhando até restar apenas a gordura e a carne”, conta o Chef Bola. “Esse processo levava quase dois dias de cozimento, aproximadamente, até que a carne se desfiava e ficava em pedaços.”

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Segundo o chef, quando iam para o campo, os vaqueiros armazenavam a carne dentro de um "surrão", espécie de sacola feita com couro de boi, e se alimentavam dela por muitos dias, pois a própria gordura servia como conservante, evitando que o alimento estragasse. Esse método ancestral funcionava como uma verdadeira conserva natural.

“Lá no campo, eles esquentavam no fogo e faziam sua refeição. E o que não era consumido voltava ao processo de conservação”, destaca.

Receita do Frito do Vaqueiro Tradicional

Receita fornecida pelo próprio Chef Bola, mantendo o preparo original dos vaqueiros marajoaras:

image Chef Bola do Marajó (Foto: Divulgação)

Ingredientes:

  • Carne gorda de búfalo
  • Sal a gosto.

Modo de preparo:

  1. Corte a carne em cubos pequenos e misture com sal.
  2. Cozinhe lentamente em fogo baixo, usando a própria gordura da carne.
  3. Mexa periodicamente para evitar que grude ou queime.
  4. Cozinhe por várias horas (ou até dias), até que a carne solte a gordura e fique bem macia, desfiando.

Por que o frito do vaqueiro é tão especial?

  1. Preserva a história dos vaqueiros marajoaras;
  2. Utiliza técnicas sustentáveis, sem conservantes artificiais;
  3. Tem sabor intenso, ideal para quem busca autenticidade culinária;
  4. Pode ser armazenado por vários dias fora da geladeira.

Onde comer frito do vaqueiro?

Alguns restaurantes no arquipélago do Marajó já incluem o prato no cardápio como parte da valorização da cultura regional. No restaurante Solar do Bola, por exemplo, o prato pode ser servido com banana ou macaxeira e arroz branco.

“É uma carne sensacional, com muita história e muito sabor. Uma delícia que representa o nosso Marajó”, destaca o Chef Bola.

(Riulen Ropan, estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Heloá Canali, editora executiva de Oliberal.com)

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