Em ‘carta à comunidade’, ex-reitora da Ufra defende legado de sua gestão na instituição
A professora Herdjania Veras de Lima se pronunciou após ser veiculada uma matéria que trata sobre os atuais desafios administrativos e estruturais enfrentados pela UFRA.

Após a publicação em O Liberal de uma matéria que trata sobre os atuais desafios administrativos e estruturais enfrentados pela Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), a ex-reitora Herdjania Veras de Lima, que geriu a instituição entre 2021 e 2025, pediu direito de resposta para esclarecer os pontos mencionados pela atual gestão. A reportagem, produzida com base em notas enviadas pela Ufra na última sexta-feira (29/8), trata sobre impasses na emissão de diplomas, ausência de contratos de manutenção de refrigeração e rede elétrica, além de entraves no processo eleitoral para escolha da nova Reitoria.
Neste domingo (31), a professora Herdjania Veras enviou uma ‘carta à comunidade da Ufra’. “Assumi a gestão em um momento extremamente desafiador: o retorno da pandemia de Covid-19, cortes severos de verbas impostos pelo Governo Federal e dificuldades na execução de serviços essenciais para o bom funcionamento da universidade. Mesmo diante desses obstáculos, nunca deixamos de trabalhar. Seguimos em frente, buscando soluções e garantindo que a UFRA não parasse”, diz na nota.
No posicionamento enviado pela atual gestão da Ufra, em relação à emissão dos diplomas digitais, foi alegado que a universidade não conseguiu atualizar o sistema acadêmico (SIGAA) devido a pendências financeiras dos anos de 2022 e 2023. Herdjania não entrou em detalhes sobre esse processo, mas destacou que sua gestão foi transparente quanto à situação financeira da instituição. “Quero destacar que todas as informações administrativas, acadêmicas e financeiras da minha gestão estão publicadas e detalhadas nos Relatórios de Gestão 2021 a 2024”, ressaltou.
Sobre a climatização, a nota enviada pela Ufra apontava a falta de contratos de manutenção de refrigeração, o que teria prejudicado a climatização de ambientes acadêmicos e administrativos. Sobre esse ponto, Herdjania afirmou que determinou a abertura do processo de contratação em agosto de 2023. “Formei equipe de planejamento, acionei os servidores responsáveis e segui todos os trâmites legais. Porém, houve demora excessiva no andamento do processo por parte da equipe técnica, que hoje integra a atual gestão pró-tempore”, disse. Segundo ela, o acionamento ocorreu em abril de 2023, mas a primeira resposta formal dos servidores só veio quase dois meses depois, em junho daquele ano, o que atrasou o processo.
Herdjania também abordou a questão da climatização, classificando o processo como repleto de entraves burocráticos. De acordo com a ex-reitora, a primeira versão do processo licitatório para manutenção de refrigeração só foi apresentada em março de 2024 — oito meses após a portaria que determinou sua abertura — e precisou ser refeita em maio do mesmo ano após questionamentos da Procuradoria Federal. “Mesmo após essa manifestação clara da AGU, o processo seguiu em ritmo lento. [...] A partir daí, o processo foi marcado por inúmeras idas e vindas, sempre com pendências a serem sanadas pela equipe de planejamento, situação que se agravou no primeiro semestre do ano eleitoral”, destacou.
Apesar das dificuldades, ela disse ter garantido recursos para a compra de 351 novos aparelhos de ar-condicionado, no valor de R$ 3,8 milhões. Parte dos equipamentos, segundo Herdjania, chegou a ser entregue e instalada, mas os demais não foram instalados pela gestão atual. “Onde estão os novos aparelhos que foram comprados? Por que não deram continuidade à entrega e instalação desses equipamentos?”, questionou.
Manutenção
A ex-reitora também comentou sobre a informação enviada pela atual gestão a respeito da manutenção predial. “A minha gestão foi marcada por investimentos expressivos na melhoria e recuperação da infraestrutura institucional. Mesmo diante das severas limitações orçamentárias impostas pelo governo federal - e tendo recebido a UFRA com uma dívida de aproximadamente R$ 13 milhões herdada entre 2019 e 2020 - conseguimos entregar resultados concretos e duradouros. Nesse período, concluímos a implantação de uma nova cabine de proteção e medição, acompanhada de trechos de rede aérea robusta e dimensionada para atender ao aumento de carga das edificações. Também substituímos toda a iluminação pública do campus Belém por lâmpadas de LED, proporcionando maior eficiência e durabilidade”, esclareceu.
“Em paralelo, investimos fortemente na manutenção predial, atuando em coberturas, sistemas elétricos, hidrossanitários e de lógica em diversos campi. A manutenção nunca foi tão eficiente nem recebeu tamanho volume de investimentos como durante a nossa gestão”, diz a ex-reitora.
Herdjania citou a conclusão do prédio de Agronomia em Capanema, recebido em estado crítico, além do avanço em grandes projetos como o Centro de Apoio à Pesquisa de Pós-Graduação (CAPP) e o CQMAA. “É incorreta a alegação de que não existiam contratos vigentes. Deixamos processos estruturados para continuidade e a atual gestão tem a responsabilidade de dar seguimento a esse trabalho”, disse.
Rede Elétrica
Outro ponto contestado foi a questão da rede elétrica. A gestão atual informou na nota que falhas e interrupções estariam relacionadas à ausência de contratos de manutenção. Herdjania afirmou que, desde o início de sua administração, a Ufra passou a receber melhorias consistentes no setor. Ela lembrou que o corpo técnico de engenharia elaborou um planejamento para renovação completa da rede, registrado no processo nº 23084.005207/2024-79 e formalizado em abril de 2024.
Segundo Herdjania, para responder às demandas em alta e baixa tensão, foi realizada a contratação de profissionais especializados. “Realizamos a contratação de profissionais especializados por meio do Contrato nº 19/2022, que permanece vigente. Esse contrato prevê a atuação de 07 eletricistas e 06 auxiliares de eletricista, compondo uma equipe responsável pela execução de serviços de manutenção elétrica em todos os campi da Ufra”, afirmou.
Na nota, a ex-reitora defendeu que esses avanços permitiram estruturar equipes técnicas permanentes para atender uma das áreas mais críticas da universidade, mesmo diante das restrições orçamentárias. “É importante frisar: esses profissionais foram contratados na minha gestão. Sempre que enfrentamos problemas semelhantes aos atuais, todos foram solucionados com eficiência e rapidez, sem que houvesse registros de interrupções no fornecimento de energia superiores a um dia”, declarou.
Após detalhar os investimentos em manutenção predial e a conclusão de projetos estratégicos, Herdjania comentou sobre seu trabalho à frente da Ufra.
“Quero reafirmar: durante os quatro anos em que estive à frente da Reitoria, trabalhei incansavelmente para reconstruir a imagem institucional da UFRA. Enfrentamos dívidas, cortes de recursos e dificuldades imensas, mas conseguimos entregar uma universidade reconhecida nacionalmente, que conquistou a nota máxima no MEC e voltou a ser motivo de orgulho para a Amazônia.
Hoje, ao contrário, o que vemos é uma lamentável obsessão da gestão pró-tempore em desqualificar a imagem da nossa universidade perante a opinião pública. Não atacam apenas a mim: atacam a todos nós - docentes, técnicos e estudantes -, porque cada notícia negativa sobre a UFRA enfraquece a comunidade acadêmica e destrói conquistas históricas. A UFRA não pode ser usada como arma de disputa política. Nossa missão é maior: é científica, é educacional, é social. E não aceitaremos retrocessos”, concluiu a ex-reitora.
Decisão – No último dia 26 de agosto, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) reformou a decisão que havia suspendido a consulta pública destinada à escolha da lista tríplice de reitor(a) da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra). A medida anterior questionava a composição do Conselho Universitário (Consun), sob a alegação de que seria necessária a posse formal dos coordenadores de curso.
O relator do caso, desembargador federal Eduardo Martins, considerou a decisão anterior equivocada. Segundo ele, os coordenadores são membros natos do colegiado e estão regularmente investidos em seus cargos por meio de portarias publicadas no Diário Oficial da União. O acórdão reconheceu a legitimidade da recomposição do Consun e autorizou a continuidade do processo eleitoral referente ao mandato 2025-2029.
A decisão foi tomada por unanimidade pela Quinta Turma do TRF1, o que reforça ainda mais a legitimidade da deliberação. No acórdão, a Corte determinou de forma expressa a continuidade do procedimento de consulta pública para formação da lista tríplice destinada à escolha do(a) reitor(a) da Ufra, para o próximo mandato.
Na prática, a decisão restabelece a legalidade e a autonomia da Ufra, garantindo que o processo democrático siga de onde havia parado. O Estatuto da universidade determina que a condução da eleição deverá ser feita pelo Pró-reitor de Ensino que estava no cargo à época da decisão impugnada, encerrando, assim, a intervenção considerada ilegal.
MEC
Em nota enviada ao Grupo Liberal nesta segunda-feira (1º), o Ministério da Educação afirma que as questões administrativas estão sendo tratadas pela reitoria temporária da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), designada para assegurar a continuidade das atividades institucionais e a condução regular do processo eleitoral para escolha da nova gestão. "As universidades federais possuem autonomia administrativa e financeira, conforme assegurado pela Constituição Federal de 1988, o que lhes permite estabelecer, de forma autônoma, as prioridades institucionais em seus respectivos orçamentos", detalha o MEC.
"O Ministério da Educação (MEC) mantém diálogo constante com a reitoria e acompanha os processos da instituição para garantir que as demandas da comunidade acadêmica sejam atendidas com responsabilidade e celeridade. Nesse contexto, a Pasta vem fazendo, desde 2023, um esforço consistente para recuperar o orçamento das universidades federais. Esse esforço foi materializado nas suplementações ocorridas nos anos de 2023 a 2025. Essa recuperação é necessária em função das grandes perdas que as universidades federais sofreram, principalmente nos anos de 2020 a 2022", finaliza a pasta.
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