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Dia dos Indígenas traz reflexão sobre identidade, ancestralidade e resistência

Às vésperas da data comemorativa, situações como a invasão às terras Xipaya, em Altamira, no Pará, evidenciam outro problema: as ações dos garimpos ilegais.

Fabyo Cruz
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No Dia dos Indígenas, celebrado em 19 de abril, lideranças indígenas trazem reflexões sobre as lutas pela demarcação de terras, a valorização das suas ancestralidades e a resistência contra políticas predatórias de exploração ambiental. Oficialmente a data é denominada como “Dia do Índio”, no entanto, há divergência de opinião entre os povos pelo termo carregar alguns estereótipos. Às vésperas da data comemorativa, situações como a invasão às terras Xipaya, em Altamira, no Pará, evidenciam outro problema: as ações dos garimpos ilegais.

Em sua maioria, os povos indígenas decidiram abolir o termo “Dia do Índio”, porém ainda há quem seja favorável à utilização da denominação, afirma Nice Tupinambá, jornalista indígena e coordenadora do instituto Nossa voz. “O povo indigena escolheu ressignificar o termo, mas eu já fiz uma entrevista com um parente indígena, em Santarém, que defende a denominação ‘índio’ para que nunca seja esquecido o que foi feito com a gente. Achei interessante essa abordagem dele, mas foi uma opinião isolada”, comentou.

Para Nice Tupinambá, a ausência de debates sobre o racismo contra os povos indígenas e a não inclusão deles na mídia, como por exemplo em propagandas de televisão ou outdoors, favorecem a manutenção dos estereótipos estabelecidos ao longo dos anos. "Infelizmente muitas pessoas ainda pensam que ser indigena é estar pelado, de arco e flecha no meio do mato, por isso é importante fazer o debate que somos seres humanos que se habitua também em outras culturas e modos de vida. Ter um celular, vestir roupas e trabalhar não significa ser menos indigena. É preciso tirar esse estereótipo  fruto de muito racismo", assegura a jornalista.

image Os desafios comuns entre os povos indígenas ainda são a luta pelo território e a manutenção da cultura, diz Nice Tupinambá (Tereza Ariane/Divulgação)

Os desafios comuns entre os povos indígenas ainda são a luta pelo território e a manutenção da cultura, diz Nice. “Hoje era para as coisas estarem bem avançadas na luta. Imagina só se o Brasil já tivesse feito todas as demarcações das terras indígenas, nosso foco seria a saúde e a educação, mas não, temos que lutar ainda por algo que vem desde 1.500 anos. E agora com esses projetos de lei inconstitucionais, propostos pelo próprio governo federal, a luta das etnias tem sido muito forte porque ao mesmo tempo que é uma batalha pela sobrevivência é uma luta pela identidade”, afirmou.        

Sobre a invasão de garimpeiros aos territórios Xipaya, a coordenadora do instituto Nossa voz acredita ter sido só a primeira grande tomada ilegal. “A qualquer momento eles vão voltar e ficar diante dos olhos do estado brasileiro. Isso nos choca bastante e a nossa preocupação está nas lideranças indígenas, como a cacica Juma Xipaia que se expôs nas redes sociais, fazendo a denúncia, tememos pela vida dela e do seu pai que filmou tudo e teve o celular dele tomado pelos garimpeiros. Então, quem vai proteger esses indígenas que estão fazendo as denúncias contra o garimpo?”, perguntou.

Nice ressalta que no Dia dos Indígenas deve-se comemorar a organização e resistência que são características da ancestralidade dos povos indígenas. “Nós não somos povo de fugir da guerra, não somos povo de fugir da luta, e a cada dia que se passa, principalmente aqui na Amazônia, no Pará, fazemos resistência contra qualquer política predatória de exploração que não preserva a natureza e só agride as nossas vidas”, afirmou.

 

Terra do Meio: alvo sem falta de aviso prévio

 

Em 2020, o Ministério Público Federal (MPF) listou 23 alvos prioritários, as chamadas áreas críticas, que seriam locais de atividades criminosas como garimpos, serrarias, fazendas, pousadas e pistas de pouso, possivelmente realizadas em dez terras indígenas e unidades de conservação na região do médio Xingu, no Pará, também conhecida como Terra do Meio, entre os municípios de Altamira e São Félix do Xingu.

Por conta disso, na época o MPF deu um prazo de 20 dias para que o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) promovessem operações de fiscalização contra crimes ambientais.

Em 2021, a Amazônia registrou 52% dos conflitos por terra no Brasil e 61% do número de famílias envolvidas, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Quando se observa o quantitativo das áreas em disputa, a escala dos conflitos mostra toda a razão das disputas por terras e territórios na região. A maior parte dessas áreas é de territórios indígenas e de seringueiros/extrativistas, ou seja, territórios protegidos na forma da lei.

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