Desmatamento cresce 359% no entorno da BR-163
Março e abril de 2021 apresentaram os maiores valores registrados, atingindo 1.106 e 1.249 hectares desmatados
Nos quatro primeiros meses de 2021, o desmatamento ao longo da BR-163, também conhecida como Cuiabá Santarém, cresceu 359%, segundo monitoramento da Rede Xingu +, realizado pelo Instituto Socioambiental (ISA). O dado faz parte do levantamento, feito pelo Instituto Socioambiental (ISA) - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. O avanço do desmatamento vem crescendo desde 2019, mas os meses de março e abril deste ano tiveram os maiores valores registrados na história: 1.106 e 1.249 hectares desmatados. Os dados foram calculados num espaço de 5 km de cada lado da rodovia, no seu trecho inicial no Pará, desde a divisa com o Mato Grosso até Castelo dos Sonhos, distrito de Altamira.
A BR-163 é uma das principais rotas de escoamento da soja produzida no Mato Grosso aos portos do Pará e atravessa diversos municípios paraenses como Altamira, Novo Progresso e São Félix do Xingu - cidades que estiveram entre as dez com maiores índices de desmatamento do país, no ano passado. Também no entorno da estrada está um dos corredores ecológicos mais importantes da Amazônia: a bacia do rio Xingu, que inclui diversas Terras Indígenas e Unidades de Conservação, que protegem 26 milhões de hectares da Amazônia.
Outro dado do levantamento revela que entre março e abril, 29.191 hectares de floresta foram ao chão em toda a bacia do Xingu, nos estados do Mato Grosso e Pará. A área equivale ao tamanho do município de Fortaleza (Ceará) . Para a Rede Xingu+, é como se nesse período fossem derrubadas 196 árvores por minuto. A região paraense da bacia se destacou pelos altos índices de desmatamento neste bimestre, com 17.962 hectares desmatados, 62% do total detectado no período. Mesmo no inverno amazônico, o que dificultaria a ação dos infratores, o desmatamento apresentou aumento de 36% em relação a março e abril de 2020.
Os municípios de Altamira e São Félix do Xingu, no Pará, foram os que mais desmataram na bacia, concentrando juntos 55% do total. Altamira, primeiro lugar do ranking, teve 7.984 hectares de floresta derrubada, apenas no mês de março. O município permanece como primeiro na lista dos que mais desmatam no Xingu, com quase 15 mil hectares desmatados somente nos 4 primeiros meses do ano, um aumento de 63% em comparação aos primeiros 4 meses de 2020. São Félix do Xingu, em segundo lugar, compreende áreas intensamente desmatadas devido à pressão exercida pela pecuária, com grandes áreas convertidas em pasto em pouco tempo.
Para a Organização da Sociedade Civil, a escalada é reflexo da fragilização da fiscalização na área e consequência do aumento contínuo de atividades ilícitas. De acordo com publicação do Greenpeace, em junho deste ano, as sugestões constantes de alteração na Lei nº 11.952/2009, que trata da regularização fundiária de posses em terras públicas federais na Amazônia Legal, estariam favorecendo grandes e médios posseiros ou anistiando crimes como grilagem e desmatamento ilegal na Amazônia.
Povos Originários temem o avanço do desmatamento
O levantamento da Rede Xingu + também aponta que dentre as Terras Indígenas (TI), a TI Kayapó foi a campeã de desmatamento em março e abril. Foram 453 hectares, um aumento de 59% em relação ao mesmo período de 2020. “Os invasores derrubam a floresta para abrir ramais, estradas ilegais dentro da mata com o objetivo de escoar a produção. Além disso, o próprio garimpo causa destruição e deterioração da floresta, além de contaminar os rios e impulsionar a violência nos territórios”, diz a publicação.
Mudjere Kayapó, vice-presidente do Instituto Kabu, é morador das TI Baú e Mekragnotire, no município de Novo Progresso, também diz que está preocupado com o avanço do desmatamento na região onde mora. Só nessa área, vivem povos de 19 aldeias Kayapó, com cerca de 4 mil habitantes. Para ele, desde que a BR-163 foi asfaltada, chegaram as preocupações como ameaças de grileiros, garimpeiros, madeireiros e fazendeiros, além do aumento das queimadas. “Estamos agora no período da seca, quando ocorrem mais e mais queimadas e isso afeta muito nossas vidas. Os rios e as matas já não são mais os mesmos, eles sentem os efeitos e nós também. Muitas doenças estão acontecendo em nossa comunidade devido a isso. Precisamos da atenção das autoridades, por isso o Instituto Kabu também faz denúncias.
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