Cor barrenta do Rio Xingu preocupa moradores de Altamira

Uma mancha no Rio Xingu está transformando as águas verdes transparentes em cor de barro.

Andria Almeida

Após o impacto dos garimpos no Rio Tapajós que mudou a coloração das águas em Alter de Chão, no município Santarém, oeste do Pará, outro rio começou a apresentar manchas barrentas, dessa vez no Rio Xingu, na região de Altamira. A situação já preocupa os moradores que têm o rio como fonte de renda.

Várias publicações sobre a coloração das águas do rio Xingu têm sido feitas por moradores do município nas redes sociais. Isso porque existe uma mancha no Rio que está transformando as águas verdes transparentes em cor de barro.

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A pescadora Sara Rodrigues, moradora da comunidade ribeirinha da vazão reduzida relata que a mudança na cor da água não é uma situação recente. “A cor começou a mudar de 5 anos para cá. Para nós que somos do rio, passamos boa parte da vida trabalhando em cima do rio, a mudança é mais fácil de identificar. Não acredito que seja da chuva, pois todo ano chove e nunca ficou nessa cor barrenta”, disse.

Sara conta ainda que a coloração da água tem provocado doenças e morte de animais. “Dependemos dessa água para pescar, comer, tomar banho, beber. Ele é nosso meio de sobrevivência, mas estamos preocupados, pois o rio não é mais o mesmo. Alguns tracajás estão morrendo após comer um lodo que tem na água barrenta, eu estou com coceira, minha mãe apresentou gastrite, sintomas como náuseas tem sido muito comum nos moradores que usam a água”, denunciou.

A Secretaria de Municipal de Meio Ambiente do Município informou que fez uma vistoria no igarapé do Panelas, nesta terça-feira (15), e que a água não apresenta risco para a população ou peixes. A secretaria justificou que a coloração da água ocorreu por conta do transbordamento de alguns igarapés, o que segundo a pasta, é normal nessa época de fortes chuvas que escorrem por sobre estradas de terra na zona rural.  

A secretaria de meio ambiente ressaltou também sobre uma vazão que acontece quando as chuvas desembocam no Xingu, pois levam essa água com efeito barrento, a exemplo do Rio Guamá em frente a Belém.

Especialista da UFPA fala das possibilidades para alteração do Rio Xingu

Para o professor de  ecologia da  faculdade de ciências biológicas na Universidade Federal do Pará em Altamira, Rodolfo Salm, existe sim uma mudança na coloração da água e a causa não é da natureza. “Aparentemente a mancha é decorrente de algum processo que aconteceu no Igarapé Panelas. É muito provável que tenha sido alguma barragem existente no local que tenha rompido e com isso teve a descida para o Xingu de uma grande quantidade de lama”, apontou.

O professor ponderou que apesar das suspeitas do rompimento da barragem, existe também a possibilidade de funcionamento de garimpos ilegais na região. “Isso é bem grave, pois implicaria na contaminação do Xingu com substâncias tóxicas”, preocupou-se.

Rodolfo Salm destacou que a alteração na cor do rio é muito preocupante. “O Xingu é um rio de água clara, mas está com aspecto do Rio Amazonas que é um rio de água branca. No Amazonas é normal, mas no nosso rio isso é muito grave”, enfatizou.

image A imagem mostra a água do rio Xingu com aspecto de barro (Rolfo Salm)

Preocupação que a causa esteja ligada a garimpos da região

Segundo o especialista, existe uma grande preocupação que Xingu esteja sofrendo o mesmo tipo de processo de degradação que o rio Tapajós. “No Tapajós, ali em Alter do Chão a gente viu que está com uma coloração alterada e no caso do Tapajós é sabido que é consequência dos garimpos. Então a gente vê o Xingu que já sofreu tanto com Belo Monte, tendo alterações em aspectos importantes da água. A pigmentação barrenta a gente tem medo de que também seja consequência dos garimpos”, disse.

A população está em alerta com a mudança na turbidez da água. “Nossa preocupação é que o Xingu, que sempre foi um rio de águas verdes, de águas transparentes, também se torne um rio barrento. Pode ser que esse caso seja um fenômeno específico, rompimento de uma barragem no açude e não tem nada a ver com garimpo, mas o é o nosso medo da população, ambientalistas e ribeirinhos”, enfatizou.

‘Botar a culpa na chuva não é verdadeiro, é irresponsável’, diz especilista

O professor rebateu a nota da secretaria de meio ambiente que diz que a coloração está relacionada ao grande volume de chuvas. “Isso está errado. Não é verdade que é só chuva. Mesmo porque a chuva acontece todos os anos. Mas o Xingu com essa cor nunca aconteceu. O que pode acontecer é a chuva romper uma barragem. E aí a gente teve a descida do barro que estava acumulado na barragem. Agora botar a culpa na chuva não é verdadeiro, é irresponsável”, contestou.

Ele conta que mora em frente ao rio e notou que algo estava errado.” Eu observei isso antes de qualquer pessoa falar. Eu moro aqui de frente para o rio Xingu, eu olhei para o rio e falei, está com uma cor diferente. choveu muito, mas não é a primeira vez que chove no ano e todo ano chove. Então não é isso”, concluiu.

Nota da Norte Energia

A Norte Energia, empresa privada e concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, negou que haja condições anormais nas águas do rio.

Em nota, a Norte Energia informou que durante as atividades de monitoramento ambiental do reservatório não identificou condições excepcionais ao período chuvoso na região, quando é comum ocorrer o carreamento de sedimentos para dentro dos cursos d’água - o que pode interferir na coloração da água do rio.

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