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Comunidades tradicionais querem unir conhecimento empírico a ciência

Diálogos da Amazônia" abriu um leque de oportunidades para compreender outras realidades que tem nas Amazonia(s)

Bruna Lima
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A presença das comunidades tradicionais nas universidades ainda é nova e cheia de desafios, mas integrantes dessas comunidades lutam pelo seu espaço para construir uma academia mais plural e rica em conhecimento. O jovem Tel Guajajara, que tem o nome indígena Awaité, de 23 anos, vem se destacando em meio aos movimentos e mostrando a importância da representatividade.

Tel Guajajara é estudante de Direito da Universidade Federal do Pará (UFPA), Diretor de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE), Coordenador do Circuito Curupira e Membro da Coalizão Brasileira pela Educação Climática.

Tel diz que estar nos lugares enquanto indígena é, sem dúvidas, desafiador, pois ainda sofre racismo em diversos lugares, inclusive, nos que é convidado, mas destaca o avanço, pois vem quebrando esteriótipos sobre o que pensam dele e dos povos originários. "Não discuto somente uma pauta, sou um indígena que faz debates transversais no Brasil. Eu ocupo um lugar que sempre foi nosso e que agora ocupo por direito. Nunca mais um Brasil sem nós", pontua.

Ele destaca que o "Diálogos da Amazônia" abriu um leque de oportunidades para compreender outras realidades que tem nas Amazonia(s), um lugar grande com várias particularidades. "Foi fundamental para apresentarmos novas pautas e reformular as que temos. Precisamos achar uma saída coletiva para nossa região. Esse acúmulo é fundamental para a reconstrução da América Latina como um todo", reflete.

Uma novidade nessa programação foi a proposta feita pela UNE junto a Organização Continental Latino-Americana e Caribenha de Estudantes (OCLAE) e Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) para o presidente da Cúpula: a criação de uma Universidade Integrada da Amazônia, uma iniciativa estratégica para unir os conhecimentos tradicionais e ancestrais com esse modelo que está posto da universidade.

"Queremos usar a ciência para garantir o nosso território protegido. Essa universidade ajudaria a pensar novas formas de ensino e dar novas perspectivas de futuro para os povos da Amazônia. Garantir que a gente combata a fome com novas técnicas é uma delas, garantir tecnologia que já temos junto a universidade para limpeza das águas e garantir uma transição energética limpa, nós podemos ser esses cientistas dos nossos próprios territórios", explica Tel Guajajara.

Diante de todo esse debate, o jovem indígena espera por bons resultados, já que junto a sua comunidade vem tentando buscar o esforço de compreender as realidades e de se desafiar, apresentar políticas públicas.

"Belém virou o centro do mundo com os debates, cabe a nós cobrar o Estado pela implementação e conseguir culpabilizar também aqueles que degradam o nosso território. Cobrar sim daqueles países que mais poluem o nosso ambiente, por isso, a luta pela obrigatoriedade da educação climática é fundamental nas escolas e universidades para conscientizar. Isso está ligado diretamente também à demarcação de terras e pelo direito de viver", complementa.

O professor visitante no Instituto de Ciências Jurídicas da UFPA na graduação e pós-graduação, Almires Martins Machado, é da etnia Guarani Terena. Nasceu na aldeia Jaguapiru, no estado de Mato Grosso do Sul. É graduado em Direito, com mestrado em Direitos Humanos e doutorado em Antropologia. Ele explica que a importância de as comunidades tradicionais estarem nas universidades é que ela traz para o mundo acadêmico outras epistemologias, outras filosofias e, dentre elas, o bem viver e dignidade às comunidades tradicionais.

"Quando nós trazemos esses conhecimentos para dentro da sala de aula estamos trazendo, entre outras coisas, uma outra autoridade, uma outra epistemologia, uma outra filosofia. Uma outra forma de entender o mundo e de ver o mundo de uma outra forma, de ver o direito, de ver a medicina, de ver a história, de ver a geografia, de ver inclusive a física", explica o professor.

O docente destaca ainda que academia tem uma certa resistência em reconhecer os conhecimentos tradicionais como conhecimento. “E aqui você tem duas forças, o conhecimento empírico se defrontava com o conhecimento típico, que é aquele aonde se tem a tal da metodologia científica. E a academia relutava em reconhecer esses conhecimentos e esse era um dos problemas então enfrentados a partir da Eco- 92 discutido na ONU”, acrescenta.

Almires Machado explica que o conhecimento tradicional associado à biodiversidade, por exemplo, é aquele que está nas aldeias, nos quilombos, entre os ribeirinhos, os extrativistas e povos indígenas e outros que responderiam, por exemplo, como preservar o planeta, conservar o planeta, as matas, os rios, para ter uma vida com qualidade e remédios, que hoje podem curar as doenças do mundo.

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