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Casos de coronavírus avançam no Marajó e entidades pedem celeridade ao governo

Condições precárias de estrutura têm tornado a população da região um alvo fácil para a covid-19

Dilson Pimentel
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Quem mora em Anajás e precisa se deslocar para Breves, para receber atendimento médico para o novo coronavírus, levará cinco horas para fazer essa viagem. Isso em uma voadeira, que é uma embarcação mais veloz. Essa é só uma das muitas dificuldades enfrentadas pelos moradores dos 16 municípios que compõem o Arquipélago do Marajó, uma região de ricas belezas naturais, mas que, historicamente, padece de inúmeros e estruturais problemas sociais.

A realidade acima é relatada pelo presidente da Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó (AMAM), Jaime da Silva Barbosa. Até a última sexta-feira (15), o Marajó havia registrado 637 casos do novo coronavírus, com 64 mortes. O maior número de casos (320) e de óbitos (40) era em Breves, a maior cidade da ilha, com mais de 92 mil habitantes. “No Marajó, a situação é muito grave em relação ao enfrentamento ao novo coronavírus. Até duas semanas atrás, ainda existiam municípios que não haviam contabilizados casos confirmados de infecção. Agora, todos os municípios do Marajó possuem casos confirmados e apenas três ainda não têm casos de vítimas fatais”, disse Jaime, que é prefeito de Cachoeira do Arari.

Segundo ele, a dificuldade no enfrentamento à doença é muito grande pela logística e pelas questões financeiras. “Aqui, temos os piores IDHs (índices de desenvolvimento humano) não só do Pará, mas do Brasil. Isso tudo faz com que as dificuldades sejam muito maiores. Sala de UTI, por exemplo, você só vai encontrar em Breves, onde tem o hospital de campanha, inaugurado essa semana pelo governador, e o hospital regional. Nos demais municípios, não existe sala de UTI. Se um doente precisar desses recursos para se submeter a tratamento, terá quer se transferido para um hospital de retaguarda. E, aqui, para o Marajó Oriental, o hospital de retaguarda, em tese, seria o hospital de campanha do Hangar (em Belém). Mas, pela situação que se vive lá, nós não encontraríamos vagas e teríamos muita dificuldade de transferir um doente do Marajó Oriental para lá”, afirmou. E acrescentou: “Temos feito algumas campanha de prevenções e temos nos articulado com o Ministério Público, para implementar ações preventivas. Mas, ainda assim, dificuldade é muito grande”.

Acesso é difícil às zonas rural e ribeirinha

Ainda segundo o presidente da AMAM, é muito difícil o acesso das equipes de saúde às zonas rural e ribeirinha. “O controle também, mesmo quando se decreta o isolamento, fica difícil de se manter. A maioria dos casos de infecção no Marajó foi toda importada, em consequência desse deslocamento de pessoas que vão à capital e voltam para seus municípios infectados. Em Cachoeira do Arari, por exemplo, que é o nosso município, os primeiros casos foram de pessoas que tiveram a contaminação ocorrida em Belém, Abaetetuba e Barcarena e voltaram para o município”, afirmou. Ele disse que a expectativa agora, para o Marajó Oriental principalmente, é que seja construído o hospital de campanha, que será em Soure,  o que já foi anunciado pelo governador, “para que a gente possa ter uma condição menos traumática para atender o nosso pessoal que tem problemas de infecção pelo coronavírus”.

E, falando agora sobre o Marajó Ocidental, ele citou o caso de um paciente que mora em Anajás e precisa se deslocar para Breves, onde há o hospital de referência. “Imagina só essa dificuldade. Outra situação complica ainda mais essa logística de transferência de pacientes infectados e doentes: a inexistência de campos de pousos homologados pela ANAC (Agência Nacional de Avião Civil), onde os aviões possam pousar dentro da legalidade, para, fazer, se necessário, o deslocamento desses doentes. Tudo isso complica ainda mais as ações dos municípios para que eles possam combater da maneira que deve ser feita o novo coronavírus”, afirmou.  São municípios do Marajó Oriental, entre outros, Ponta de Pedras, Muaná, Salvaterra, Soure e Cachoeira do Arari. E, do Marajó Ocidental, entre outros, Bagre, Breves, Curralinho, Melgaço e Portel.

É uma corrida contra o tempo, dizem entidades

Viabilizar o Hospital de Campanha do Marajó Oriental de Soure o mais rápido  possível para evitar que as pessoas dessa região procurem a capital do Estado, uma vez  que Belém já está não possui vagas em leitos de UTIs. Esse é um dos pedidos feitos pelos participantes da Campanha Marajó Vivo. Em carta endereçada ao governador, e datada de quinta-feira (14), eles solicitam, também, que o governo incorpore, urgentemente, mais profissionais da saúde às equipes já atuantes  para atender os centros de atendimento em saúde dos municípios marajoaras, viabilize a realização de testes rápidos na população marajoara para detecção  da covid-19 e equipe os hospitais municipais com UTIs e casas para quarentena, devido à  grande quantidade de famílias numerosas vivendo em residência com poucos cômodos,  sem condições de isolamento em casa.

“Estamos em uma corrida contra o tempo. Agradecemos as iniciativas tomadas  pelo Governo do Estado do Pará no enfrentamento da pandemia no Estado e nos  somamos aos seus esforços para ajudar a salvar vidas”, dizem os integrantes da campanha. A Campanha Marajó Vivo é uma rede de solidariedade que objetiva atender a  população marajoara com informações e ações de suporte para o enfrentamento da  pandemia causada pelo novo coronavírus. Tal iniciativa é composta por várias  instituições da sociedade civil, religiosas, comunitárias, profissionais autônomos,  professores e comunicadores do Marajó. Eles acompanham de perto a crise sanitária que assola sobretudo o Marajó com a  expansão da pandemia da covid-19, pois as condições sanitárias e de acesso à saúde  são muito precárias neste imenso território marajoara. O Marajó tem 564 mil habitantes (dados de 2019 e possui os piores indicadores sociais do Pará e do Brasil.

Taxa de letalidade no Marajó é duas vezes maior que a do Brasil

“Ao analisar os dados oficiais sobre a progressão da covid-19 nos 16 municípios  do Marajó, verificamos que a taxa de letalidade da doença covid 19 neste território (13) é de quase duas vezes maior que a do Brasil (6,8). Além disso, o aumento no número de  casos quadruplicou nos últimos dez dias”, informou. A Organização Mundial de Saúde recomenda um médico para cada mil  habitantes e o Marajó tem muito menos que isso (0,12 médicos por cada mil  habitantes (dados de 2018). “Sabemos que investir em hospitais e profissionais diferenciados é  uma estratégia decisiva neste momento de crise”, afirmam os integrantes da campanha.

Pela Campanha Marajó Vivo, participam Ima Célia Guimarães Vieira, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi; Eduardo Portal, presidente da Associação O Museu do Marajó; Tomé Marques de Avelar, coordenador geral da Irmandade do Glorioso São Sebastião;  Maria Nillene Colares Viana, diretora administrativa e financeira da Fundação pela  Inclusão do Marajó; Carlos Maciel, coordenador adjunto do Observatório de Direitos Humanos e Justiça  Social do Marajó - OBAM/UFPA; e Tainá Marajoara, do Instituto Iacitatá Amazônia Viva.

8 dos 16 municípios têm menores IDHs do Brasil

Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alerta que as regiōes amazônicas com os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH), que inclui o acesso precário à água tratada, ao tratamento de esgoto e à eletricidade, são as mais vulneráveis em relação à ampla propagação do novo coronavírus. Oito dos 16 municípios na região do Marajó, situada ao norte do Pará, estão entre os 50 com menor IDH no país: Breves, Curralinho, Afuá, Anajás, Portel, Bagre, Chaves e Melgaço. Diante desse cenário, o Museu Goeldi, o Museu do Marajó, a Prelazia do Marajó, a Diocese de Ponta de Pedras, a Irmandade do Glorioso São Sebastião, a Fundação pela Inclusão do Marajó, o Observatório de Direitos Humanos e Justiça Social do Marajó, vinculado à Universidade Federal do Pará (UFPA), e o Instituto Iacitata Amazônia Viva uniram-se na Campanha Marajó Vivo - uma rede de solidariedade para ajudar os mais vulneráveis no combate ao coronavírus na maior ilha fluviomarinha do mundo.

“A pandemia trouxe à tona os grandes problemas enfrentados pela população amazônica. E é esta situação cada vez mais preocupante que nos assusta com o avanço da covid-19 na região Norte, onde a tragédia se anuncia em grandes proporções”, escreveu, em artigo, a pesquisadora Ima Célia Guimarães Vieira, ex-diretora do Museu Goeldi e uma das coordenadoras da campanha.

Ela explica que a campanha atua em três eixos: a divulgação de informações, a realização de atividades e a coleta de doações. A ideia é apoiar o combate à propagação do vírus, orientar e acompanhar as políticas públicas emergenciais, e também ações que auxiliem o sustento das famílias que vivem na região. O primeiro eixo envolve tanto prestar informações úteis à população, como o reforço ao distanciamento social e ao uso de máscaras, quanto sistematizar diariamente, por meio de uma agência de notícias, os números de infectados e óbitos divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde e pelas prefeituras municipais. Entre outros objetivos, essas iniciativas ajudarão a monitorar a expansão da doença, assim como as ações de enfrentamento na região do Marajó.

O segundo eixo inclui o recolhimento de demandas feitas por agentes de saúde e pela sociedade civil, a fim de encaminhá-las aos gestores governamentais. Por meio do diálogo com médicos, pesquisadores e gestores, a proposta é organizar planos de ações emergenciais e de longo prazo, que possam orientar a execução de políticas públicas durante a pandemia. Como exemplo, encaminhar ao governador Helder Barbalho o pedido de implantação de um hospital de campanha na parte oriental do Marajó, que foi enviado pelos bispos da Prelazia do Marajó e da Diocese de Ponta de Pedras.
Por último, a campanha pretende arrecadar alimentos, produtos de higiene e materiais para a confecção de máscaras. Na prática, todas as pessoas que quiserem ajudar poderão levar as doações aos locais definidos nos próprios municípios ou agendando a busca dos produtos pelos números (91) 99989-6061, (91) 98821-6263 e (91) 98254-0882.

Sespa cita ações no Marajó

A Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) informou que vem cumprindo seu papel com diversas ações de prevenção e combate à covid-19 em todo o Estado e ressaltou que os municípios recebem recursos federais para ações de combate à pandemia. "Dentre as ações para a região marajoara: o Hospital de Campanha em Breves cuida da parte ocidental do Marajó. A ocidental é atendida em Belém. Além disto, tem o Serviço de Resgate Aeromédico da Sespa que é acionado pelos municípios. Os órgãos de segurança pública do Estado realizam também operações específicas na região para fiscalizar a realização de transporte coletivo interestadual".

Governo vai instalar hospital de campanha em Soure

E, no sábado (16), o governador do Pará, Helder Barbalho, assinou convênio com a prefeitura de Soure para instalação do Hospital de Campanha, que irá atender a população da região do Marajó Oriental. Serão 60 leitos, sendo 50 leitos clínicos e 10 Unidades de Terapia Intensiva (UTI).

A estrutura irá ampliar o atendimento aos pacientes em tratamento contra o coronavírus na ilha do Marajó, somando aos leitos do Hospital de Campanha de Breves, que já atende a população do Marajó Ocidental. "A intenção é que nós possamos ampliar o atendimento aos pacientes com coronavírus fazendo com que essa estrutura possa atender aos municípios do Marajó Oriental e atender Soure, Salvaterra, Cachoeira do Arari, Santa Cruz do Arari, Ponta de Pedras, Muaná, Chaves e todos aqueles que possam ser atendidos aqui. São 60 leitos, 50 clínicos e 10 de UTI. Com isso, vamos garantir atendimento com rapidez, descentralizando e aproximando o serviço da nossa população, fortalecendo também a estrutura do interior", disse Helder.

Na ocasião, as autoridades visitaram um possível local de instalação, um terreno amplo, já com estrutura de muro e apoio prontos que pertence à Igreja. De acordo com o prefeito do município, até o momento, as notificações são de 20 casos de Covid-19 confirmados e um óbito. "É um desafio grande, um compromisso grande. Não é algo simples, é muito sério. Nesse momento, não podemos nos furtar do compromisso, compromisso esse do governador de olhar para a região Oriental do Marajó e ter essa confiança de nos passar essa grande responsabilidade. Vamos pedir a parceria da Igreja Católica, através do bispo Dom Evaristo. Vamos assinar esse convênio, cuidar da parte licitatória, chamamento público para, no momento mais breve possível, já oferecer esse serviço à população", disse Augusto Gouvea.

 

 

 

 

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