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Aplicativo de celular permite que povos e comunidades tradicionais enviem informações ao MPF

Banco de dados pode auxiliar decisões judiciais em casos de conflito pela terra

O Liberal
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O aplicativo Tô no Mapa agora faz parte da Plataforma de Territórios Tradicionais do Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais junto ao MPF (Ministério Público Federal). A novidade permite que povos e comunidades, muitas vezes fora dos mapas oficiais, podem enviar informações sobre seus territórios com maior praticidade, em mais um passo para a regularização de Territórios Tradicionais no Brasil.

A parceria visibiliza a existência dos Territórios das populações tradicionais e busca subsidiar decisões judiciais, a proteção de territórios sob ameaça e a criação de políticas públicas específicas. Para contribuir com a prevenção e com a mitigação de violações a direitos humanos, a Plataforma de Territórios Tradicionais emite um certificado atestando que a comunidade é tradicional e organiza um acervo de dados georreferenciados de áreas ocupadas tradicionalmente por povos e comunidades.

“A integração visa fortalecer o mapeamento das comunidades e facilitar o acesso à Plataforma de Territórios Tradicionais. Agora, as comunidades poderão fazer parte desse banco de dados que tem como objetivo prevenir a violação de direitos e garantir os direitos territoriais”, diz a pesquisadora no Tô no Mapa e coordenadora de projetos no IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Isabel Castro.

Em operação há um ano, o Tô no Mapa é um aplicativo de celular para o automapeamento de Territórios Tradicionais pelas pessoas que moram nas comunidades. Para tal, sempre que possível, as comunidades contam com apoio e suporte da equipe do Tô no Mapa por meio de oficinas de capacitação. Já são 91 territórios mapeados que ocupam, juntos, uma área de quase 500 mil hectares -- tamanho aproximado do Distrito Federal -- onde vivem mais de 10 mil famílias de populações tradicionais brasileiras como quilombolas, indígenas, geraizeiros, retireiros, comunidades de fundo e fecho de pasto, quebradeiras de coco babaçu, vazanteiros, ribeirinhos, extrativistas, além de agricultores familiares.

Mapa interativo

Desde segunda-feira (31), um mapa interativo com a localização e as características dessas comunidades tradicionais está disponível para acesso livre e gratuito, fruto da parceria entre Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e Rede Cerrado em parceria com o Instituto Cerrados.

“O mapa interativo visibiliza as comunidades que concordaram com a publicidade de seus dados e que participaram de todas as etapas necessárias para concluir o cadastro no Tô no Mapa. Nossa ideia é que ele esteja sempre em desenvolvimento, alinhado aos movimentos característicos da sociobiodiversidade de PCTAFs, e que também possa fortalecer as lutas das comunidades ao representá-las numa rede”, diz o assessor técnico de governança e engajamento do Tô no Mapa pelo ISPN, Bruno Tarin.

A maioria dos 91 territórios mapeados estão em Minas Gerais (23%), Mato Grosso do Sul (19%), Bahia (14%) e Goiás (14%). Também se cadastraram comunidades de Maranhão, Mato Grosso, Piauí e Tocantins. No total, são 11 segmentos de povos e comunidades tradicionais, além de agricultores familiares, com maior presença de quilombolas (37%), indígenas (19%), agricultores familiares (13%), geraizeiros (2%), retireiros (1%) e comunidades de fundo e fecho de pasto (1%).

Guia para a regularização

 

O Tô no Mapa apresenta o Guia de Formalização de Territórios Tradicionais com o lançamento do segundo relatório do projeto. Elaborado pelo Instituto Cerrados em consulta com MPF, ISPN e Rede Cerrado, o documento sistematiza de forma didática o processo de formalização de pedidos para reconhecimento territorial de comunidades tradicionais.

“Há milhares de comunidades tradicionais no Cerrado, uma sociobiodiversidade para se orgulhar, conhecer e proteger. No entanto, a maioria delas não tem ainda um reconhecimento formal e lida com dificuldades diversas, entre elas, as fundiárias”, afirma o integrante do Tô no Mapa e pesquisador no Instituto Cerrados, Yuri Salmona. “O Guia de Formalização dos Territórios Tradicionais é um documento inédito que elaboramos junto dos nossos parceiros, no qual reunimos as principais orientações sobre as diferentes possibilidades e um passo a passo para a formalização desses territórios.”

Com a proposta de contribuir com o protagonismo e com as lutas das comunidades pela garantia de direitos, o guia é compartilhado com representantes de territórios já no início do cadastro no aplicativo, e agora está também disponível no site do Tô no Mapa.

Próximos passos

O Tô no Mapa é desenvolvido em software livre e passa constantemente por melhorias na experiência de usuário, tendo em vista a segurança e a transparência do aplicativo. A participação das comunidades é necessária, inclusive, para reforçar a proteção: no momento do cadastro deve-se autorizar ou não a divulgação de dados dos territórios.

Para 2022, a iniciativa planeja novas articulações e aprimoramentos para aumentar a representatividade de comunidades no Tô no Mapa. A construção de parcerias com organizações da sociedade civil, movimentos sociais e universidades é um passo importante também para aprofundar análises de dados levantados pelo aplicativo, para gerar evidências sobre o papel das comunidades na conservação da sociobiodiversidade e para ampliar a segurança fundiária dos territórios.

O diálogo com representantes de povos, comunidades tradicionais e agricultores familiares continua sendo fundamental para que o Tô no Mapa possa seguir respeitando e refletindo seus pontos de vista.

Sobre o Tô no Mapa

O aplicativo Tô no Mapa foi lançado em outubro de 2020 a partir de uma lacuna percebida nos dados oficiais sobre Territórios Tradicionais no Brasil. Um levantamento realizado pelo IPAM e ISPN em parte do Matopiba, região do Cerrado que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, mostrou que lá existem 3,5 vezes mais comunidades do que dizem os órgãos governamentais responsáveis.

Foi a partir de oficinas, pesquisas e do diálogo com as comunidades que o Tô no Mapa se tornou uma ferramenta para o automapeamento e fortalecimento do debate sobre territórios. O projeto é atualmente financiado pela Climate and Land Use Alliance (CLUA ) e pela Good Energies Foundation, e tem o objetivo de construir um mapa que de fato expresse a realidade territorial de povos, comunidades tradicionais e agricultores familiares no país.

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