Ameaças e violência nas escolas precisam ser tratados com crianças de forma cautelosa; vídeo
Psicopedagoga e psicóloga infantil orientam a melhor maneira de tratar do assunto com os pequenos
Psicopedagoga e psicóloga infantil orientam a melhor maneira de tratar do assunto com os pequenos
Ameaças e violências em escolas têm acontecido com assustadora frequência nas últimas semanas. Ainda nesta terça, 11, o Ministério da Justiça e Segurança Pública criou um canal exclusivo para recebimento de informações sobre esses ataques. O cenário caracteriza o assunto como uma conversa importante e inadiável entre pais e filhos, bem como entre educadores e estudantes - o que deve ser feito de forma adequada, diz a psicopedagoga Larissa Lagreca.
"Algumas vezes, com o intuito de proteger, os pais evitam falar dos perigos do mundo para as crianças, mas a gente tem que falar, só que sempre de acordo com a faixa etária", sinaliza a Larissa, que também é mãe e especialista em orientação de pais.
Larissa Lagreca explica que, dependendo da idade, a criança ainda não faz muito bem a distinção entre realidade e fantasia, por isso, é importante que pais e familiares, primeiramente, tentem filtrar os conteúdos relacionados à violência nas escolas aos quais essa criança pode ter acesso.
"A criança de 6-7 anos não tem muito a distinção de realidade e fantasia. Às vezes ela assiste algo na TV e quer trazer para a sua realidade. Os pais precisam ficar atentos principalmente aos telejornais para não causar medo quanto ao que aconteceu. Uma criança ouvindo 'o número de crianças morreram na escola', pode criar o medo de ir para escola e morrer", exemplifica.
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A psicopedagoga enfatiza que evitar que a criança tenha acesso aos conteúdos sobre os ataques em escolas não significa que não se deve conversar com elas sobre violência. Ao contrário, Larissa afirma que o assunto precisa ser tratado desde cedo.
"Não existe uma idade mínima para começar a falar sobre violência, até porque, atualmente, existem vários livros de educação infantil que tratam sobre as emoções, como a raiva, que geralmente é uma emoção que pode gerar violência. Ela precisa entender que, quando está com raiva, não pode machucar o colega, não pode jogar o que tem na frente, não pode machucar animais etc., para expressar essa raiva".
Tanto pais quanto educadores têm responsabilidade, diz a psicopedagoga. No ambiente escolar, oficinas, palestras, brincadeiras, dinâmicas e outros recursos pedagógicos podem ser utilizados. Em casa, diálogo e observação predominam.
"Todo mundo em volta da criança tem a obrigação de falar, tanto pais, quanto professores, avós etc. Um dos principais papéis da escola, por exemplo, é verificar a própria violência que às vezes a criança sofre em casa - o que geralmente reflete na escola, ficando mais depressiva, tendo algum déficit de aprendizagem ou reproduzindo a própria violência. Nas escolas, as crianças têm acesso a várias atividades para que elas se abram e expressem seus sentimentos. Em casa, os pais precisam ficar de olho no comportamento da criança e buscar dialogar sempre".
A psicóloga infantil Thaís Lobato alerta que o contato com violência pode gerar danos no desenvolvimento do cérebro infantil de maneira concreta, trazendo prejuízos para a vida da criança e do futuro adolescente e adulto:
"O cérebro da criança, perante uma violência, ativa o modo de sobrevivência, ativando vários neurotransmissores como a adrenalina e o cortisol, que são neurotransmissores de estresse. Ele fica em estado de alerta o tempo todo e isso vai ocasionando alguns danos cerebrais", explica.
Thaís acrescenta que, mesmo quando a criança é muito pequena, ainda não entendendo completamente o mundo ao seu redor, o seu cérebro é capaz de processar a violência e ativar os mesmos neurotransmissores, gerando sequelas que serão percebidas no futuro.
"A partir dos 5 anos, quando ela começa a tomar mais consciência da realidade e ter medos mais concretos - que não aqueles relacionados a fantasmas ou bicho-papão -, a criança começa a entender realmente o que é a violência na sociedade e começam a ter medos reais".
Por isso, Thaís também defende a necessidade de uma educação emocional e social sobre violência desde cedo: "As consequências da falta dessa educação é o que está acontecendo hoje, nas escolas: as crianças não estão preparadas para isso. Elas começam a ter ataques de pânico, um nível de ansiedade e estresse elevado e até desenvolver alguma depressão".
Fonte: psicopedagoga Larissa Lagreca