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Amazônidas estão sob risco extremo da covid-19

A concentração do atendimento à saúde em grandes cidades eleva a vulnerabilidade das populações que vivem no interior

Eduardo Rocha

Se nos grandes centros urbanos das cidades amazônicas a situação é dramática com relação à prevenção e ao atendimento a pacientes com covid-19, imagine o cenário de risco para as comunidades tradicionais que habitam o interior da Amazônia, como agricultores, coletores de frutas, ribeirinhos, quilombolas e indígenas.

É para alertar governantes e setores em geral no País sobre essa situação que um grupo de pesquisadores da Coalizão Ciência e Sociedade (73 cientistas de instituições de regiões do Brasil) acaba de divulgar o artigo "A vulnerabilidade das populações do interior da Amazônia à covid-19".

No documento, eles elencam aspectos da relação de perigo existente entre cidadãos das cidades no interior da região com a disseminação da covid-19. Ima Viera, ecóloga e ex-diretora do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), integra o grupo de pesquisadores e conversou com Redação Integrada de O Liberal.

"A Amazônia possui os piores indicadores socioeconômicos do País, como o baixo acesso a serviços de saúde e de saneamento básico. A vulnerabilidade se apresenta cruel em uma série de fatores: Aqui temos as áreas mais vulneráveis em termos de leitos de UTI e respiradores/ventiladores e a menor menor proporção de médicos e fisioterapeutas por 100 mil habitantes. Muitas famílias não têm como isolar os doentes porque as casas possuem poucos cômodos e muitas pessoas morando juntos. Muitas pessoas não podem aderir à quarentena poque têm que se expôr a ambientes externos para trabalhar. O auxilio emergencial do Governo não chega a todos", enfatiza.

A pesquisadora observa que "há uma concentração do atendimento à saúde em grandes cidades, e isso eleva a vulnerabilidade das populações que vivem no interior- a maioria das UTIs e respiradores estão em Belém".

Contatos

Esses amazônidas, apesar de viverem isolados, têm contato com pessoas de fora da área em que vivem e que lá chegam em busca de recursos naturais, por exemplo. "A maior parte da  população da Amazônia vive nas cidades, que possuem, aliás, péssima infraestrutura. E a dinâmica das cidades amazônicas é associada a intensas atividades em torno de projetos minerários, agropecuária, hidroelétrica e o fluxo de pessoas e contatos é muito alto. Não foi à toa que um dos primeiros casos ocorreu na área da Mineração Rio do Norte. E esses projetos não pararam. Além disso, há um fluxo grande de pessoas em torno de garimpos, áreas indígenas e as ameaças de contágio desses povos são altas", assinala Ima Vieira.

O grupo de pesquisadores destaca que no Pará "45% dos municípios têm mais da metade de sua população em situação de pobreza extrema, e políticas de proteção social e humanitária, que respeitem a saúde, a vida e os direitos dessas populações mais vulneráveis, precisam ser implementadas emergencialmente".

"Nós, cientistas, entregamos ao governador do Estado um documento com uma série de sugestões para o enfrentamento da doença. O isolamento social com proteção social precisa ser garantido; uma ampla campanha de informações sobre a doença e como prevenir o contágio.  O uso de máscaras è importante e deveria haver uma ampla campanha de conscientização e distribuição de máscaras para a população. Máscara salva! Há outras medidas no documento que podem ser implementadas", pontua Ima Vieira.

No Marajó, como informam os pesquisadores, já são 54 casos e oito mortes - em 21 deste mês de abril eram apenas 12 casos confirmados. "Esta região possui os piores índices de desenvolvimento humano do Brasil - Cachoeira do Arari e e Afuá possuem 20% da população sem qualquer rendimento.

A distribuição dos hospitais e a oferta de leitos de UTI e equipamentos são decisivos para preservar a vida dos doentes. E, nesse ponto, a desigualdade pode ser fatal no Marajó e em outras regiões do interior da Amazônia", salienta  a pesquisadora.
Essas populações na Amazônia, segundo os pesquisadores, precisam de orientações específicas e explícitas, de políticas e programas de renda mínima, acesso à água potável, insumos básicos e assistência médica, como respostas concretas do Poder Público às suas necessidades.

O artigo foi produzido por: Joice Ferreira, bióloga, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, Belém; Erika Berenguer, pesquisadora Sênior nas Universidades de Oxford e Lancaster (Reino Unido), especialista em Florestas
Tropicais; Ima Vieira, ecóloga, pesquisadora do Museu Emílio Goeldi, Belém, Mercedes Bustamante, professora titular da Universidade de Brasília, e Thiago Medaglia, jornalista, fellow do Programa Knight de Jornalismo Científico do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e fundador da Ambiental Media.

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