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Alvoroço sobre jornalista Renata Vasconcellos reflete estereótipos machistas

Ativista e pesquisadora desmentem postagens e avaliam repercussão da rede

Márcia Carvalho - especial para O Liberal

"Renata Vasconcellos mostra parte dos seios ao vivo e choca internet": carregada de sensacionalismo, a manchete reproduzida em vários sites de notícias, nesta sexta-feira (22), afirmava que a jornalista Renata Vasconcellos, apresentadora do Jornal Nacional, havia sido "traída" pelo figurino e teria exibido os seios durante uma chamada sobre a prisão do ex-presidente Michel Temer.

Mas quem observar o vídeo pode conferir que Renata usava um casaco com os botões abertos e, por baixo, uma blusa da cor nude. No entanto, bastaram alguns comentários de internautas para que, na sequência, sites de notícias e celebridades repercutissem como verdade a exposição do corpo da jornalista.

Mas, afinal, o que há por trás de tamanho alvoroço? E o que tudo isso tem a ver com o machismo?

image Edição do noticiário: estopim para debates sobre mulheres, mídias e redes (reprodução)

Comportamento e mídias

Para a professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará, Ana Prado, doutora em Ciência da Informação e Estudos Midiáticos, é lamentável perceber que dentro do jornalismo exista um segmento que fomente a percepção do corpo feminino como objeto.

"É mais importante comentar a blusa ou um botão que não fecha na roupa de uma apresentadora, de uma jornalista, do que efetivamente a gravidade da notícia que ela relatava. Isso ganha uma proporção ainda maior pela rapidez e capacidade de alcance da internet, ajudando a ratificar uma realidade nefasta, fazendo brincadeira, criando memes, como sempre se fez em relação à mulher", diz ela.

Ana Prado observa que, numa cultura machista, o corpo feminino é considerado um objeto que deve ser apropriado, desfigurado, desvelado, numa tentativa de desqualificar a mulher.

"E mais grave ainda quando isso vira notícia. São os fait divers, como aponta Roland Barthers. Ou seja, não existe uma notícia em si – afinal, qual a importância do botão da blusa da Renata Vasconcellos, sobretudo diante do que aconteceu ontem no Brasil, a prisão de um ex-presidente?", questiona Ana Prado.

"Quando o próprio jornalismo se propõe a isso, suscitar a proliferação e a consolidação dessa imagem distorcida do que vem a ser a mulher profissional, a jornalista, para ressaltar o corpo dela, a gente percebe um equívoco em vários níveis, e o próprio jornalismo precisa se repensar. O jornalista deveria ser o protagonista da luta contra essa perspectiva que objetifica ainda mais o corpo da mulher. Quando você tira o foco da gravidade da notícia para a roupa dela, para o corpo dela, você desconstrói a gravidade da situação política da informação que ela trazia", pondera a pesquisadora.

Mulheres nas redes

A advogada Natasha Vasconcelos, presidente da Comissão da Mulher da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PA), afirma que essa objetificação do corpo da mulher pela mídia é recorrente. Ela cita como exemplo a posse da ex-presidenta Dilma, um evento histórico de participação feminina na política, por ser a primeira mulher a chegar à presidência do Brasil.

"Mas o que os jornais noticiaram? A beleza e elegância da primeira dama! A pauta mais importante acaba sendo a objetificação e aquilo que agrada os olhares masculinos", ressalta Natasha.

Neste episódio envolvendo a apresentadora do Jornal Nacional, Natasha Vasconcelos aponta que "um mero botão desabotoado foi suficiente para deixá-los histéricos sobre suas fantasias objetificadas, mesmo que tenha sido confirmado que, por baixo do casaco, existia uma blusa", avalia a advogada. 

"Nós, feministas, descortinamos essa histeria masculina da objetificação o tempo todo, mas é preciso que a mídia esteja atenta, para não reproduzir o machismo quando pautar este assunto".

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