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Ainda tem um pedral no meio do rio Tocantins

À altura do município de Itupiranga, o pedral, de 43 quilômetros de extensão, é uma formação rochosa, localizada entre a Ilha do Bogea e a localidade de Santa Terezinha do Tauri

Eleutério Gomes/ Especial para O Liberal
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"No meio do caminho tinha uma pedra/ Tinha uma pedra no meio do caminho/ Tinha uma pedra/ No meio do caminho tinha uma pedra". Os versos de Carlos Drummond da Andrade nunca foram tão oportunos quando se fala na tão sonhada – há mais de 30 anos – Hidrovia Tocantins-Araguaia. Só que, em vez de uma pedra, há um pedral no meio do Rio Tocantins. O Pedral do Lourenção ou Pedral do Lourenço.

À altura do município de Itupiranga, o pedral, de 43 quilômetros de extensão, é uma formação rochosa, localizada entre a Ilha do Bogea e a localidade de Santa Terezinha do Tauri. Vem à tona durante o verão amazônico e torna impraticável a navegação pelo Tocantins. Ao contrário do que acontecia bem antes da década de 1980, quando pelo rio escoava toda a produção regional, sobretudo a de castanha-do-pará, que pelos caminhos fluviais chegava até Belém.

Com a inauguração das Eclusas de Tucuruí, em novembro de 2010, esperava-se que a derrocagem (retirada das rochas com o emprego de explosivos) do pedral acontecesse em seguida, revitalizando assim, a navegação pelo rio, a estrada fluvial pela qual aconteceria o escoamento da produção agrícola, pecuária e mineral, entre outras, dos estados do Pará, Maranhão, Tocantins, Goiás e Mato Grosso. Pura ilusão.

Desde 2013, são muitas idas e vindas, anúncios, assinaturas de ordens de serviço e outras pirotecnias políticas. Por último, o então ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, prometeu que ainda em 2021, a primeira etapa da derrocagem, um trecho de 52 quilômetros, de Marabá a Novo Repartimento, seria inaugurada e, em 2023, o canal estaria livre para a navegação.

Já estamos a menos de seis meses do final de 2022, nada aconteceu e mais uma promessa se esvaiu. As rochas continuam lá, duras, silenciosas como devem ser as rochas, assim como silenciosos estão os governos estadual e federal, o Dnit e o Ibama.

O Ibama, por sinal, tem sido o bode expiatório da não derrocagem do Pedral do Lourenção ou do Lourenço. Coloca-se no órgão a culpa, porque, há mais de dois anos, dorme em uma gaveta qualquer do instituto a Licença Ambiental, que, emitida, será o toque do despertador para que todos acordem e façam sua parte na tão esperada obra.

E os nossos "legítimos representantes" em Brasília, no Congresso Nacional, onde estão nesses anos todos? Poderiam atuar no Ibama, mas não se ouve uma palavra sobre o assunto. Onde estão os que apoiam o governo federal? Que apoio é esse, que não tem contrapartida? "Ah, é que o Ibama está cheio de esquerdistas. Por isso estão travando a licença do pedral", chegou a dizer alguém.

Porém, um ex-dirigente da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), que esteve em Marabá no primeiro semestre deste ano, disse que não é isso. Afirmou que o corpo de analistas do Ibama não é formado por políticos, são técnicos, antigos e responsáveis, que em suas mesas têm outras dezenas de projetos para avaliar e emitir licenças. Mas aconselhou que uma cobrança constante – cobrança, não pressão – de políticos paraenses ao órgão, certamente apressaria a emissão da licença.

Enquanto isso, Marabá e outros municípios que já poderiam estar sendo muito beneficiados com a hidrovia, vão lutando com as próprias forças, atraindo um investimento aqui, outro ali, uma ponte rodoferroviária aqui, uma usina de ferro-gusa ali, uma aciaria acolá, uma fábrica de correias se expandindo mais adiante.

 E fazendo acontecer com os esforços de suas lideranças empresariais, de suas entidades de classe, que, com muito diálogo, muito jogo de cintura, vão conseguindo mais que os governos, mais que os nossos "legítimos representantes", estes, que, como as rochas do pedral, seguem, mudos e parados!

 

Eleutério Gomes – Jornalista ( jornalista15@gmail.com) 

 

 

         

 
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