Exército israelense transfere parte de tropas de Gaza para a fronteira com a Síria
Quartel-general do Exército sírio em Damasco foi bombardeado pelo Exército de Israel nesta quarta-feira

Israel bombardeou o quartel-general do Exército sírio em Damasco nesta quarta-feira (16), após ameaçar intensificar seus ataques caso as forças governamentais não se retirem de Sweida, uma cidade de maioria drusa no sul da Síria onde mais de 300 pessoas foram mortas em vários dias de confrontos.
Os conflitos entre combatentes drusos e tribos beduínas sunitas começaram no domingo, depois do sequestro de um comerciante druso, que desencadeou uma série de raptos em retaliação, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
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As forças do governo sírio anunciaram sua intervenção na segunda-feira para conter a violência e foram posicionadas no dia seguinte em Sweida, até então controlada por combatentes drusos.
O OSDH, testemunhas e grupos drusos acusaram as forças de segurança de inúmeros abusos, incluindo execuções sumárias de civis e saques.
De acordo com a organização, 300 pessoas foram mortas desde o início dos confrontos, o que levou à intervenção das forças governamentais. A maioria são combatentes de ambos os lados, bem como 40 civis drusos, 27 dos quais foram sumariamente executados pelas forças do governo.
A presidência da Síria prometeu investigar os incidentes e "punir todos aqueles" que cometerem crimes contra os residentes de Sweida.
Israel, que ocupa e anexou a maior parte das Colinas de Golã sírias - onde vive uma grande população drusa - reiterou nos últimos dias que não permitirá nenhuma presença militar no sul da Síria, perto da fronteira comum.
O ministro da Defesa Israel Katz disse que "Israel não abandonará os drusos na Síria" e que o Exército "agirá com força" na região de Sweida "para eliminar as forças que atacaram os drusos até sua retirada completa".
Os drusos são uma minoria proeminente no Oriente Médio, cuja religião deriva do islamismo xiita. Eles estão presentes no Líbano, no sul da Síria e no Golã sírio ocupado por Israel.
A violência ilustra os desafios enfrentados pelo governo interino de Ahmed al Sharaa desde que ele e uma coalizão de grupos rebeldes sunitas derrubaram Assad em dezembro, em um país marcado por quase 14 anos de guerra civil.
Reforço militar na fronteira
Os militares israelenses cumpriram a ameaça e realizaram vários bombardeios em Damasco nesta quarta-feira, incluindo na entrada do quartel-general do exército sírio, no centro da capital, e anunciou que havia atacado um "alvo militar" na área do palácio presidencial.
O Ministério da Saúde da Síria anunciou que estes ataques deixaram um morto e 18 feridos.
O Exército israelense também informou o reforço de sua presença militar na fronteira com a Síria, após transferir parte de suas tropas destacadas em Gaza, e afirmou que identificou "dezenas de suspeitos" que tentavam cruzar a fronteira.
Dezenas de drusos atravessaram esta passagem de ambos os lados nesta quarta, sob gases lacrimogêneos das forças israelenses, informou um correspondente da AFP.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netahyahu, instou os drusos israelenses a não cruzarem a fronteira.
O enviado dos Estados Unidos para a Síria, Tom Barrack, exigiu que "todas as partes" "retrocedam", enquanto a União Europeia pediu o "respeito" à soberania síria após os ataques israelenses.
"Salvem Sweida"
Em Sweida, um correspondente da AFP viu cerca de 30 corpos estendidos no chão, alguns deles de forças do governo e outros de combatentes em roupas civis, sem conseguir identificá-los.
"Estou no coração da cidade de Sweida, ao lado do prédio do governo (...) Não vou sair e, de qualquer forma, não há como escapar", relatou um morador à AFP por telefone.
"Se eles vierem aqui, estarei morto. Há execuções sumárias nas ruas", acrescentou o homem, que não revelou sua identidade.
O Ministério da Defesa da Síria disse que "grupos à margem da lei retomaram os ataques contra o Exército e as forças de segurança interna na cidade", após o cessar-fogo declarado na terça-feira, e pediu aos moradores que ficassem em casa.
Uma fonte do Ministério do Interior, citada pela agência oficial Sana, anunciou um novo cessar-fogo em Sweida nesta quarta e "o destacamento de postos de controle de segurança na cidade".
Nesta quarta-feira, um dos líderes religiosos drusos mais influentes, Hikmat al Hejri, fez um apelo ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, "e a todos aqueles que têm influência no mundo".
"Salvem Sweida. Nosso povo está sendo exterminado e assassinado a sangue frio", declarou.
Os principais líderes religiosos drusos têm posições divergentes, e Hejri se dissociou na terça-feira ao pedir aos combatentes da minoria para não deporem suas armas.
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