EUA atacam território da Venezuela e destroem estrutura 'ligada ao narcotráfico', diz Trump
Seria o primeiro ataque em solo desde o início da campanha contra o narcotráfico na América Latina
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira, 29, que o país atacou e destruiu uma zona de atraque de embarcações na Venezuela. O local, supostamente usado pelo narcotráfico, marcaria o primeiro ataque em terra desde o lançamento da campanha militar contra o narcotráfico na América Latina.
"Houve uma grande explosão na área de um cais onde carregam as embarcações com drogas", disse o presidente americano a jornalistas. Ele acrescentou que atacaram "todas as embarcações e agora a zona de atraque, que já não existe".
Trump apenas indicou que a ação ocorreu "na costa", sem fornecer detalhes sobre a operação militar ou a localização exata do ataque.
O presidente já havia aludido ao ataque em uma entrevista à rádio WABC na sexta-feira, 26. Durante conversa com John Catsimatidis, bilionário republicano e apoiador do presidente, Trump mencionou a destruição de "uma grande instalação" dois dias antes.
Após as declarações, o jornal americano The New York Times contatou o Pentágono e a CIA. Ambas as instituições, porém, informaram não possuir informações para compartilhar. A Casa Branca também se recusou a comentar sobre o assunto.
Primeiro Ataque Terrestre e Campanha Militar
Se a declaração de Donald Trump for confirmada, este seria o primeiro ataque terrestre registrado desde o início da campanha militar contra a Venezuela.
O presidente americano havia prometido o início de uma ofensiva terrestre contra Caracas, mas não havia anunciado um ataque específico. A Venezuela ganhou protagonismo em 2025 ao se tornar alvo de uma campanha de intimidação do governo americano. Após mobilizar mais de 20% de suas tropas para o Caribe sob a justificativa de combater o narcotráfico, os Estados Unidos não esclareceram suas intenções completas.
O contingente enviado por Washington à região inclui navios de guerra, o maior porta-aviões do mundo, submarinos nucleares, drones e bombardeiros. Além da intimidação, os EUA realizaram bombardeios em águas internacionais, alegando estar matando traficantes que transportariam drogas para Washington. Mais de 25 ataques foram realizados, resultando na morte de pelo menos 95 pessoas.
O presidente americano também decidiu bloquear todos os petroleiros sob sanção que operem na Venezuela, o que levou ao confisco de pelo menos duas embarcações. Washington acusa Caracas de usar a venda de petróleo para financiar o "narcoterrorismo, o tráfico de seres humanos, assassinatos e sequestros".
Apesar da justificativa oficial de combater o narcotráfico, indícios apontam que a intenção do presidente americano é retirar o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, do poder. Os dois líderes chegaram a conversar por telefone e negociaram possíveis acordos, mas Trump não demonstrou flexibilidade, desejando a saída de Maduro, segundo jornais americanos.
ONU denuncia bloqueio naval e violação do Direito Internacional
Em meio à campanha militar de Donald Trump, especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) denunciaram, na semana passada, o bloqueio naval ordenado por Trump. Para eles, a medida americana constitui um "ataque armado" e viola o direito internacional.
"Não existe o direito de impor sanções unilaterais por meio de um bloqueio armado", afirmaram os especialistas designados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU – ressalvando que não falam formalmente em nome da organização. Eles apontam que "trata-se de um uso da força tão grave que é expressamente reconhecido como uma agressão armada ilegal na Definição de Agressão adotada pela Assembleia Geral em 1974".
Os relatores consideram que a ação configura um ataque armado nos termos do artigo 51 da Carta das Nações Unidas, que, em tese, confere ao Estado vítima o direito à legítima defesa.
Os especialistas também criticaram duramente os ataques de Washington a supostas embarcações de traficantes, ressaltando a ausência de provas públicas de que tais barcos estivessem, de fato, transportando drogas.
Em reunião do Conselho de Segurança da ONU em 23 de dezembro, Rússia e China criticaram a pressão militar e econômica exercida pelos Estados Unidos sobre a Venezuela, classificando a postura de Washington como "comportamento de cowboy" e "intimidação". O embaixador da Venezuela na ONU, Samuel Moncada, também se manifestou perante o Conselho: "Estamos diante de uma potência que atua à margem do direito internacional, exigindo que nós, venezuelanos, abandonemos nosso país e o entreguemos".
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