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Ameaças e assassinatos marcam cenário político no México às vésperas da eleição presidencial

Na disputa eleitoral, Cláudia Sheinbaum deve vencer sem dificuldades para o cargo de presidente. Mas fora dos palanques, o cenário no país é de violência

Gustavo Freitas
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No próximo dia 2, milhares de mexicanos vão às urnas para escolher quem presidirá o país pelos próximos seis anos. Todas as pesquisas apontam para uma vitória sem maiores dificuldades da candidata do governo, Cláudia Sheinbaum, que lidera por larga vantagem a disputa contra a oposicionista Xóchitl Galvez. O país viverá um momento inédito na sua história: pela primeira vez, o México será governado por uma mulher.

A popularidade do atual presidente mexicano, López Obrador, é peça-chave na campanha de Cláudia Sheinbaum. Segundo pesquisa realizada pelo instituto AS/COA, AMLO é aprovado por 72% dos mexicanos, tornando-o o chefe de Estado mais popular da América Latina, mas a reeleição é vedada pela constituição do país.

Se na disputa eleitoral não há um enfrentamento acirrado, fora dos palanques o país tem vivido cenários de ameaças e assassinatos de candidatos em todo o território. Entre junho do ano passado e maio deste ano, 63 pessoas diretamente envolvidas com as eleições foram assassinadas no México, número quase três vezes maior que o registrado em 2018.

image Xochitl Galvez (esquerda) e Claudia Sheinbaum (Fernando Llano/AP)

Dados do centro mexicano Laboratorio Electoral apontam que este número envolve candidatos e pré-candidatos de todo o espectro político do país. No último dia 8, a candidata à prefeitura de Mante, Sheila Palacios, precisou subir no palanque pela primeira vez para substituir Noé Ramos Ferretiz, seu marido, morto a facadas no último dia 19 de abril.

Ameaças e assassinatos de candidatos se tornaram comuns no país, e costumam acontecer durante o período de pré-campanha, quando o narcotráfico usa o medo e o poder para controlar o ambiente político em todo o território. Em meio ao crescimento da onda de violência, mais de 400 candidatos receberam proteção do governo para disputar as eleições.

Os três principais nomes disputando a presidência passaram a ser protegidos por 24 policiais cada, além de governadores, deputados, senadores e prefeitos que também receberam reforço na sua segurança pessoal.

A disputa territorial é um dos principais fatores que levaram o país a viver uma onda cada vez mais crescente de violência política. O Estado não consegue impedir que os cartéis vivam em constante conflito pelo território, que por sua vez, aproveitam a situação para exercer influência dentro do aparato estatal mexicano.

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"Grupos criminosos precisam obter acesso ao Estado mexicano para garantir seus interesses e sua sobrevivência. Isso garante desde impunidade até recursos, a partir de contratos públicos, e acesso a folhas de pagamento governamentais", explica Falko Ernst, analista sênior do Crisis Group para o México.

A líder nas pesquisas, Claudia Sheinbaum, declarou que o país ainda vive as consequências da guerra ao narcotráfico declarada pelo ex-presidente Felipe Calderón, que governou o país de 2006 a 2012. No seu governo, Calderón promoveu a Iniciativa Mérida, um plano de combate ao crime organizado que mobilizou as Forças Armadas para retomar territórios controlados pelos narcotraficantes.

A Iniciativa Mérida contou com o apoio financeiro dos Estados Unidos, que destinou 1,4 bilhões de dólares para frear o trânsito de cocaína e outras drogas no país norte-americano. O plano, entretanto, acabou apenas desmembrando os sete principais cartéis do país em mais de setenta novos grupos criminais, reforçando a militarização das forças de segurança e sem nenhum retorno efetivo no combate ao crime organizado.

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Segundo a revista Science, o crime organizado no México movimenta cerca de 175 mil membros e já dinamizou a economia criminal, adentrando também ao setor de alimentos, transportes, armas e lavagem de dinheiro. Atualmente, os cartéis são considerados o quinto maior empregador em todo o país.

Em Michoacán, as organizações do narcotráfico disputam o controle da produção e do tráfico de drogas como metanfetamina, cocaína e maconha, além de estenderem suas atividades criminosas ao corte clandestino de florestas, sequestros e cobrança de aluguel, extorquindo comerciantes e empresários.

Na região de Tierra Caliente, Michoacán, operam organizações criminosas que se autodenominam Cartel Nova Geração de Jalisco (CJNG), os Cavaleiros Templários e o Cartel Tepalcatepec, este último liderado pelo narcotraficante Juan José Farías Álvarez 'El Abuelo', identificado como um dos os principais perfis que se infiltraram nos grupos civis que pegaram em armas em fevereiro de 2013.

Em entrevista recente, Sheinbaum criticou o plano proposto pela oposição de guerrear contra o narcotráfico, alegando que a solução está na educação. "De um lado estão propondo mega prisões para os jovens; nós propomos universidades e educação pública de qualidade para os mais jovens, dando atenção às causas", disse.

Além disso, garantiu que, na capital do país, durante a sua gestão como Chefe do Governo, reduziu a incidência da criminalidade com novas universidades e escolas de ensino secundário. Por isso, Claudia Sheinbaum garante que, caso vença as eleições, seguirá esta filosofia no comando do país.

Recentemente, a agência antidrogas dos Estados Unidos(DEA) apontou o Cartel de Sinaloa e do CJNG como os principais responsáveis pela epidemia de drogas sintéticas em território norte-americano. "Eles estão por trás da pior crise da história dos Estados Unidos", afirmou a agência. O presidente mexicano rebateu o relatório durante a La Mañanera, seu programa que vai ao ar diariamente no início da manhã, alegando que o DEA não abordou as causas da crise e que as soluções buscam apenas procurar culpados fora dos Estados Unidos. "É muito fácil para eles culparem apenas o México", afirmou.

O aumento da insegurança é a principal insatisfação entre mexicanos que, apesar de aprovarem massivamente o presidente López-Obrador, desaprovam suas políticas de combate ao crime. Ameaças, sequestros e assassinatos têm crescido tão rapidamente que as análises estatísticas não conseguem acompanhar, tornando a eleição de 2024 a mais violenta da história do país.

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