Projeto social de judô transforma vidas e revela talentos em Icoaraci

Criado há cerca de um ano, o projeto Judô sem Fronteiras incentiva a prática esportiva ao mesmo tempo em que forma cidadãos

Luiz Guillherme Ramos
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Em pleno feriado de 15 de agosto, o salão da Igreja Betel, na Ponta Grossa de Icoaraci, retira as cadeiras que servem para receber os fiéis e abre espaço para um tatame, ocupado por dezenas de crianças. Todas elas com um sonho em comum: fazer do esporte uma opção de vida. Assim se desenvolve o projeto Judô sem Fronteiras, que há quase um ano trabalha com a formação de atletas de comunidades carentes da região de Icoaraci, na Grande Belém.

O salão lotado de atletas e familiares é parte da rotina do mestre Geraldo, idealizador do projeto, que vê na atitude uma forma de agradecer por tudo aquilo que fizeram por ele no passado.

“Esse projeto é um sonho de muitos anos. Passei a congregar aqui na igreja com o pastor Augusto. Junto com a minha comissão técnica, sentamos, conversamos e criamos um projeto na igreja. Abrimos espaço e, aos poucos, chegaram muitas crianças. Hoje, já são 120 participantes. Eu vim de um projeto social, então o que posso fazer é estender as mãos da mesma forma que estenderam para mim. Nosso grande objetivo é desenvolver esse trabalho e ajudar a formar cidadãos.”

Judô sem fronteiras

Mestre Geraldo é faixa-preta de judô há 14 anos e hoje se dedica a ensinar crianças e jovens, enfrentando diversas questões que dificultam o progresso natural dos atletas. Apesar disso, mantém a firmeza no olhar ao enxergar nos garotos um potencial que o próprio Estado muitas vezes se omite em ver.

“Começamos com apenas 9 peças vermelhas, depois conseguimos uma doação de mais 10, e o deputado estadual Zeca Pirão nos doou 42 placas de tatame e 20 kimonos. Também contamos com o apoio da igreja e da Eco Farma, que patrocina o lanche das crianças em todos os treinos, mas a maior dificuldade é a falta de apoio e patrocínio. Sempre que possível, o Pastor Augusto e os irmãos da igreja ajudam nas inscrições, mas não é suficiente. Com tantos atletas, precisamos selecionar quem vai competir. Apesar dessas dificuldades, seguimos sonhando e trabalhando com as crianças, sempre buscando conquistar melhores espaços”, explica.

Resultados

Os treinos acontecem aos sábados na Igreja Betel, localizada no bairro Ponta Grossa; às terças e quintas, no Instituto Federal do Pará (IFPA); e às quartas e sextas, na Escola Gabriel Lima, voltados para os competidores. Atualmente, cerca de 120 crianças participam do projeto, vindas de diferentes áreas como Paracuri, Ponta Grossa, Cruzeiro, Maura e Pedro Carneiro.

Entre elas está a jovem Maysa Paes, de 13 anos. De promessa, ela virou realidade e hoje desponta como um dos grandes exemplos nascidos em um projeto social.

“Antes, eu não praticava nada, não gostava de esportes. Mas, quando conheci o judô, me apaixonei. Meus pais sempre me apoiam e quero chegar a competições ainda maiores, quem sabe até internacionais. Quero muito disputar o mundial”, diz a garota, que está sempre acompanhada e incentivada pelos pais. “Estou treinando bastante, sempre gostei de aprender coisas novas, e isso é tudo novidade para mim. Meus pais sempre me acompanham em tudo que faço, me incentivam muito para que eu não desista, porque não é fácil.”

image Maysa Paes é um dos destaques do projeto Judô Sem Fronteiras. (Cristino Martins / O Liberal)

Hoje, Maysa treina há apenas quatro meses e já se prepara para disputar, em setembro, os Jogos da Juventude e, em outubro, o Campeonato Brasileiro, na Paraíba.

Após a rápida conversa com a equipe de reportagem, a garota se une às dezenas de crianças reunidas ali, sob as instruções do mestre Geraldo e de outros atletas, como Elias de Oliveira, faixa-preta e ex-atleta militar. Por ter origem também em projetos sociais, Elias traz para o Judô sem Fronteiras um olhar bastante apurado sobre as necessidades que as crianças enfrentam no dia a dia.

“Eu sei o valor que o esporte tem para recuperar crianças. Para mim, educação e esporte andam juntos: a criança precisa ir bem na escola e também se desenvolver no tatame. Eu fui atleta militar e hoje, como instrutor, vejo a importância de formar jovens que respeitam os pais, têm boa conduta e serão adultos de caráter. Às vezes percebemos quando uma criança não está bem. Conversamos, orientamos e, se necessário, falamos com os pais. Queremos que elas saiam daqui preparadas para enfrentar a vida, não apenas para ganhar medalhas”, comenta.

Futuro

Embora tenham sonhos grandiosos, eles não negam que as dificuldades acabam prorrogando o avanço de muitas conquistas que poderiam ser garantidas caso houvesse um apoio formal das instituições públicas.

“Outros estados têm apoio governamental para iniciativas como essa. Aqui, fazemos rifas e buscamos ajuda como podemos. Mas, mesmo com pouco, já conseguimos colocar atletas para competir fora do Pará. É gratificante ver o brilho nos olhos deles.”

image Elias de Oliveira é faixa-preta e auxilia no desenvolvimento do projeto. (Cristino Martins / O Liberal)

O projeto segue preparando atletas para as próximas competições, como a Copa Imperatriz, no Maranhão, o Grand Prix de Parauapebas e a Copa Internacional de Fortaleza. Entre os nomes promissores, além de Maysa, estão Kaleb, Antônio, Carlos, Isadora, Belle, Gustavo e Gael, entre tantas outras crianças e jovens, que tornam a jornada de mestre Geraldo e companhia muito mais gratificante, sabendo que o projeto Judô sem Fronteiras vai muito além dos tatames, realizando sonhos e formando cidadãos de caráter, comprometidos com o bem-estar da comunidade.

“Meu sonho é organizar o CNPJ do projeto para termos acesso a recursos e criar um centro de treinamento próprio, com estrutura completa. Se não formarmos atletas olímpicos, formaremos cidadãos de caráter. O judô nos deu mais medalhas olímpicas que qualquer outro esporte brasileiro, mas ainda falta reconhecimento. Aqui, trabalhamos com dedicação e fé para mudar realidades, uma criança por vez”, conclui Mestre Geraldo.

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