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Dominó, futebol de botão e a magia dos esportes de salão que atravessam as gerações

No lugar dos estádios e arenas, os salões da capital paraense recebem aficionados pelos esportes praticados em mesa; da tradição também surge uma nova geração, mantém viva a chama do esporte

Luiz Guilherme Ramos
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A cultura do esporte brasileiro, hoje guiada pela imponência dos grandes espetáculos, guarda com carinho uma tradição que pouco lembra a cantoria e a emoção despertada nos ginásios e arenas modernas. No lugar das músicas, faixas e coreografias, o silêncio e a concentração muitas vezes dão a tônica para os chamados esportes de salão, que hoje reúnem um grupo cada vez mais afinado com a concentração mental, o respeito e a união em prol do esporte.

Muito distante da agitação das torcidas, esportes como dominó e futebol de botão congregam um outro perfil de entusiastas, empenhados em não só resgatar a tradição, mas também formatar um novo perfil de jogo que hoje se estrutura de forma organizada e séria. Nesta edição, o Amazônia Jornal traz um pouco da intimidade que alimenta a prática dessas modalidades, que têm na capital paraense muitos simpatizantes e incentivadores.

Alguns desses esportes existem há muito tempo, antes mesmo da popularização do futebol, o esporte mais praticado no país. O dominó, por exemplo, remonta, extra-oficialmente, de cerca de 243 a 181 a.C, provavelmente nascido na China. De lá os registros apontam para uma popularização na aristocrática Europa do século XVIII, quando era jogado nas cortes, até desembarcar no Brasil, como forma de diversão para os escravos.

Com o passar dos anos, o dominó ganhou popularidade, diversificou seu público e se firmou como um esporte de salão. Hoje ele é praticado com frequência em clubes, associações e também no tradicional jogo de bairro, nas esquinas, garagens e até na sombra de árvores, mas engana-se quem acredita que só pessoas mais velhas pratiquem.

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Hoje, o dominó reúne famílias e possui um público cativo, tão firme quanto a prática do futebol de mesa, criado a partir, é claro, de uma adaptação do futebol. Os registros oficiais datam o surgimento em meados da década de 30, aqui no Brasil, criado pelo botonista brasileiro Geraldo Cardoso Décourt. A data de nascimento dele, dia 14 de janeiro, foi associada ao Dia do Botonista, pelo governo de São Paulo.

Embora sejam atividades com regras, dinâmicas e perfis diferentes, ambas possuem públicos fiéis e cativos, empenhados em resguardar a tradição e angariar novas possibilidades, tornando a magia do esporte acessível a qualquer pessoa.

Dominó

Jogado por 2 a 4 pessoas, o dominó é disputado em tabuleiro e possui 28 peças com números dos dois lados, com o propósito de dar seguimento às jogadas no centro da mesa e o primeiro que consegue livrar-se de todas é tido como o vencedor. A base, embora simples, traz uma série de detalhes que o tornam um dos esportes com maior exigência de raciocínio que se pode imaginar.

Em Belém, o esporte tem calendário fixo, organizado pelo Sindiclubes, que reúne dezenas de participantes dispostos em times que disputam a partir deste ano o primeiro Campeonato Paraense. A cada rodada, cerca de 70 pessoas comparecem aos jogos, que são definidos em confrontos de dois times, com dois jogadores cada. De acordo com o presidente do Sindiclubes, Salatiel Campos, o dominó hoje é um esporte em ascensão que faz uma série de exigências a quem pratica, entre elas o respeito, o silêncio e a concentração mental.

"Se destaca bem no dominó as pessoas que tem o foco mais concentrado na organização, que usam mais o lado direito do cérebro. Pessoas mais cuidadosas, atenciosas. O dominó tem um processo dentro do teu cérebro e mexe com os teus neurônios de maneira que, tens que mexer e assimilar informações. Olhar o que acontece. Aqueles que usam mais o lado esquerdo, as pessoas mais práticas, essas não podem jogar dominó, porque elas não conseguem se concentrar", explica.

imageFrancisco e Silvana Gemaque jogam dominó há 30 anos (Cristino Martins / O Liberal)

Hoje, os salões que recebem os jogos lotam de homens e mulheres, numa confraternização que não vê barreiras. O casal Francisco e Silvana Gemaque que o digam: ambos são educadores e disputam o Parazão de dominó pela Assembleia Paraense. Para eles, a prática vai muito além de ganhar ou perder.

"A minha profissão diz sobre um dos motivos de eu ser apaixonado pelo dominó. Com ele eu posso trabalhar a matemática estendida, com probabilidade, estatística e uma série de outras coisas. E eu fomento isso dentro da escola do qual eu sou diretor, o Colégio Impacto, para que os meus alunos coloquem no dia-dia o jogo do dominó. Na minha concepção, jogos como dominó, baralho, podem ser muito bem aproveitados com alunos do ensino médio e até na universidade", diz Francisco, enquanto a esposa e parceira defende sem a exigência competitiva que muitas vezes estraga o esporte.

imageSalatiel Campos e Felipe Fernandes, do Sindiclubes. (Cristino Martins / O Liberal)

"O jogo depende das pedras. Às vezes as pedras favorecem ou não. A gente entende que nem sempre dá para ganhar, é preciso aceitar. Ainda sim, nós permanecemos unidos. Nós estamos sempre jogando e somos muito felizes com isso", reforça. Durante as partidas, toda e qualquer interferência sobre o adversário é rigidamente observada. Para inibir a trapaça, o dominó tem algumas medidas que são impostas nas partidas e servem para resguardar os jogadores, entre elas o uso de um painel de jogo, que inibe completamente o contato visual dos jogadores e das pedras, evitando assim a chamada “trapaça”.

A próxima jogada do Sindiclubes para o esporte é criar a Federação Paraense de Dominó e a partir dela, selecionar dois jogadores pertencentes ao time campeão para participarem do Campeonato Brasileiro, a partir de 2024. Até lá, a entidade segue organizando as rodadas do "Parazão de Dominó", ao mesmo tempo em que reúne jovens e idosos, num encontro saudável e movido pela paixão pelas pedras e números.

Futebol de Botão

Outra modalidade disputa nas salões da vida traz embutida a paixão pelo futebol, reduzida a uma mesa, onde pratica-se o futebol de botão, um esporte tipicamente brasileiro, nascido da inspiração dos gramados. Hoje, de nostalgia, o futebol de botão virou assunto sério e é organizado através de ligas amadoras e profissionais, que disputam torneios ao longo do ano, onde despontam campeões de todas as idades.

imageAmistosos nas ligas Caverna e Fair Play, de futebol de botão (Cristino Martins / O Liberal)

"O futebol de botão passa de geração em geração. O Avô passou para o pai, o pai pai para o filho e assim por diante. Em 2016 eu vi um pessoal de São Paulo jogando e pensei em trazer para cá. Começamos jogando na garagem, meu cunhado e eu, e criamos uma liga, com um perfil nas redes sociais, os amigos começaram a aparecer e assim nasceu a liga Caverna, que tem parceria com outras ligas, como a Fair Play", explica o representante comercial Charles Neves, criador da liga Caverna.

Hoje, cerca de 10 ligas são espalhadas pela cidade e os times participantes disputam torneios que fazem referência às competições oficiais do futebol, datos de estrutura totalmente padronizadas, que vão desde a escolha dos times até a fabricação e uniforme dos jogadores, como reforça o servidor público Antônio Renato, que hoje virou um artesão na confecção dos times.

"No começo a gente comprava as coisas de São Paulo, mas de tanto pesquisar, descobrimos tutoriais de como fazer. Hoje, basicamente a gente compra a matéria prima para a confecção do botão. Quando chega um novato a gente traz ele para aprender, pois temos convicção de que a manutenção do grupo se dá pela acessibilidade a qualquer brincante. Temos artesãos em vários lugares, bem como design gráficos e outros profissionais", explica ele, que é dono de uma coleção particular com mais de 300 times, entre paraenses e estrangeiros.

O futebol de botão também tem seus craques e não é a idade ou a forma física que responde. O aposentado Walter Alves que o diga. Ele é o atual campeão das ligas Caverna e Fair Play, e corre atrás do bicampeonato. Ele, inclusive, trouxe o filho, Murilo Viegas. Ambos disputaram final de campeonato.

imageCharles Neves, fundador da liga Caverna de Futebol de Botão. (Cristino Martins / O Liberal)

"Fui campeão da liga Caverna e Fair Play. Isso no ano passado. Esse ano eu lidero o Fair Play e sou o segundo na liga Caverna. Fiz uma final com o meu filho, ele me ganhou nos pênaltis. Eu ensinei ele bem garoto e hoje está me vencendo. Mas é isso mesmo", brinca, reforçando que juventude não ganha jogo, mas desperta e mantém paixões vivas, como a do futebol de botão.

"Nós somos jovens garotos de 40 anos. Embora a gente brinque, hoje temos atletas de 20 anos e 12 anos. Essa paixão vai de 10 a 50 anos. Aqui temos parceiros de 60 anos. Percebemos que eles não se deixam morrer e ajudam a resgatar essa paixão. Começou em casa, eu me mudei para cá e hoje vem gente de todos os lugares para bater um futebol de botão", completa Charles.

Esportes de salão

 
 
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