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Cinco anos após 'caso Héverton', Lusa patina em dívidas e tenta se reerguer

Portuguesa cede Canindé para eventos e vê 'feirinha' como forma de amenizar dívida de R$ 350 milhões. Planejamento para Série A2 do Paulista lida com bloqueio de cota de TV

Lancenet
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Há exatos cinco anos, a Portuguesa iniciava um calvário em sua história ao ser punida no STJD por escalação irregular do meia Héverton diante do Grêmio, na última rodada, e rebaixada para a segunda divisão nacional. Na sequência, vieram três rebaixamentos consecutivos, dois em nível nacional - à Série C, em 2014, e à Série D, em 2016 - e um no Paulistão, caindo para a Série A2 em 2015, onde permanece. A Lusa iniciará um novo ano com realidade difícil: segue sem estar em uma divisão nacional e tentará voltar à elite paulista asfixiada por dívidas. 


-  Peguei o clube em uma situação dificílima, praticamente do zero. Com uma sucessão de dívidas trabalhistas, fiscais, cíveis, que envolvem desde ações movidas por ex-jogadores até empréstimos feitos por ex-presidentes. Acreditamos que o valor da dívida gire em torno de R$ 350 milhões - expôs ao LANCE! atual presidente, Alexandre Barros, que assumiu o cargo no início do ano passado.

Mesmo tendo bens penhorados e contas bloqueadas, o clube busca formas de continuar recolhendo os cacos do fatídico 16 de dezembro de 2013 e para voltar a ganhar projeção no cenário nacional.

O Canindé se tornou uma das formas de a Lusa garantir renda. O estádio, que tem área de 42.350 metros quadrados, passou a ser alugado para eventos como festas e "raves".

Já outra medida tomada no clube causou controvérsias entre os sócios. As piscinas do parque aquático cederão espaço a uma futura "feirinha". O dirigente disse que foi uma forma de lucrar com um local que estava ocioso:

- Um dos compromissos que tive no início de mandato foi a reabertura de uma piscina, porque o parque aquático estava há sete anos inutilizado. Mas, quando vi, os tubos estavam penhorados e também deteriorados. Agora,  teremos esta diminuição da área do espaço, mas acreditamos que esta feirinha vai nos ajudar a honrar nossos compromissos financeiros.

Contudo, o clube ainda passa por problemas burocráticos para iniciar a "Feira da Madrugada".

- O maior deles é a liberação do alvará da empresa "Feira da Madrugada". Existe o projeto e a gente quer cumprir o mais cedo possível.

Segundo a assessoria do clube, a Portuguesa também aluga outros terrenos, como uma churrascaria, o Village Canindé, além de um ginásio na Marginal Tietê, cedido a uma igreja evangélica. Porém, a agremiação lida com um grande obstáculo: os valores que entram na conta do clube são penhorados.

A Portuguesa ainda é assombrada pelo risco de o Canindé ir a leilão para saldar as dívidas protestadas em juízo. Aos olhos de Alexandre Barros, esta ameaça será frequente:

- A gente sabe que um juiz pode decretar o leilão a qualquer momento. O estádio está em garantia. Temos de fazer acordos trabalhistas com jogadores que entraram com ações contra o clube. Como o senhor Rogério Pinheiro, que recebe R$ 50 mil por mês. Ou senhor Marcos Vinícius, Ricardo Oliveira, Thiago Barcelos, que foi um que nunca atuou como profissional na Portuguesa, mas ganha dinheiro às custas do clube.

A penúria financeira trouxe sequelas dentro de campo. O planejamento para a Série A2 do Paulistão renderá desafios:

- Já estamos atrás dos demais clubes que disputam a Série A2 do Paulistão, porque temos 100% da cota de TV bloqueada. Nossa receita é a que fica menor por conta de bloqueios - afirmou Alexandre Barros sobre o valor repassado pela emissora que detém os direitos da competição para cada clube, que é de R$ 1 milhão. 

De acordo com o mandatário, a ajuda financeira atual no clube acontece também graças ao carinho da torcida:

- Temos ajudas de associados, de torcedores apaixonados, parcerias, propagandas e permutas.

O LANCE! apurou que houve atrasos salariais para funcionários. O dirigente confirmou o problema, mas assegurou que na sua gestão tem batalhado para solucionar o problema:

- Quando assumimos o clube, eram nove meses de salários atrasados. Reduzimos para atraso de um mês. Dentro de dois dias, vamos quitar o mês de novembro. Depois, programaremos o mês de dezembro e o décimo-terceiro. Com alguns jogadores que foram embora, nós fizemos um acordo. 

O volante Matheusão confirmou que houve atraso no pagamento de jogadores:

- Não é aquilo de estar em dia (nos salários dos jogadores). Tem alguns atletas que estão há três meses sem receber. Eu estou há dois meses. 

Porém, o jogador, que é formado nas categorias de base, frisa que o clube vem tendo melhoras pontuais: 

- Acho que mudou em relação à estrutura, à qualidade de alimentação. Melhorou muito. Sei porque jogo desde os oito anos aqui. 

Um dos remanescentes do elenco que disputou a Série A2, Jonatas Paulista minimizou a questão salarial:

- Estas situações acontecem em todo o futebol brasileiro. Tem time multimilionário que está assim. Aqui já aconteceu, mas foram poucos dias.

Em meio às adversidades, a Portuguesa aposta nas mudanças para voltar a subir degraus no futebol. A reformulação foi a tônica para a Série A2 do Paulistão de 2019. Além de restarem apenas seis jogadores do elenco deste ano, a confiança passa pelo novo técnico: 

- Contratamos o Luís Carlos Martins, pródigo em acessos. Já estamos montando um elenco experiente na divisão. É claro que prometer um acesso ninguém pode. Mas vamos nos empenhar muito - afirmou o presidente da Portuguesa.

Martins recebeu o apelido de "O Rei do Acesso" pelos recorrentes feitos de ascender de divisão: Comercial, Guaçuano, Matonense, União Barbarense e Mirassol, além de, em nível nacional, fazer América-RN e Oeste subirem de patamar.

Matheus vê com otimismo as mudanças na Portuguesa. Além disso, traz motivos para o torcedor confiar na volta à elite do Paulistão: 

- O Luis Carlos (Martins) chegou, trouxe muitos jogadores experientes, que conhecem bem a disputa da Série A2. Na disputa deste ano, a gente tinha um elenco muito limitado, com muitos jogadores da base. Faltou um pouco de experiência para buscar algo maior. 

Já para Jonatas Paulista, estar entre os remanescentes torna-se um desafio:

- A gente sabe que quem ficou foi escolhido a dedo. Por isso, a responsabilidade e as cobranças vão ser maiores. Mas o grupo vem sendo montado, a estrutura está boa e a gente tem conversado bem com nosso novo técnico. 

Passados cinco anos, a sensação entre os jogadores é de que a torcida da Portuguesa mantém sua confiança e cobra um resgate no gramado:

- Para quem é de São Paulo, percebe o quanto é difícil jogar aqui na Portuguesa. O clube vem caindo muito, são muitos rebaixamentos seguidos, o primeiro do jeito que foi. É uma exigência maior, a cobrança é muito grande. Mas eu, por ter vindo da base, sou visto com um pouco mais de carinho - declara Matheusão.

Aos olhos de Jonatas Paulista, os jogadores têm de ver pelo lado positivo:

- Isso é bom. Um clube sem cobrança não se motiva a brigar pelo acesso. E aqui a pressão é que nem a de Série A.  

Entre os torcedores, há aqueles que sofrem muito com o estágio em que o clube se encontra. É o caso de José Maria Oliveira, sócio da Portuguesa há cinquenta anos.

- Estou muito chateado com o que se passou com a Portuguesa. criei dois filhos dentro do Canindé. Eles eram torcedores da Portuguesa, não conseguem torcer para mais ninguém - contou à reportagem. 

VIRAR A PÁGINA DO 'CASO HÉVERTON'?

Enquanto torcedores ainda cobram explicações sobre 2013, o presidente Alexandre Barros não considera o "caso Héverton" o pontapé inicial para a crise que hoje assola a Portuguesa. Ele foi categórico:

- Na verdade, a Portuguesa deixou de ser aquela equipe que brigou por títulos nos anos 1990. De 2000 para cá, foram anos vivendo de lampejos. Campanhas fracas na elite, idas para a Série B e até quase caindo para a Série C. O último grande momento foi a "Barcelusa" de 2011 (time que fez campanha marcante na Série B nacional, içando o clube de volta à elite). Em 2013, quando veio o "caso Héverton", a Portuguesa já tinha sérios problemas financeiros, no ano em que fez uma campanha em que se arrastou na elite.

Cinco anos depois, o desejo no Canindé é dar o primeiro passo para uma reação: 

- A gente pensa em fazer uma boa campanha na Série A2. Honrar a camisa que veste e ir subindo de jogo em jogo. O Luís Carlos (Martins) está buscando pouco a pouco montar uma equipe bem forte. E eu garanto que a gente quer colocar a Portuguesa no lugar de onde nunca devia sair, que é o cenário nacional - garante Matheusão.

Já Barros espera que as boas notícias venham dentro e fora de campo:

- Tenho de me pautar dia após dia. Teremos duas competições em 2019, a Série A2 e a Copa Paulista. Vamos nos empenhar, mas, é óbvio que ao torcedor só interessa a vitória, os títulos. Agora, nosso grande objetivo é estancar ao máximo nossas dívidas e não aumentar as ações trabalhistas.

Passados cinco anos, o desafio é amenizar as cicatrizes da Lusa. Para voltar a disputar a principal competição nacional, a Lusa precisa conquistar vaga na Série D - a quarta divisão - e o ingresso a ela depende de desempenho no Paulistão ou na Copa do Brasil. 

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