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Ceramistas de Icoaraci esperam visibilidade e incentivos com a chegada da COP 30

Ceramistas de Icoaraci veem na COP30 chance de ampliar vendas e preservar tradições em meio aos desafios

Bianca Virgolino | Especial para O Liberal
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A realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém, prevista para ocorrer em novembro de 2025, tem mobilizado setores diversos da economia e da cultura no Pará. Em Icoaraci, distrito com forte tradição ceramista, o evento é visto como uma oportunidade para aumentar as vendas, atrair turistas e obter apoio institucional.

Guilherme Santana, 62 anos, trabalha com cerâmica há mais de cinco décadas. Ele começou ainda criança, acompanhando a mãe nas olarias de Icoaraci. Hoje, comanda a loja da família, onde mistura tradição com inovação.“Nossa cerâmica é voltada para a tradição mesclada à tecnologia”, afirma. Inicialmente pensada para o público local, a produção enfrenta entraves logísticos. “É muito caro fazer com que a cerâmica chegue nos lugares. Por isso, focamos em vender aqui mesmo". 

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Apesar do esforço, ele lamenta a falta de reconhecimento da população local. “A gente percebe que essa arte vem sendo desvalorizada pelas próprias pessoas que aqui vivem. Pra quem vem de fora não, eles até ficam deslumbrados". 

A chegada da COP 30 à capital paraense, no entanto, reacende a esperança. “Eu acho relevante que a Amazônia seja mostrada no seu total e não apenas aquela que nós queremos passar”, defende Guilherme. “É lógico que nós temos uma cultura muito forte na música, na dança e em outros vários tipos de artesanato. Mas a cerâmica é uma coisa que já começou antes de sermos uma cidade, então precisamos nos preparar.”

Apesar dos altos e baixos, ele acredita na continuidade do ofício: “A cerâmica é um ofício muito antigo, ela começou quando o homem conseguiu dominar o fogo. Ao longo da história ela passou por várias transformações. Aqui em Icoaraci, não poderia ser diferente […] ela sempre vai ressurgindo. Não é uma coisa que alguém consiga derrubar.” Para isso, ele aposta em oficinas que promovem a formação de novos ceramistas, unindo arte e educação ambiental.

Quem compartilha dessa esperança é Marieta Sena da Costa, de 77 anos, que trabalha com cerâmica desde os 13. Ao lado do filho, comanda uma casa especializada em réplicas arqueológicas.

“Eu acredito que nós teremos um movimento bom [com a COP] e que, assim espero, nos trará um bom retorno financeiro”, afirma. “A gente tá realmente precisando de um evento dessa natureza. Apesar de recebermos turistas, sempre é bom difundir o nosso trabalho a mais pessoas. Estamos esperando com muita ansiedade a COP, que ele chegue pra somar com a gente.”

No entanto, o entusiasmo vem acompanhado de preocupações concretas. “Nossa argila era retirada em Icoaraci, na época pagávamos 2 reais a barra. Hoje ela vem de São Miguel e custa 10 reais, olha só a diferença.” O aumento dos custos e a dificuldade em encontrar mão de obra qualificada preocupam: “A gente procura desenhista e não encontra. Quem tem seu desenhista tem que manter e não deixar ele sair porque não tá fácil, tem se tornado cada dia mais difícil pra gente.”

Para manter a tradição viva, Marieta e filho Marivaldo Sena têm investido em oficinas voltadas à formação de novos talentos. “Se a gente não fizer isso, de se unir e ensinar, vai acabar.” Segundo ela, a COP 30 pode ser também uma porta para apoios públicos mais efetivos: “Já tivemos esse mês a visita de alguns representantes de órgãos para melhorar o espaço, mas ainda não ofereceram nada que pudesse concretizar isso.”

Já para Socorro Abreu, 57 anos, a cerâmica entrou na vida de forma inesperada, mas se tornou fundamental. “Foi através de uma amiga que me apresentou a cerâmica, e foi uma paixão. Hoje em dia é o meu meio de sobrevivência, da minha família também.”

Com 33 anos de experiência, ela vê na COP 30 uma oportunidade de alcance internacional. “Eu e os demais ceramistas estamos apostando muito na COP 30. Alavancando as vendas e, principalmente, levando o nosso trabalho para o mundo.”

Embora não acredite no fim da tradição ceramista, Socorro observa sinais de alerta. “Não [acho que vá acabar], mas a diminuição da produção sim. Já estamos com dificuldade com a matéria-prima e a mão de obra já está ficando escassa, com falta de oleiro. Porque os jovens já não têm tanto interesse.”

Para contornar esse cenário, ela destaca a importância de iniciativas educativas, como o projeto de tecnologia social inspirado nas pesquisas do Museu Goeldi, que ajuda a preservar e compartilhar os saberes tradicionais com a comunidade.

A expectativa dos ceramistas de Icoaraci é de que a COP 30 não apenas leve visitantes até seus ateliês, mas que também traga incentivos reais para manter viva uma arte que resiste ao tempo. No barro moldado pelas mãos, eles guardam história, identidade e esperança.

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