Tarifaço dos EUA sobre o açaí pode comprometer 8% da exportação do produto
Reunião com o setor industrial na Fiepa apresenta dados sobre o panorama das exportações e reforça a importância estratégica para o abastecimento de açaí na economia regional e nacional

A recente exclusão do açaí da lista de isenções tarifárias anunciada pelo governo norte-americano tem gerado forte apreensão no setor. Isso porque estima-se que o impacto direto sobre o volume exportado pelo Pará aos EUA possa chegar a 20,1%, sendo 8% apenas sobre o açaí. No auge da safra, a produção de açaí no Pará pode movimentar de R$ 15 a R$ 20 milhões diariamente em algumas localidades do Estado. São aproximadamente 250 mil latas produzidas por dia, gerando um ciclo virtuoso de emprego, renda e desenvolvimento regional que beneficia diretamente comunidades ribeirinhas, barqueiros, carregadores e milhares de famílias que vivem da coleta, transporte e beneficiamento do fruto.
EUA continuam como principal destino das exportações paraenses
Apesar da crescente diversificação de mercados, os Estados Unidos permanecem como o principal destino das exportações paraenses de açaí, representando atualmente cerca de 75,40% do total exportado. No primeiro semestre de 2025, as exportações para o mercado norte-americano somaram mais de US$ 43,6 milhões, com um crescimento de 59,34% em relação ao mesmo período do ano anterior, conforme os dados do Fiepa CIN.
Reunião de empresários do setor discute riscos e impactos da taxação
Para discutir os riscos à cadeia produtiva do açaí e derivados, a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) reuniu, na quinta-feira (7), empresários do setor industrial do açaí. Entre as preocupações do setor, está justamente a recente taxação imposta pelos Estados Unidos. O encontro apresentou dados estratégicos do Centro Internacional de Negócios e do Observatório da Indústria do Pará, reforçando preocupações sobre os impactos econômicos e sociais dessa medida.
Cadeia produtiva ameaçada pelo “tarifaço”
O chamado “tarifaço” afeta uma cadeia produtiva que, segundo levantamento da Fiepa, gera cerca de cinco mil empregos diretos e 15 mil indiretos apenas na indústria, sem contar os milhares de trabalhadores envolvidos nas etapas de coleta, transporte e beneficiamento do fruto na floresta.
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Presidente da Fiepa alerta sobre ameaça ao desenvolvimento sustentável
Para o presidente da Fiepa, Alex Carvalho, o impacto ultrapassa os limites comerciais e representa uma ameaça real ao modelo de desenvolvimento sustentável construído ao longo dos anos na Amazônia.
“Essa medida compromete empregos, reduz a produtividade e afeta diretamente a sustentabilidade econômica de milhares de famílias da Amazônia, principalmente aquelas que dependem da colheita e processamento do fruto para sobreviver. Precisamos buscar alternativas diplomáticas e preparar medidas mitigadoras em todos os níveis para proteger essa cadeia produtiva, que já é historicamente vulnerável e que tem papel fundamental no desenvolvimento sustentável da nossa região”, defendeu.
Impactos em uma cadeia de produção linear
Empresário do ramo, André Lima destacou a importância estratégica do fruto para a economia das comunidades ribeirinhas e para o sustento de milhares de famílias da Amazônia.
“Estamos falando de um produto que representa saúde e qualidade de vida, mas que também democratiza a renda. O dinheiro circula na base, chega ao ribeirinho, ao barqueiro, ao carregador de fruto. É uma cadeia com impacto direto em quem mais precisa. Por isso, não pode haver ruídos nessa operação”, afirmou.
André ainda explicou que sua empresa é completamente voltada à exportação e que 90% do faturamento vem do mercado norte-americano, o que torna o impacto da nova política tarifária ainda mais significativo. Segundo ele, o açaí é hoje um produto com alto valor agregado, vendido, em média, por US$ 12 o pote de 500ml nos EUA, mas cuja competitividade pode ser comprometida com o aumento das tarifas.
“O consumidor americano consome o açaí como refeição, como pré ou pós-treino. Mas com aumento de preços, ele pode passar a buscar opções mais baratas de alimento. Isso nos preocupa muito, porque o açaí pode deixar de estar na mesa de muitas pessoas”, completou.
Setor defende estratégia nacional para proteger a bioeconomia amazônica
Para a presidente do Sindfrutas Pará, Denise Martins, o momento exige uma resposta coordenada que vá além da lógica setorial. Segundo ela, o Brasil precisa olhar para a bioeconomia amazônica com uma visão estratégica.
“O açaí não é só um produto agrícola, é a segunda pauta de exportação paraense, um produto da bioeconomia da Amazônia, uma ferramenta ímpar de distribuição de renda às comunidades ribeirinhas no interior. Ele mantém a floresta em pé, movimenta comunidades inteiras e projeta o Brasil no mundo como um país capaz de conciliar produção e sustentabilidade. Por isso, não é razoável que, diante de uma medida externa com potencial de desestabilizar todo esse modelo, não tenhamos ainda uma agenda nacional clara de proteção à bioeconomia amazônica”, afirmou.
Além de afetar a cadeia econômica do Pará, a medida adotada pelos EUA tende a impactar também o próprio consumidor americano. O aumento das tarifas deve se refletir no preço final do produto, tornando-o menos acessível em um mercado que valoriza cada vez mais alimentos saudáveis, naturais e sustentáveis.
No Brasil, por outro lado, ainda que o consumo interno do açaí tenha crescido, os preços praticados no mercado nacional, em reais, não compensam a perda de receitas em dólares no mercado externo, onde o valor agregado é substancialmente maior.
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