Com tarifa dos EUA, açaí ganha espaço na China e simboliza nova fase das exportações
China amplia credenciamento de exportadores brasileiros e destaca produtos como café, gergelim e açaí

Em meio à decisão dos Estados Unidos de aumentar tarifas sobre produtos brasileiros, a China tem intensificado sua estratégia de aproximação comercial com o Brasil. Postagens recentes da Embaixada da China no Brasil, na plataforma X (antigo Twitter), chamam atenção ao destacar avanços nas relações bilaterais e o interesse chinês em diversificar as importações de produtos brasileiros.
A movimentação acontece em um contexto de tensões comerciais entre Washington e Pequim. O presidente americano Donald Trump anunciou recentemente um aumento tarifário de até 50% sobre produtos brasileiros — o chamado tarifaço — afetando diretamente setores como o do café, que teve o grão retirado da lista de exceções e passou a ser taxado. O Brasil, que em 2024 foi responsável por mais de 30% de todo o café importado pelos EUA, segundo a CNN americana, pode perder espaço no principal mercado consumidor do produto no mundo.
Pequim amplia mercado para produtos brasileiros
Enquanto isso, a China tem ampliado sua abertura a produtos brasileiros. No dia 2 de agosto, a embaixada chinesa anunciou o credenciamento de 183 produtores de café do Brasil para exportação ao mercado chinês. A medida entrou em vigor no final de julho e terá validade de cinco anos. A iniciativa foi acompanhada por publicações que ressaltam o crescimento do consumo de café na China entre 2020 e 2024, apesar do consumo per capita ainda ser considerado baixo — 16 xícaras por ano, frente à média global de 240.
A aproximação também inclui outros setores. No mesmo dia, o perfil da embaixada chinesa destacou a habilitação de mais 30 empresas brasileiras para exportação de gergelim, totalizando 61 autorizadas. O avanço, segundo os chineses, é resultado do protocolo de cooperação assinado entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping, em 2023, em Brasília.
O açaí também ganhou espaço nas ações promocionais da China. Em postagem feita no dia 7 de agosto, a embaixada comemorou a presença crescente da “superfruta amazônica” em cidades como Pequim, Xangai, Shenzhen e Guangzhou. O texto ressaltou o sabor e os benefícios à saúde como atrativos para os consumidores chineses.
Outro ponto de destaque foi a ampliação do mercado para produtos de origem animal. Em 31 de julho, 46 empresas brasileiras exportadoras de farinhas de aves e suínos foram habilitadas para vender à China. Já no setor aeronáutico, autoridades brasileiras acreditam que o processo de flexibilização para compra de aeronaves brasileiras foi acelerado como gesto político após o anúncio do tarifaço por parte dos EUA. Apesar de os aviões da Embraer terem sido excluídos da tarifa de 40%, ainda estão sujeitos a uma taxa de 10% imposta por Trump desde abril.
Campanhas chinesas repercutem nos EUA
As iniciativas da China têm repercutido internacionalmente. A imprensa norte-americana noticiou a movimentação chinesa como sinal de alerta. A CNN dos EUA apontou que os incentivos promovidos pela China nas redes sociais podem representar uma disputa direta por espaço com os Estados Unidos, especialmente no mercado do café, onde o Brasil é o principal fornecedor.
A série de postagens da Embaixada da China ocorre em um momento em que empresas brasileiras começam a avaliar alternativas diante das barreiras impostas pelos EUA. Com a abertura chinesa, Pequim se posiciona como possível substituto de mercados perdidos e reforça sua estratégia de soft power por meio do comércio exterior.
*Thaline Silva, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Keila Ferreira, coordenadora do núcleo de Política e Economia
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