Número de indústrias abertas no Pará já é 10% maior do que em 2022
Dados da plataforma Empresômetro mostram que o estado caminha na direção contrária do país

Enquanto o Brasil registrou aumento no número de indústrias fechadas ao longo de 2023, conforme números da empresa de contabilidade Contabilizei, dados da plataforma Empresômetro mostram que o Pará segue o caminho contrário a esse cenário. Atualmente, o estado conta com 24.654 negócios dentro do segmento, o que já representa um crescimento de 10,65% em relação a 2022, quando eram 22.285 negócios. O setor industrial corresponde a 5,26% do total de empreendimentos locais e, para fortalecer a economia a partir desses meios, especialistas apontam que é necessário a adoção de medidas.
Mesmo tendo o menor peso quantitativo no levantamento, a Contabilizei aponta que as indústrias, no país, apresentam uma situação dramática: foram fechadas três vezes mais empresas industriais do que as que abriram no segundo trimestre deste ano. No período, entre abril, maio e junho, foram inaugurados 7.810 negócios industriais, mas 25.151 foram encerrados. Entretanto, o saldo negativo do setor não é uma novidade e já vem sendo analisado pela empresa desde o terceiro trimestre de 2021, enquanto que os sinais de decrescimento nos serviços, por exemplo, foram vistos no terceiro trimestre de 2022.
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Ainda que os dados do Empresômetro não reflitam essa realidade no Pará, o economista Valfredo Farias explica que alguns pontos do estado não são estratégicos para que a atividade seja expandida, como a falta de mão de obra qualificada e distância dos grandes centros de produção do país. “A logística aqui no Pará é muito complicada, tanto para escoamento da produção do que é produzido, como também para a chegada da matéria-prima, então, isso dificulta muito as indústrias estarem presentes aqui no estado. Além disso, boa parte da mão de obra qualificada do Pará vai trabalhar em outros lugares”.
A alternativa que o economista aponta passa por qualificação do setor, juntando parcerias entre instituições que atuam na área, com a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), e investimentos em infraestrutura, para melhorar a mobilidade. “Precisa, também, resolver a questão do incentivo fiscal. Uma das formas de trazer a indústria, como no caso de Manaus, que também é meio parecida com a gente aqui, está isolado, está longe, mas eles têm um incentivo pesado de redução de imposto, que aqui a gente não tem. Poderíamos, também, ter capacitação de mão de obra e criar diversos cursos”, destaca.
Indústrias e desenvolvimento
A atividade industrial tem 31% de participação no Produto Interno Bruto (PIB) do Pará, de acordo com a Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará (Codec). Nesse sentido, Valfredo aponta que a relação entre o setor e o desenvolvimento de uma região é inseparável, agregando mais valor econômico e estabilidade. “As regiões e cidades que têm mais indústrias são as mais desenvolvidas do país. Trazem riqueza e, dependendo do tipo de negócios, agregam mais valor. Aqui, no Pará, a gente percebe que as regiões que têm mais indústrias são as mais desenvolvidas também”,
“No Pará, a gente tem alguns polos que tem indústrias, mas só que as nossas indústrias estão muito voltadas para a parte do agronegócio, da mineração, então são indústrias também pesadas. Elas demandam muitas outras indústrias ao redor para fazer parte da sua cadeia e prestadores de serviços. Isso vai gerando riqueza para toda aquela região. Em Marabá, Parauapebas, as partes em Belém, também, e Barcarena. Em outros locais, a produção maior é de itens de bens e consumo e de capital. Então, essa é a importância, quanto mais indústria você tem, provavelmente a riqueza é muito mais forte”, completa.
Investimentos
As novas perspectivas de negócios que surgem no Pará, a partir da necessidade de preservação ambiental, são vistas pelo presidente da Codec, Lutfala Bitar, como um novo direcionamento de políticas públicas do estado. Para ele, a exploração deve ser inteligente, sustentável e bioeconômica. Junto a isso, o titular da pasta frisa que é preciso investimentos em infraestrutura na região. “Como no caso da abertura da navegação fluvial perene, construção de ferrovias e novas rodovias e construção de portos e aeroportos”, disse ao Grupo Liberal.
“Temos direcionado as políticas de desenvolvimento econômico baseadas na governança ambiental e social [ESG]. Além disso, o grande desafio do estado permanece na busca de aumento da atividade de verticalização das nossas principais cadeias produtivas, com a implantação de plantas industriais de transformação desses produtos, o que se espera venha a acontecer a reboque da melhoria do ambiente de negócios decorrente dos investimentos públicos. A companhia também busca sempre desenvolver e verticalizar a nossa imensa produção extrativista”, adiciona Lutfala.
Incentivo fiscal
A lacuna da falta de incentivos fiscais, citada anteriormente pelo economista Valfredo Farias, é destacada pelo presidente da Codec como um dos pontos de ação da pasta. Bitar afirma que os atrativos colocados em prática para atrair os olhos de investidores e indústrias vão desde essas concessões até assessoria técnica, jurídica e administrativa, “criação de novas áreas econômicas incentivadas, formação e qualificação de mão-de-obra, investimentos na educação, saúde e transporte, tudo o que normalmente o investidor pesquisa para escolher o melhor local para se implantar”.
Desafios
Os principais desafios encontrados por Virgínia Oliveira, diretora de uma indústria de produtos artesanais derivados da mandioca, foi a legalização para a comercialização do item. O negócio é de família e, no início, a licença para atuar no mercado demorou, mas a empresária conta que a espera valeu a pena. “Tivemos vários desafios, um dos mais difíceis foi a legalização do produto junto ao órgão competente, a Adepará. Por se tratar do tipo de produto que trabalhamos e por conta do Pará ser um dos maiores produtores de farinha, não é tarefa fácil continuar ativo em um mercado tão competitivo”, relata.
“E, para mantermos o nosso produto com o mesmo padrão desde o início, se torna ainda mais desafiador, uma vez que mantemos o mesmo padrão de qualidade, com o cuidado na compra da matéria prima, e sempre pensamos no paladar do nosso cliente final. Nunca perdemos a nossa essência e lembramos sempre de como começou tudo. A nossa perspectiva é crescer e expandir para os outros estados e quiçá outros países. Levando em conta que temos consumidores estrangeiros”, finaliza Virgínia.
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