Setores do comércio, indústria e agronegócio reagem ao aumento da conta de luz

Consumidores residenciais não sabem mais como fazer para economizar.

Enize Vidigal

O reajuste da tarifa de energia elétrica, anunciado na terça-feira, 15, desagradou em cheio as organizações representativas dos principais setores econômicos do Pará. O presidente da Federação do Comércio (Fecomércio), Sebastião Campos, antecipou que o aumento de custo será repassado ao consumidor. O presidente do Sistema da Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa), José Conrado, apontou que a elevação da luz, somada a do combustível, prejudica a competitividade do Pará. Já o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária no Pará (Faepa), Carlos Xavier, afirmou que o setor vai “reagir” contra o aumento. Consumidores residenciais também reclamam que não têm mais como fazer para economizar energia a fim de diminuir o valor do boleto

O reajuste médio ficou em 11,07%, abaixo dos 18,32% que chegaram a ser anunciados no início do mês. De acordo com o anúncio da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o reajuste ficou em 9,61% para consumidores residenciais (B1); 9,89% para consumidores de baixa tensão em média (B2); e 15,79% para os de alta tensão em média (B3).

“Muito sem propósito esse reajuste. Tem muito segmento do comércio paraense que o insumo principal é a energia elétrica, como fábricas de gelo, de sorvete, frigoríficos, bares e restaurantes e outros. Isso prejudica e vai majorar os preços. O aumento do custo vai implicar no repasse sim, infelizmente. A gente vai ter que repassar para os nossos preços”, confirma o representante do Fecomércio.

“Todo comerciante se esforça para manter os preços e se manter na ponta do comércio. Mas como vamos manter a inflação em patamares pequenos se um item, que é o insumo principal de vários segmentos, aumenta de maneira desproporcional? Não temos como suportar aumento dessa natureza”, disse Campos.

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Segundo o dirigente da Fiepa, o reajuste da energia e do combustível preocupam o setor. “A indústria no Pará, especialmente quando falamos em pequenas e médias indústrias, é afetada por problemas de competitividade com relação ao restante do país”.

Conrado ressalta que o elevado custo da energia se soma a outras dificuldades logísticas, como o transporte de insumos e o escoamento da produção realizados em rodovias mal conservadas e portos sem modernização. “Soma-se à essa redução da competitividade do produto paraense o custo da energia e, apesar do reajuste dado pela Aneel inicialmente ter sido reduzido, ainda assim preocupa o setor industrial, porque os 11% de reajuste com certeza terão impacto na produção da indústria”, acrescenta

Já o dirigente da Faepa representou a indignação do setor do agronegócio: “É completamente inadmissível que nós, paraenses, recebamos essa notícia de forma pacífica. O Pará é o maior produtor de energia do Brasil, construiu usina hidrelétrica com recurso da sociedade brasileira, da Eletrobrás, utilizando seus recursos naturais, a água, para repassar 80% da sua produção para a região Sul sem receber nada em troca e ainda tem que pagar a maior tarifa do Brasil”.

Na manhã desta quarta-feira, 16, os dirigentes da Faepa já estavam com um encontro agendado com representantes dos governos estadual e federal, na sede da federação, em que o reajuste da tarifa de energia será pautado. O próprio governador Helder Barbalho fez uma manifestação contrária a esse reajuste. Temos (produtores) que estar junto ao governo contra esse aumento.

Residencial

A geógrafa e servidora pública, Joelma Ferreira, 44 anos, que mora no bairro do Guamá, é uma consumidora residencial que não sabe mais como economizar para prevenir o boleto de valor elevado no final do mês. “Esse aumento é um tremendo absurdo! No Pará foram construídas várias hidrelétricas com o discurso de desenvolvimento da Amazônia, mas acabamos sendo prejudicados de diversas formas. O impacto financeiro em um estado produtor de energia é elevado. Uma compensação para os consumidores paraenses deveria ter sido pactuado”, defende.

Ela conta que paga cerca de R$ 400 de conta de luz, por mês, na residência em que vive sozinha com o marido, mas esse valor aumenta quando o casal recebe familiares vindos do interior que se hospedam no imóvel. “A gente não tem ar condicionado, só dois ventiladores, é uma quentura horrível. É uma casa planejada para aproveitar a ventilação e iluminação natural, fazemos o uso racional das lâmpadas, economizamos para não vivermos somente para pagar a luz”, afirma. Um poste de iluminação pública instalado na calçada estreita, em frente à casa da geógrafa, ajuda a família a economizar dentro de casa, pois ele ilumina um dos cômodos.  

Legislativo

O reajuste teve repercussão entre o Legislativo. O deputado federal Joaquim Passarinho (PL-PA) se manifestou nas redes sociais: “Aparentemente, nós, paraenses, vamos pagar a energia mais cara do Brasil”, inicia o deputado. “Nós somos o maior exportador de energia. Estamos brigando no Congresso Nacional para reverter isso”, afirmou.

O senador Zequinha Marino (Pode-PA) se solidarizou aos brasileiros pelo apagão ocorrido na mesma data e acrescentou: “Já propus matéria importante
sobre cobranças indevidas de contas de luz, mas reitero a necessidade de o estado paraense ser visto de outra forma pela Aneel, pois mesmo exportando energia, seus consumidores têm o orçamento impactado diante de uma tarifa cara”.

Já o vereador de Belém, Fernando Carneiro (PSOL), postou que ainda falta uma explicação pública sobre a causa do apagão e acrescentou: "Como sempre, a região Norte é a última a ter o serviço normalizado, apesar de ter duas das maiores hidrelétricas do país e de pagar a conta mais cara!!" 

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