Mudanças nas funcionalidades do Twitter são mal vistas por especialistas de tecnologia e comunicação

A ideia do bilionário Elon Musk é transformar a plataforma em um “superaplicativo”, mas as alterações desagradaram usuários e derrubaram a credibilidade da empresa

Elisa Vaz

Uma onda de inovação tem tomado conta do ambiente online nas últimas semanas. Mudanças radicais em algumas plataformas e a criação de outras oferecem uma variedade maior de opções para o público se expressar, conectar e consumir conteúdo pela internet.

Por exemplo, o Twitter implementou transformações significativas em sua interface e nas funcionalidades. A última delas dividiu opiniões: Elon Musk, novo dono do site, optou por deixar o passarinho azul de lado e transformou a logomarca da empresa em um “X”. A mudança faz parte do plano de criar um aplicativo que reúna ferramentas de áudio, vídeo, mensagens e pagamentos.

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Antes disso, diversas outras alterações já tinham sido feitas, como a criação de um limite de leitura de mil tuítes diários para usuários não verificados; o selo de verificado pago, que qualquer um pode obter, desde que assine o Twitter Blue, versão paga da rede; tuítes maiores e editáveis, com até 25 mil caracteres; novos selos de verificado: dourado para empresas e cinza para órgãos de governos; exibição do número de visualizações em tuítes e de vezes que foram salvos por outras pessoas; aba 'Para você', o feed com tuítes recomendados; e mais.

Para a professora doutora Ivana Oliveira, que ensina a disciplina de mídias digitais na Universidade da Amazônia (Unama), o Twitter foi responsável por mudar a forma de comunicação que existia antes nos sites de relacionamentos, como Facebook e Orkut, criando uma sociabilidade mais resumida e imediata. “Quando foi criado, em 2006, trouxe a possibilidade de a gente ter uma informação rápida, direta, cortando caminhos, onde você pode seguir o próprio produtor, a fonte. E agora ele está diante de uma nova era”, pontua.

Superaplicativo

Mesmo sendo uma das redes mais importantes do mundo, com 229 milhões de usuários e espalhado em vários países, “isso não é o suficiente”, na opinião de Ivana, porque o novo dono da tecnológica, bilionário Elon Musk, quer um serviço para além do que o Twitter oferece. A professora cita que o plano é, pelo que se sabe, ter uma ferramenta que reúna conversas, rede social e sistema de pagamento, mas ela acha que ainda é cedo para dizer se isso vai funcionar.

A plataforma traz para a gente um serviço de microblog, que é a praça digital, onde as pessoas conversam e onde comentam o início. É engraçado como as informações chegam primeiro no Twitter. A intenção do Elon Musk é criar um aplicativo de tudo; ele tira a possibilidade de ser um microblog de informação direta, rápida e que traz a informação de cara, para ter um microblog que vai misturar tudo”, adianta a especialista da área de comunicação.

Embora haja a estimativa de que o Twitter - ou X - se torne um mercado global de serviços e oportunidades, Ivana vê muitas críticas. Ela não avalia que as mudanças feitas sejam positivas, especialmente porque Musk não mudou apenas o nome, mas também as funções.

Transformar o Twitter em um superaplicativo já tinha sido falado ano passado, mas agora trazer ele para competir com o chat, a gente ainda fica com o pé atrás. Isso vai dar certo?”, questiona.

“Ele [Elon Musk] está no caminho correto de estar apostando em novas ideias, mas ele faz mudanças muito radicais, a gente não sabe que tipo de pesquisa ele está usando. Ele não dá detalhes, então há muito medo”, alerta a professora Ivana Oliveira.

Experiência

Especialista em experiência do usuário (UX), a designer Thaís Gomes detalha que as últimas alterações realizadas no Twitter não seguem um fluxo de desenvolvimento validado, ou seja, não passaram por fases de teste antes do lançamento ao público, ou passaram de forma reduzida.

O que geralmente ocorre em empresas de tecnologia, de acordo com ela, é uma “fase beta”, em que um pequeno número de usuários que se encaixa no público-alvo tem acesso às novas características e, com base nos resultados positivos, são feitas avaliações de melhorias e, posteriormente, as mudanças são disponibilizadas para toda a plataforma.

Quando esse processo é pulado, acontece o que temos visto ultimamente no Twitter: uma forte rejeição por parte dos usuários e insegurança em relação à empresa que anuncia e mantém a rede. Para quem utiliza o Twitter, essas mudanças podem causar a sensação de insegurança em relação à plataforma. Milhares de memes circularam em relação a isso, refletindo uma imagem negativa para o público. A qualquer momento, pode surgir uma mudança nova, e isso não é visto como algo positivo. Temos uma tendência maior de lembrar de eventos negativos, o que também afasta produtores de conteúdo”, avalia.

Concorrência

Um dos perigos de promover mudanças tão significativas nas estruturas de uma plataforma é afastar os seguidores. No mercado, isso pode ser aproveitado pelas empresas que desejam oferecer serviços similares aos que o Twitter antes oferecia, como é o caso da Meta, que lançou recentemente um aplicativo chamado Threads para concorrer com a tecnológica, mas vinculado ao Instagram. E Thaís ainda cita mais três: “Koo”, “Bluesky” e “Mastodon”.

O ‘Threads’ foi desenvolvido, em parte, pela antiga equipe do Twitter que foi demitida com a chegada de Elon Musk. Essa equipe já estava acostumada a trabalhar com redes sociais e conhece o público. Além disso, Mark Zuckerberg, conhecido pela criação do Facebook e como dono do Instagram, tem um amplo conhecimento de como essas redes funcionam e de como prender os usuários ali na tela. Uma das maiores vantagens do aplicativo é sua integração direta com o Instagram, o que facilita absurdamente a entrada de novas pessoas para a plataforma”, opina a especialista em UX.

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Outra vantagem do aplicativo é a consistência, já que existem muitas semelhanças visuais entre as duas redes, o que traz reconhecimento para os usuários que já estão acostumados a ver aqueles símbolos e entender seus significados, reduzindo a carga cognitiva. “Além disso, você não precisa começar do zero em uma nova rede social sem seguidores, pois pode, com alguns cliques, solicitar a quem você já conhece que te siga de volta. Essa é uma das grandes barreiras para outras concorrentes do Twitter”, analisa.

O desafio das plataformas emergentes, na opinião das pesquisadoras, será conquistar a confiança dos usuários e oferecer soluções eficazes para questões de privacidade e desinformação, por exemplo. E, em termos de comunicação, no caso do Twitter, manter a plataforma como era poderia proporcionar a volta da credibilidade.

Veja 10 mudanças já anunciadas no Twitter

  • Nova logo X. A ideia é criar um aplicativo para tudo, inclusive pagamentos;
  • Limite de leitura de mil tuítes diários para usuários não verificados;
  • Verificado pago, que qualquer um tem acesso desde que assine o Twitter Blue;
  • Tuítes maiores, com até 25 mil caracteres, e editáveis por até 30 minutos depois de serem publicados;
  • Novos selos de verificado: dourado para empresas e cinza para órgãos de governos;
  • TweetDeck pago, com recursos adicionais, exclusiva para usuários verificados;
  • Novas métricas, incluindo número de visualizações e de vezes que tuítes foram salvos por outras pessoas, além de curtidas, comentários e compartilhamentos;
  • Aba 'Para você', o feed com tuítes recomendados, de forma mais destacada no aplicativo;
  • Notas da Comunidade, um sistema colaborativo de checagem de fatos;
  • Mudanças nas DMs, com limite em grupos no Twitter em 100 participantes.
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