LibTalks: Belém deve apostar em bicicletas e integrar transporte sustentável, defendem especialistas

Painelistas debateram desafios e soluções urbanas na Amazônia, como a transição energética da frota e a viabilidade do transporte hidroviário

Gabriel da Mota
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O LibTalks, projeto do Grupo Liberal, reuniu vozes de referência para debater a mobilidade urbana e os desafios urbanos na Amazônia, abordando impactos, oportunidades e transformações essenciais para o futuro da região. Sob o tema "Cidades Sustentáveis e Resilientes", o painel desta terça-feira (18) contou com a mediação de Ney Messias Jr., diretor de Entretenimento e Rádio Web do Grupo Liberal, e reuniu Andrea Cavalcanti, gerente executiva do Poder Legislativo da Confederação Nacional do Transporte (CNT); Marcos Daniel Souza, diretor do Departamento de Regulação da Mobilidade e Trânsito Urbano na Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades (MCID); e Paulo de Castro Ribeiro, professor da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Pará (FAU/UFPA).

Marcos dos Santos, do MCID, destacou que as cidades precisam ser pensadas com foco no transporte público e sustentável, de forma integrada, indo além da visão restrita ao deslocamento em si. O especialista ressaltou a importância de planejar a mobilidade para o cidadão.

"Quem está no transporte, não quer saber quem é o gestor, mas sim chegar ao seu destino, e é isso que a gente tem que oferecer. Precisamos pensar uma cidade orientada ao transporte público e sustentável, não ao transporte individual", disse.

image Marcos Daniel Souza, diretor do Departamento de Regulação da Mobilidade e Trânsito Urbano na Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana, do Ministério das Cidades (MCID) (Tarso Sarraf / O Liberal)

Andrea Cavalcanti, da CNT, enfatizou a importância de olhar para a transição energética e a mudança da matriz, ressaltando que é essencial considerar as particularidades de cada cidade, já que nenhuma realidade urbana é igual à outra.

"Quando a gente fala em mudança de matriz energética, como parar de usar petróleo, isso não é uma realidade absoluta para todas as cidades, por exemplo. A gente tem que olhar o perfil de cada cidade, o número daquela população; se ela tem capacidade, por exemplo, para gerar e receber a energia necessária para eletrificar uma frota. Se não, é melhor a gente usar um outro tipo de combustível, já que a descarbonização não está voltada única e exclusivamente para a energia elétrica", explicou.

Transição energética e desafios da frota

Ainda sobre a transição energética, Andrea Cavalcanti refletiu sobre os ônibus elétricos, cuja aquisição custa cerca de três vezes mais que a dos a diesel. A especialista afirmou que ainda se discute como garantir o cuidado das baterias, cuja eficiência inevitavelmente cai ao longo do tempo. Ela citou também o uso de combustíveis alternativos e os modelos de ônibus mais adequados para renovar a frota no Brasil.

"Um ônibus elétrico, por exemplo, chega a ser três vezes mais caro do que um ônibus a diesel, então é um valor considerável a ser aplicado numa renovação de frota. A gente tem, ainda, todo um processo de conhecimento desses veículos; no futuro, precisaremos cuidar das baterias também. A eficiência delas vai diminuindo ao longo do período de utilização do veículo; um cálculo que ainda está sendo feito", disse.

Pontuando que a responsabilidade pelo transporte urbano é uma prerrogativa municipal, Andreia acrescentou que a modelagem desses novos contratos de licitação tem sido flexível. "Os prefeitos já têm olhado para a renovação desses contratos, colocado nas suas licitações qual veículo querem, inclusive se deve ter ar-condicionado ou não, se metade da frota tem que ser elétrica ou não, se é possível usar biometano, por exemplo, que é uma possibilidade de algumas cidades", afirmou.

Hidroviário e o desafio do custo

O professor Paulo de Castro Ribeiro, da FAU/UFPA e também assessor técnico da Agência de Regulação e Controle de Serviços Públicos do Estado do Pará (Arcon/PA), abordou a viabilidade do transporte hidroviário, destacando que ele enfrenta o desafio do equilíbrio entre tempo de deslocamento e custo.

Paulo ressaltou que, embora o transporte hidroviário possa ser mais rápido, o alto custo limita seu uso amplo e dificulta a geração de demanda.

"Quando a gente fala em transporte urbano, nos deslocamentos diários, você tem duas variáveis que são as mais sensíveis para que o usuário faça a sua escolha modal: o tempo e o custo de deslocamento. E quando a gente traz isso para o transporte hidroviário, essas duas variáveis são fortemente antagônicas: para você ter um transporte hidroviário veloz, você tem um custo altíssimo, o que torna difícil a competitividade do hidroviário, a não ser que ele esteja operando em travessias", explicou, citando como exemplo as linhas para Cotijuba e Barcarena.

Ele complementou que a tentativa de fazer linhas como Icoaraci-Centro dificilmente competirá.

"Para que você tenha um transporte rápido, o custo do transporte vai ser muito elevado. E nós não temos uma demanda com poder aquisitivo para pagar esse transporte mais rápido que seria realmente mais confortável", disse.

Belém deve apostar em bicicletas

Paulo de Castro Ribeiro enfatizou que a verdadeira solução para a mobilidade urbana não está no transporte individual, e os aplicativos de transporte não contribuem para transformar a lógica da mobilidade.

"A solução da mobilidade urbana não passa pelo transporte individual. Se você quiser pensar em mobilidade urbana, tem que priorizar o transporte público, mobilidade ativa, caminhabilidade e bicicleta, principalmente. Uma cidade como Belém é fundamental, pois reúne duas condições fundamentais: é plana e pobre. Você tem que realmente difundir, valorizar e incentivar o uso", afirmou.

Ações do Ministério das Cidades

Concluindo o LibTalks, Marcos dos Santos destacou algumas das frentes em que o governo federal atua para transformar a mobilidade urbana no Brasil, citando que foram decisões muito assertivas do governo.

"A gente trabalhou muito para discutir Marco Legal [do Transporte Público Coletivo], fazer o Refrota [programa de Renovação de Frota do Transporte Público Coletivo Urbano] que já tem ônibus sendo entregues, e promover a bicicleta por meio do Bicicleta Brasil. Para resumir, vamos continuar o que estamos fazendo. Essa é a decisão assertiva que a gente tomou como governo", concluiu

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