Inflação hoje: como a alta de preços impacta gerações de formas distintas
Por que a inflação atinge de formas diferentes cada faixa etária? Analista do IBGE explica

Na Região Metropolitana de Belém, a prévia da inflação marcou 0,33% em abril, segundo dados do IPCA-15, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado foi pressionado principalmente pelo aumento nos preços dos alimentos e da educação. Mas os efeitos desse cenário não se distribuem igualmente entre os brasileiros. A depender da idade, o impacto da inflação muda de foco, e de peso.
A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2018, também do instituto, ajuda a entender por que cada faixa etária sente de forma diferente a alta nos preços. Jovens, adultos e idosos consomem produtos e serviços distintos e, por isso, enfrentam desafios particulares quando o custo de vida sobe.
“Em se tratando da idade, o momento da vida em que a pessoa está determina muito as suas necessidades”, explica Luiz Cláudio Martins, economista e analista do IBGE. “Existem necessidades que perpassam todas as faixas etárias, como educação e saúde, mas há outras que são específicas de determinada faixa etária.”
Juventude pressionada por transporte e alimentação
Daniel Santos, de 22 anos, é estudante universitário e mora de aluguel em Belém. Para ele, os maiores pesos no orçamento são transporte e alimentação. “Sinto que sim, (o custo de vida aumentou), e o que mais tem ‘pesado’ no meu bolso é a parte de transporte e alimentação, além de gastos não previstos que sempre acontecem e acabam desorganizando ainda mais a parte financeira”, conta.
Segundo a POF, jovens de 18 a 29 anos são os que mais sentem os reajustes no transporte público (alta de 3,11%), na alimentação fora de casa (3,87%) e no aluguel (8,43% em 12 meses). Para quem mora só, como Daniel, cada centavo faz diferença. “Pago 700 reais de aluguel. Não houve reajuste recente, e que bom!”
Para Daniel, os gastos com transporte, em especial, tem pesado no dia a dia. “Tenho usado mais transporte por aplicativo, considerando os lugares para os quais preciso me deslocar por conta das demandas da graduação e também porque a cidade está muito perigosa. Mas isso acaba gerando um aumento dos gastos no final do mês”, afirma.
Essa percepção é confirmada por Luiz Cláudio: “Um jovem de 18 a 24 anos que está na universidade tem uma demanda menor por medicamentos, exames e plano de saúde. Mas é uma faixa etária que se desloca muito, que utiliza o meio de transporte para estudo e entretenimento”.
Lazer e saídas com amigos foram os primeiros a sair do orçamento. “Meus gastos são mais concentrados no transporte e alimentação, então acabo realmente tendo que gastar nesse sentido. Mas coisas como sair e o lazer fora de casa, realmente não consigo tanto. Então sim, nesse sentido, tem um impacto significativo”, explica.
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Adultos no centro da engrenagem familiar
Para quem está entre os 30 e 59 anos, geralmente com filhos e muitas vezes sendo o provedor da casa, os gastos são mais amplos e variados. O grupo sente com mais intensidade os aumentos em escola, plano de saúde, supermercado e combustíveis.
Nos últimos 12 meses, o ensino fundamental subiu 8,44% e o médio, 8,20%. A gasolina aumentou 9,75%, e os alimentos para consumo em casa, 7,22%. Já os planos de saúde,um dos principais compromissos dessa faixa,ficaram 6,95% mais caros.
“Os adultos normalmente são provedores de uma família. Por isso, seus gastos são com alimentação, educação para os mais jovens e também transporte. Parte desses adultos possui veículos próprios, logo gastam com gasolina e impostos, e também arcam com plano de saúde para si e de outros membros da família”, contextualiza Luiz Cláudio.
Envelhecer custa caro
Se os jovens sentem no transporte e os adultos na escola dos filhos, os idosos enfrentam uma inflação mais cruel: a da saúde. Fátima Nylander, 72 anos, sente isso na pele. Pensionista, ela conta com a ajuda dos filhos para comprar os remédios diários, que muitas vezes ultrapassam o orçamento. “Tomo remédios que custam em média 200 reais ou até mais”conta.
Os dados do IPCA-15 confirmam a realidade vivida por Fátima. Produtos farmacêuticos subiram 5,43%, com destaque para antidiabéticos (+5,32%). Já serviços médicos e dentários aumentaram 9,14%, e exames laboratoriais, 4,43%.
“Os idosos precisam dessas medicações e desses serviços, pois muitos deles consomem remédios de forma contínua, principalmente para doenças crônicas, como pressão alta e diabetes”, explica Luiz Cláudio. “O aumento dos preços dos medicamentos pode acabar pesando no orçamento.”
Dona Fátima conta que, apesar dos altos custos, optou por um plano de saúde para garantir agilidade no atendimento. “Nosso dinheiro não aumenta, mas o preço dos remédios e do plano sim”, lamenta. Mesmo assim, ela busca manter um estilo de vida ativo, com caminhadas e dança, para reduzir a dependência de serviços médicos. “Isso me ajuda bastante a manter a saúde em dia.”
Um desafio para todos
Mesmo com perfis de consumo diferentes, saúde e educação são gastos essenciais para todas as famílias. E, segundo Luiz Cláudio, o envelhecimento da população brasileira tende a pressionar ainda mais os custos com saúde. “As famílias estão envelhecendo, então, nesse processo, há um gasto maior nas faixas etárias mais elevadas com itens de saúde.”
Outro fator que contribui para o aumento dos preços é o câmbio. “Parte dos insumos para a produção de medicamentos é importada. Se o dólar sobe, o preço final desses produtos também sobe”, afirma.
A inflação é a mesma, mas o impacto dela varia conforme a idade e o estilo de vida. Em comum, todos compartilham uma preocupação: fazer o dinheiro render até o fim do mês.
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