Inflação deixa até a xepa mais cara nas feiras de Belém
Consumidores que esperam fim da feira para comprar notam que descontos diminuíram

Conhecido como "xepa", o hábito de esperar o final da feira para conseguir verduras, legumes e frutas por preços mais baratos está cada vez mais difícil de ser praticado diante da inflação que acomete a economia brasileira.
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Na feira do Entroncamento, em Belém, onde as atividades encerram todos os dias às 13h, os feirantes contam que já viram dias melhores. Miraci Favacho trabalha há mais de 30 anos no local e afirma que a carestia afetou o poder de compra de todos os consumidores.
"Está tudo muito caro. Cenoura, batata, repolho. A cebola está abaixando. Todo mundo reclama, mesmo na xepa. Quem não pode levar dois, leva um. A gente dá desconto ainda. Pouco, mas tem. Para evitar guardar para o outro dia. Tem gente que não pode comprar nem pouco nem muito. E aí a gente dá. Às vezes a gente dá tudo que sobra, para não estragar. Assim quem precisa pode aproveitar. Muita gente procura", conta.
'Tudo caro'
O colega de trabalho dela Sidney Aleixo trabalha há 20 anos na feira e conta que nunca viu uma xepa tão magra. Segundo ele, o problema é que os hortifruti estão caros. "Não adianta a gente reclamar, pois infelizmente está tudo caro. A gente faz o que pode, mas ultimamente não tem dado para dar o desconto da xepa porque tentamos comprar no atacado. Aí dá para vender no outro dia. As folhas a gente coloca no gelo. Antigamente vendíamos barato, mas geral está caro na Ceasa", lamenta ele, ao lembrar que a maioria dos clientes não entendem os constantes aumentos.
Wilson Tomáz também é vendedor de legumes e conta que a inflação dificultou a vida de vendedores e clientes. "Aqui ainda acontece a xepa, mas como a gente compra caro a xepa fica mais cara. Eu sempre dou desconto para os fregueses se não, não vende nada. Quem chega depois leva mais barato, principalmente cheiro verde, alface e tomate", diz.
A dona de casa Luísa Angelim está desempregada e tem dependido de trabalhos informais para sustentar duas filhas e um neto. Ela conta que sempre aparece na feira após às 13h e consegue garantir o básico. "A gente tem que botar comida na mesa independente do preço, então quem pesquisa e tem paciência de sair andando até lá no final sai na vantagem. Às vezes tem doação também. Sou agradecida", conta.
Para Antônia Paixão, os descontos estão cada vez menores. Ela vai até a feira pelo menos duas vezes na semana, mas sente que já não vale mais tanto a pena quanto antes. "Antigamente você passava aqui com R$10 ou R$15 e voltava com a sacola pesada para casa. De um ano para cá tudo piorou. Vai ver quanto de tomate ou batata se compra com esse dinheiro. Quase nada. A gente tem que entender o lado dos feirantes, é claro. Mas pegar essa xepa aqui já foi mais barato, pode perguntar para quem for que vai falar a mesma coisa", diz.
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