Impactado pelo Rio Grande do Sul, trigo fica mais caro e padarias de Belém podem ter reajustes
Sindicato do setor não tem uma estimativa em números, mas empresário adianta que preços podem aumentar até 9% para o consumidor
Desde que o desastre ambiental teve início no Rio Grande do Sul, causando enchentes e inundações há semanas, setores econômicos acusaram possível alta de preços. Estava previsto que o estado gaúcho fosse responsável por 45,3% da produção nacional de trigo em 2024, com 4,4 milhões de toneladas, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). As enchentes, no entanto, puseram em dúvida essa previsão otimista e o plantio de trigo, que sazonalmente se inicia entre o final de maio e junho, pode ser afetado se as chuvas persistirem.
Esse impacto poderá ser sentido, como aponta o presidente do Sindicato das Indústrias de Panificação e Confeitaria do Pará (Sindipan-PA), André Carvalho. “As chuvas devem afetar o plantio de trigo, especialmente se elas se estenderem por um período prolongado. O plantio de trigo requer solo úmido, mas não encharcado, e as chuvas excessivas irão dificultar o acesso das máquinas ao campo, atrasando o plantio. Além disso, as chuvas em excesso podem levar à compactação do solo, afetando o desenvolvimento das raízes das plantas”, explica.
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É possível, segundo ele, que o trigo fique mais caro localmente, embora ainda não haja como estimar o percentual de reajuste que pode ocorrer. “Nas últimas semanas, desde que o cenário por lá começou, ainda não sentimos nenhum aumento, mas pode ser que isso mude, caso a situação continue da mesma forma”, avalia André. Os produtos que podem ser afetados, de acordo com o líder da categoria, são os derivados do trigo, como pães, bolos, massas e biscoitos. Ele não acredita, no entanto, que chegue a um estágio de escassez.
O aposentado Flávio Régis, de 67 anos, consome pão diariamente no "café da noite". Ele afirma que ainda não sentiu um grande impacto no preço, mas que tem acompanhado a situação das enchentes no Rio Grande do Sul e já espera por reajustes. "É bem provável, pois o Rio Grande do Sul é um grande produtor de trigo. E aí qualquer reajuste pesa, principalmente para nós que somos aposentados e temos um salário fixo”, diz.
Panificadora já teve alta
Em uma padaria da capital paraense, localizada no bairro do Reduto, já foi possível observar uma alta de 5% no custo do trigo nas últimas semanas. Segundo o proprietário, Bruno Morgado, não necessariamente isso tem a ver com a calamidade vivenciada no Rio Grande do Sul e que outros fatores podem ter impactado, mas que é esperado um reajuste ainda maior a curto prazo.
“A gente espera um reajuste por dois motivos: houve a perda do trigo lá, que, apesar de ser pouco, gera uma especulação no mercado; e porque os moinhos pararam de funcionar. O reajuste que tivemos já foi depois das chuvas e estimo que pode chegar até 15%, impactando em tudo na padaria”, adianta.
Os consumidores, porém, não pagarão todo esse percentual a mais. Bruno espera que apenas 9% sejam repassados aos clientes, podendo haver uma pequena alta a cada mês, para não repassar tudo de uma vez.
Segundo o empresário, a situação do Rio Grande do Sul acelera esse processo de aumento de preços, mas ele já havia notado um reajuste nos custos com soja, leite, queijo e até café, que, de acordo com ele, subiu 20% em três semanas. “Pode não ser só o trigo. De uma forma geral, a pessoa que faz um lanche na padaria, compra pão com café, deve ser impactada”.
Danos imensuráveis
Ainda não é possível mensurar os danos a serem enfrentados pela indústria do trigo, como esclarece o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa. No entanto, o representante menciona perdas de equipamentos utilizados.
“Dos 40 moinhos de trigo no rio grande do sul, mais de 30 foram afetados por essa tragédia que ocorreu lá, porque as máquinas estão no térreo e os silos foram danificados, alguns foram inundados e se perdeu trigo estocado, esse é o balanço concreto que podemos fazer hoje, sobre os estragos causados pela inundação”.
Enquanto a água não desce por completo, Rubens destaca a expectativa de impactos menores para a cultura do trigo, que ainda não começou seu período de plantio, com previsão para iniciar a partir do próximo mês.
“Em algumas regiões que foram menos afetadas não vai haver problema, em outras regiões de plantio em que houve inundação a gente precisa ver como é que vai estar a terra, se vai estar encharcado, porque é impossível você fazer uma avaliação hoje, mas de qualquer maneira a produção do trigo no Rio Grande do Sul, não foi afetada”, afirma.
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