Emplacamentos de veículos crescem 12% no Pará no primeiro semestre
Estado teve desempenho acima da média nacional; especialistas apontam influência do IPI, crédito mais acessível e melhora no mercado de trabalho

O mercado de veículos novos segue em alta no Pará. Entre janeiro e junho de 2025, foram emplacadas 91.106 unidades, segundo dados divulgados no início de julho (3) pelo Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Pará e Amapá (SINCODIV), com base em informações da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). O número representa um crescimento de 12,02% em comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 81.333 veículos.
O crescimento no estado foi quase o dobro da média nacional (6,99%) e está alinhado com o desempenho da Região Norte (12,18%). Só entre automóveis e comerciais leves, foram 18.682 emplacamentos, um avanço de 4,99% em relação a 2024. Os automóveis responderam por 12.375 unidades, enquanto os comerciais leves somaram 6.307.
Apesar da leve retração em junho na comparação com maio, o mês encerrou com mais de 3,2 mil carros emplacados no estado — número 4,36% maior que o do mesmo mês do ano anterior.
Na Eldorado Chevrolet, concessionária localizada na avenida Generalíssimo Deodoro, em Belém, o primeiro semestre foi considerado muito positivo. “Crescemos cerca de 30% comparado a 2024, muito motivados pelos lançamentos que a montadora trouxe para este ano”, destaca Renan Policarpo, gerente geral da unidade.
Segundo ele, a recente redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) — parte do Programa Nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover) — teve impacto direto no volume de vendas. “Houve um aumento na procura e a montadora aproveitou o momento para ampliar os descontos. Os preços estão mais atrativos que no início do ano.”
Policarpo aponta ainda mudanças no perfil do consumidor. “Percebemos mais jovens optando por seminovos, enquanto outros preferem trocar um seminovo por um modelo 0 km, aproveitando os incentivos atuais.”
Cenário econômico também impulsiona o mercado
Além dos fatores comerciais, o bom desempenho do setor também está relacionado ao cenário macroeconômico do país. Para o economista Luiz Cláudio Martins, fatores como o aumento do emprego formal, a melhora na renda e a percepção de estabilidade econômica ajudam a explicar o avanço nos emplacamentos registrados no Pará no primeiro semestre de 2025.
“Estamos tendo uma baixa na taxa de desocupação já há algum tempo. O mercado de trabalho está aquecido, com mais pessoas com carteira assinada e, em muitos casos, com salários melhores. Isso permite um planejamento de médio e longo prazo, o que abre espaço para a compra de bens mais caros, como um carro”, analisa.
Segundo ele, a decisão de adquirir um veículo envolve não apenas a situação financeira individual, mas também a forma como o consumidor enxerga o momento econômico do país. “Se a pessoa percebe que a economia está bem e acredita que vai continuar assim ou até melhorar nos próximos meses, ela se sente mais encorajada a assumir parcelas, financiamentos e compromissos de longo prazo”, explica.
Martins também destaca, em consonância com o gerente da concessionária Eldorado, a importância da redução do IPI, anunciada pelo Governo Federal em julho (10/07). A medida integra o Programa Nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), lançado no ano passado, que visa à descarbonização da frota automotiva do país por meio de incentivos fiscais, especialmente em relação às alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Para ter direito ao IPI zero, o carro sustentável deve atender a quatro requisitos: emitir menos de 83 gramas de gás carbônico (CO₂) por quilômetro, conter mais de 80% de materiais recicláveis, ser fabricado no Brasil (com etapas como soldagem, pintura, fabricação do motor e montagem) e se enquadrar na categoria de carro compacto, o chamado veículo de entrada.
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Aquisição representa mais do que um bem material
Esse movimento de mercado encontra eco em histórias como a de Hisabelle Batista, de 27 anos, moradora de Belém, que viu no segundo semestre de 2024 a oportunidade de realizar um plano antigo: ter seu primeiro carro novo. A decisão veio após meses de pesquisa, planejamento financeiro e amadurecimento pessoal. “Minha renda aumentou, meu padrão de vida também. Me planejei financeiramente e consegui pôr em prática essa meta antiga”, conta.
A jovem chegou a cogitar adquirir um seminovo, mas a experiência de outros consumidores pesou na balança. “Os algoritmos do meu celular me mostravam muitos anúncios de lojas de seminovos. Mas ao ler os comentários nas páginas, sempre existia algum ponto negativo. O custo-benefício me levou a optar por um carro novo, 0 km.”
O processo durou cerca de seis meses e envolveu mais do que a escolha de modelo ou cor. Hisabelle traçou seu perfil de uso, comparou propostas de financiamento em várias concessionárias e só decidiu após encontrar a opção que cabia no orçamento. “O que mais demorou foi levantar o valor da entrada”, revela. Ela também aponta que, apesar das propagandas, poucas condições especiais realmente se mostraram vantajosas: “A maioria é meramente ilusória.”
Resposta à precariedade do transporte público
A motivação de Hisabelle vai além da vontade de ter um bem material. Para ela, o carro representa segurança, autonomia e, acima de tudo, dignidade.
“Realmente os carros estão muito caros. Mas, infelizmente, é uma necessidade, principalmente devido à péssima mobilidade urbana da nossa capital, Belém, onde o transporte público é precário em comparação a outras capitais brasileiras”, desabafa.
A jovem relata que o transporte coletivo ineficiente, com longas esperas em paradas sucateadas e ônibus superlotados, contribuiu fortemente para a decisão. “Hoje consigo ir e vir com mais segurança. O percurso para qualquer lugar se tornou menos caótico, menos estressante, mais otimizado.”
Conquista com esforço e superação de obstáculos
Apesar da conquista, ela reconhece que o caminho não foi fácil e que, mesmo com estabilidade, adquirir um veículo no Brasil ainda é um grande desafio. “A cada ano que passa, as exigências dos bancos aumentam. Precisa estar com o nome limpo, ter renda fixa e uma entrada significativa para que as parcelas não fiquem muito altas.”
Mais do que uma simples aquisição, o carro para Hisabelle é símbolo de liberdade e do direito de se locomover com dignidade. “É não ter que passar horas em paradas no sol ou na chuva, ou ser ignorada por motoristas de aplicativo. É poder ir e vir por conta própria, com mais tranquilidade.”
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