Em meio a tarifaço, China é principal destino da soja paraense, mas setor têm desafios financeiros
Com a China como principal destino, o Pará se consolida como grande exportador de soja, mas a baixa nos preços e a guerra tarifária com os EUA dificultam os lucros dos produtores.

O Pará, um dos maiores exportadores de soja do Brasil, tem visto sua produção ganhar espaço no comércio global, especialmente com a crescente demanda da China. No entanto, a guerra tarifária entre Estados Unidos e China, que beneficiou o grão brasileiro, não tem se traduzido em aumento significativo nos preços, o que tem gerado dificuldades financeiras para os produtores do estado. O complexo soja representou 42,66% do total exportado pelo agronegócio paraense no primeiro semestre de 2025, mas o preço do grão segue em baixa, afetando a rentabilidade dos agricultores.
China: O principal destino da soja paraense
Nos primeiros seis meses de 2025, o Pará exportou 2,26 milhões de toneladas de produtos do complexo soja, com destaque para os grãos, que representaram a maior parte das exportações. Os dados são do boletim informativo da exportação de agronegócio paraense da Sedap (Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuária e da Pesca).
O principal destino dessas vendas foi a China, que comprou US$ 472,18 milhões em soja paraense, o que corresponde a 53,81% do valor exportado. A nação asiática segue como o maior mercado para a soja brasileira.
Vanderlei Ataíde, presidente da Aprosoja-PA (Associação dos Produtores de Soja, Milho e Arroz do Pará), destacou que, apesar do aumento da demanda chinesa, os produtores não têm experimentado uma melhora nos preços.
"A nossa soja sempre foi direcionada à China, e já há algum tempo, a nossa produção não mira os Estados Unidos. A China continua sendo o principal comprador, mas não estamos vendo o impacto financeiro dessa maior demanda", explica Ataíde.
Retração no valor exportado e desafios financeiros
Embora a soja ainda seja o produto agrícola mais exportado pelo Pará, os números do primeiro semestre de 2025 mostram uma queda de 18% no valor exportado em comparação com o mesmo período do ano passado.
De US$ 1,07 bilhão, o total exportado caiu para US$ 877,51 milhões. O volume, embora ligeiramente inferior, também indicou uma desaceleração, o que sugere uma pressão nos preços do grão.
"Estamos enfrentando uma grande pressão. O custo de produção está muito alto, mas os preços da soja continuam baixos. Não está fácil para o produtor", diz Ataíde, ressaltando que o mercado de soja no Brasil como um todo tem se mantido estagnado, sem grandes variações de preço.
Expansão geográfica das exportações
Além da China, outros destinos importantes para a soja paraense incluem a Espanha, com US$ 163,80 milhões (18,67%), e o México, com US$ 48,85 milhões (5,57%). A Rússia também aparece como comprador relevante, com US$ 29,75 milhões em exportações de soja.
De acordo com a Sedap, ao todo, 28 países receberam soja do Pará no primeiro semestre de 2025, o que evidencia a capacidade de expansão do estado para diferentes mercados internacionais.
No entanto, para Ataíde, apesar da diversidade de mercados, a falta de ganhos financeiros é um desafio persistente.
"Essa guerra tarifária com os EUA está beneficiando o Brasil no sentido de que mais soja está sendo comprada, mas não estamos conseguindo ajustar os preços de forma que cubram o alto custo de produção", lamenta o presidente da Aprosoja-PA.
O impacto da guerra tarifária com os EUA
A guerra comercial entre Estados Unidos e China, que começou com a imposição de tarifas pelo governo americano e a retaliação chinesa, acabou beneficiando o Brasil, já que a China passou a importar mais soja brasileira.
A ASA (American Soybean Association), principal entidade de produtores de soja dos Estados Unidos, enviou um apelo ao presidente Donald Trump, informando que a soja brasileira tem substituído a soja americana nas compras da China. A razão disso é a tarifa de 20% imposta pela China sobre a soja americana, o que tornou o produto brasileiro mais competitivo.
De acordo com a associação, a China foi responsável, em média, por 61% das importações globais de soja nos últimos cinco anos e tem optado por não comprar soja dos EUA nos próximos meses, já tendo feito contratos com o Brasil para garantir os volumes necessários.
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No entanto, esse movimento não se traduziu em uma valorização do produto para os produtores do Pará, que continuam a enfrentar desafios econômicos devido à estagnação dos preços.
"A China está comprando mais, mas o mercado no Brasil inteiro não está reagindo da maneira que a gente esperava", afirma Ataíde. Para ele, o preço da soja tem se mantido baixo, o que coloca em risco a sustentabilidade financeira dos produtores, que enfrentam custos cada vez mais altos para manter a produção.
Para Ataíde, “o agro está passando um sufoco, e a conta não está fechando", destacando que, mesmo com a demanda crescente da China, a realidade do campo continua difícil para os produtores paraenses de soja.
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