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Quanto custa a live: patrocínios seletivos acendem debate sobre remuneração no entretenimento

De cotas milionárias em transmissões até os esnobados pelas grandes marcas, pandemia escancarou o problema do fluxo do dinheiro na indústria da música

Lucas Costa
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Com um retorno gradativo da vida noturna e shows de música ao vivo presenciais, as lives que foram a saída de muitos artistas durante a pandemia, sugerem um importante caminho de questionamentos, isto porque escancararam debates sobre remuneração na indústria do entretenimento.

Quando Luiz Carlos da Vila (1948-2008) disse que “o show tem que continuar”, certamente não se referiu a uma situação de pandemia, onde o show não pôde parar para que pessoas continuassem vivas. Desde os primeiros dias de isolamento social, artistas e suas equipes, que tiravam da noite o sustento da família, se viram totalmente desamparados. Dali já era possível mencionar que na arte, a infecção pela covid-19 duraria bem mais que 15 dias.

Não é novidade para ninguém que artistas de grande escalão - aqueles que lotam estádios, são capazes de garantir em um único show, o valor equivalente a renda que possibilitaria o sustento de algumas dezenas de famílias de classe baixa brasileira, por um certo tempo. São aqueles que movimentam milhões em apenas um mês de trabalho, fazendo com que uma cadeia econômica inteira gire em torno da música.

Em maio, no auge da pandemia, o sertanejo Gusttavo Lima, por exemplo, teria recebido R$ 3 milhões por um show virtual. Segundo informação divulgada pelo colunista Leo Dias à época, as cotas de patrocínio para as lives do cantor variavam entre R$ 400 mil e R$ 1 milhão.

Mas conseguir o mínimo para se sustentar por meio da própria arte, é um sonho que acaba nunca se tornando realidade para um número muito grande de artistas por todo o país, e não são apenas os pequenos, como aqueles que tocam nos barzinhos. A linha dos grandes patrocínios é seletiva, e a dureza desta realidade foi posta em campo quando o patrocínio foi, basicamente, a via principal de remuneração artística.

Em outubro, durante uma de suas entrevistas coletivas sobre a Varanda de Nazaré de 2020, Fafá de Belém voltou a reclamar sobre a falta de patrocínio a artistas idosos durante a pandemia, tema sobre o qual já havia falado ao Jornal O Globo em julho.

“Quando a pandemia veio, as grandes cervejarias entraram com milhões e fecharam com todos os sertanejos. Ok, maravilha, mas não deu dinheiro para mais ninguém. E o público dos sertanejos, que eu tenho admiração por muitos deles, falava, como o pessoal do funk, para um público muito jovem”, contou Fafá na coletiva. 

“A minha primeira live foi na unha, não tinha patrocínio de nada nem de ninguém, mas quem estava em casa era o público que tem, como eu, mais de 60 anos. E aí eu botei a boca no trombone, porque quem sempre teve e sempre faturou muito, o pessoal do negócio da música; e tudo bem, cada um tem sua opção, mas para o pessoal do negócio da música o dinheiro caiu do céu, e para nós foi quase humilhante bater na porta e não ter nem resposta”, destacou ela.

Fafá relembrou ainda casos de artistas de grande relevância para a história da música brasileira, que sofreram duramente com a pandemia e a falta de recursos, como o compositor Aldir Blanc, que foi internado em abril com suspeita de covid-19 em um hospital público do Rio de Janeiro, pois não tinha plano de saúde. Aldir faleceu no mês seguinte. Outro caso foi o da cantora e compositora Angela Ro Ro, que no mês de junho chegou a divulgar o número de sua conta bancária pedindo doações de R$ 10, pois passava por dificuldades financeiras.

“O cara que embala o Brasil na travessia mais dura da ditadura com suas músicas e canções, um cara que fez ‘O Bêbado e a Equilibrista’, não tinha um plano de saúde. Enquanto isso, tinha pessoas fazendo xixi no palco, patrocinadas por companhias de cerveja”, reclamou Fafá.

Ironia ou não, Aldir Blanc viria dar nome à lei que prevê apoio emergencial ao setor da cultura, auxílio para o qual artistas só puderam começar a se inscrever em agosto. Além dos patrocínios seletivos de grandes marcas, é importante lembrar também dos artistas de projeção menor, mas que também tiveram sua renda duramente afetada com a pandemia.

Para estes, o patrocínio precisou vir como uma espécie de malabarismo. A banda Fruto Sensual, por exemplo, que chegava a fazer três shows em uma única noite antes do isolamento social, usou sua influência para atrair patrocinadores locais, de negócios menores. Banners de divulgação das apresentações nas redes sociais, passaram a ir acompanhados de marcas de restaurantes ou mercados de bairro, por exemplo.

Em meio a este cenário, é importante destacar o papel que editais públicos de incentivo tiveram. Mas é necessário levar em consideração que esta forma de remuneração nem sempre possui caminhos acessíveis. Sobre outros valores que circularam nas lives, também houve as doações nas populares “lives solidárias” - feitas até mesmo por artistas que não tinham patrocínio para pagar a própria estrutura de uma transmissão; mas o fizeram por solidariedade.

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